Capítulo 1 - Chegando na Irlanda

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"Como tirar pressão do ouvido?", pesquiso no meu celular. Acabei de descer do meu voô em Dublin e já preciso pegar um trem para Cork, onde irei morar. A internet me responde, "Respire fundo e aperte o nariz, com a boca fechada,...". Sigo as instruções como indicado e torço para que dê certo. Ufa, parece que a sensação de estar com o ouvido tampado passou. Corro para o lado de fora e chamo um táxi apressadamente, para não correr o risco de perder meu transporte.

Chegando em Cork, vejo que a cidade é bem diversificada, combinando o cenário urbano com a beleza natural irlandesa. Minha recém-comprada casa fica numa distância razoável do centro, não muito longe do Rio Lee e do coração da cidade. A casa possui 3 quartos, 2 banheiros e um largo quintal. Sei disso pelas fotos, pois nunca vi a casa pessoalmente.

O melhor amigo do meu pai me ajudou com todo o trâmite legal e burocrático, afinal, ele é um dos melhores advogados que há e possui muitos contatos ao redor do globo. A reforma foi toda combinada de maneira virtual, o projeto, a compra dos móveis e a decoração. Tudo bancado com a herança que meu pai havia deixado para mim. Optei por uma mistura de cores claras e vibrantes, além de espaços abertos e fluidos. O quintal era bem grande e verde, com algumas árvores espalhadas pela grama, no futuro, poderia até pensar em fazer uma piscina ou ofurô.

Chegando na rua da minha nova casa, pensei o quanto minha mãe ficaria feliz de ver isso com seus próprios olhos. Apesar de não demonstrar para ninguém, claro que o fato de ser órfã me abala um pouco. Quando vivos, meus pais se conheceram no local de trabalho da minha mãe. Ela era faxineira e trabalhava dia e noite em um hotel famoso internacionalmente chamado Riviera Hotel, localizado na costa leste do Brasil. Um dia, minha mãe estava fazendo o serviço de quarto de um hóspede opulente e acabou atraindo o olhar do homem. Ele era conhecido como Lucas Montgomery, que de tempos em tempos se hospedava no Riviera.

Ele nunca havia sido agraciado com a visão de Jacinta Domingos, uma mulher belíssima, com pernas longas e alta estatura, pele radiante e um olhar incomparável. Lucas também impressionou Jacinta, e assim, se apaixonaram e eu nasci. Minha mãe "roubou" meu nome de uma revista que comentava sobre os pontos turísticos e paisagens irlandesas, escrito por uma autora brasileira. Uma das poucas coisas que ela deixou para mim foi essa revista; minha mãe não era uma mulher com muitas posses, gostava de viver minimalisticamente.

Depois que ambos faleceram, vivi 2 anos em Los Angeles, até decidir que era hora de mudar de ares. A vida trabalhando como modelo, apesar de ter seus privilégios, era bem agitada e envolvia muitas viagens e conexões. Não basta ser bonita, precisa ter charme e simpatia para conquistar seu espaço na indústria. Senti que precisava de um tempo, e sem ter ideia para onde ir, decidi que visitaria os belos cenários da revista que inspirou meu nome.

Ao abrir as portas do meu novo lar, me impressiono com as proporções, o lugar era bem grande e exatamente como eu havia imaginado, tudo estava perfeito. Ou quase perfeito, eu não tinha com quem compartilhar esse espaço. Era nova no país, sem amigos e sem família, estava sozinha, não que eu não tivesse me acostumado.

No Limite da Tentação - Cillian MurphyOnde histórias criam vida. Descubra agora