Capítulo 3 - Primeiras impressões

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Após alguns dias me acostumando com o fuso horário, a comida e a cultura local, Cork já começa a me parecer mais aconchegante. Durante o fim de semana, dormi até tarde, visitei alguns pontos turísticos e fiz algumas compras. "Segunda-feira, eu acordo mais cedo...", lembro de pensar no meu domingo preguiçoso. Bom, a segunda tinha chegado e eu não tinha mais desculpas. Desligo meu alarme que toca às 7 horas da manhã e vou tomar um banho antes de sair de casa.

Algo que eu adorava sobre viver no Brasil era que não importava que horas eu acordasse, sempre conseguia ouvir os pássaros cantando do lado de fora de casa. Apesar de ter morado na capital na minha infância, meus pais decidiram que eu teria uma adolescência mais tranquila em uma cidade pacata, nem tão grande, nem tão pequena, com as comodidades da modernidade cercados por mais natureza que as selvas de pedra dos grandes centros.

Tentando me conectar com esses aspectos que eu gostava e já estava sentindo falta do meu país, decido dar uma volta no parque. Opto pelo Parque Fitzgerald que beira o rio, é cheio de árvores e possui até estátuas e fontes, com bastante espaço para andar e absorver todos os cenários belíssimos. Coloco uma roupa casual, meus óculos de sol e parto.

No caminho, sinto meus olhos pesarem e decido parar em uma cafeteria antes de ir para o parque. Chegando lá, peço ao barista:

— Um Iced Caramel Macchiato, por favor. E ah! Com extra de caramelo, para viagem — gosto do meu café doce.

Pago e me dirijo ao canto direito da cafeteria, para esperar meu pedido. Noto que lá já está um homem também aguardando sua bebida. Olho rapidamente e não presto muita atenção nele, já que está vestindo um boné.

— Esther? — uma voz masculina me indaga.

Me viro para o lado para ver quem me chamou e dou de cara com Cillian.

— Ah, oi! Cillian, né?

— Isso, nos conhecemos no bar, lembra? — ele me responde tirando os fones de ouvido.

— Claro que lembro, seu irmão Charles estava tentando conseguir meu número — dou uma risada fraca. O cheiro do perfume dele chega até mim, é meio amadeirado e ao mesmo tempo fresco, muito bom.

— Adorei o fora sutil que você deu nele, ele é muito mal acostumado pois sempre consegue o que quer com a mulherada, você baixou a bola dele um pouco. Vai ser mais fácil conviver com o ego dele por mais alguns dias — ele também ri.

— Bom, não foi proposital, mas de nada, foi um prazer ajudar — falo com simpatia, encarando-o nos seus belos olhos azuis.

— CAPPUCCINO! — o atendente grita do balcão segurando um copo.

— Esse é o meu, já volto — e vai pegar o café.

Quando ele anda até a bancada, não posso deixar de medir ele com os olhos. Ele não é muito alto, deve ter minha altura, entre 1,70 e 1,75m. Por baixo da blusa lisa preta, consigo ver que seus braços são fortes e levemente definidos. Ele malha e é bem cuidado, tem um estilo simples e minimalista que o deixa ainda mais atraente. Ele volta com o café na mão e dá um gole.

— Aqui, o seu também estava pronto — e me oferece meu macchiato.

— Obrigada — que atencioso, penso.

— E agora? Quais são seus planos? — ele indaga.

— Pensei em dar uma volta no parque, topa? — convido-o.

— Parece que tivemos o mesmo pensamento... vamos — ele aperta o passo e abre a porta da cafeteria, permitindo que eu passe em sua frente.

— Ei — brinco ao sair primeiro — você é o irlandês, você quem tem que me guiar.

— Certo, certo — ele joga as mãos para o alto como se rendesse — Eu vou na frente.

E assim, vamos andando até o parque juntos, apreciando a paisagem e a brisa que bate em nosso rosto. Chegando lá, uma das primeiras coisas que escuto é o cantar dos pássaros.

— Você já reparou como os pássaros voam livremente? — ele pergunta olhando para cima com um olhar sonhador, de quem está viajando nos pensamentos.

— Sim, é como se não tivessem preocupações no mundo. Eu sempre me perguntei como seria voar assim — digo.

— Para onde você iria se pudesse voar, Esther?

— Depende. Qualquer lugar é mágico quando se está na companhia certa — respondo olhando para ele, tentando deixar uma boa margem de interpretação — Se eu pudesse voar, você viria de carona comigo?

— Bora! Seja lá para onde for, amo viajar, com certeza eu ia curtir. Só promete que você não vai me deixar cair — ele fala em um tom brincalhão, talvez não entendendo que eu queria flertar com ele.

— Prometo segurar sua mão bem firme — falo, dando uma piscadinha, totalmente ignorada pela minha companhia.

— Tá vendo aquele pássaro ali? — ele muda de assunto — É um Estorninho, super comum na Irlanda, ele é o responsável dessa gritaria toda, são pássaros bem barulhentos.

— Que lindo! Ainda não conhecia esse. Acho que meu preferido é o Canário-da-terra, bem brasileiro, e da minha cor preferida. Eu amo animais que voam em geral, tenho até uma tatuagem de abelha.

— Que demais, eu nunca fiz tatuagem e acho que agora já estou velho demais para isso... — reviro os olhos com sua fala, não há idade certa para começar a se tatuar e o Cillian aparentava ter não muito mais do que 30 anos.

— Para tudo tem sua primeira vez... — retruco em um tom sedutor. No começo da nossa conversa, tentei evitar ser óbvia, mas um ou dois olhares de pura luxúria escaparam dos meus olhos. Só que agora, eu já não consigo mais os controlar, e eles se tornaram constantes.

Sentamos em um dos bancos para descansar as pernas, de longe conseguimos ouvir a fonte jorrar água, o que me acalma.

— O que mais você gosta? — ele me questiona curiosamente.

— Amo a música, principalmente dançar ao som dela.

— Eu também. Tenho um certo fascínio pela música, até tentei uma carreira como cantor quando era mais jovem. Pode parecer que não, mas ouço um pouco de tudo. Desde pop até r&b — ele ri — Eu sei, eu sei, nada típico de um cara de 40 anos.

Pera, o que ele disse?

— Oi?

— O que foi?

— Quantos anos você disse que tem?

— Quarenta... — ele fala sério, mas eu penso que aquilo só pode ser brincadeira.

— Uau, você... parece bem mais novo — comento, ainda um pouco chocada.

— Pois é, e você?

— Tenho 20.

— Sério? Puxa... Você ainda não viveu nada — os olhos dele perdem um pouco do brilho e seu sorriso diminui.

— Vivi mais do que você imaginaria, desde meus 18 anos sou completamente independente e responsável por mim mesma — tento me defender.

— Poiséééé — ele assobia e balança os pés, pensando em como mudar de assunto — Aliás, acho que nos veremos em breve, né? A Gabie, namorada do Josh, disse que iria te chamar para uma noite de karaokê, ela te mandou mensagem?

— Mandou sim, você vai me ver lá — sorrio, meio sem graça.

— Combinado, te vejo lá então, melhor eu ir indo. Tchau!

— Até... — aceno enquanto ele se afasta de mim.

Caramba, não estava esperando essa novidade. Será que vale a pena eu investir no Cillian? Ele parecia ter perdido o interesse no momento que descobriu nossa diferença de idade, e para ser sincera, também não sei se devo continuar com os flertes.

Não ligo muito para uma diferença pequena, mas 20 anos são bastante coisa... no final das contas, nós temos diversas coisas em comum e eu adorei passar tempo com ele. Preciso manter a mente aberta e descobrir mais sobre ele antes de me decidir.

No Limite da Tentação - Cillian MurphyOnde histórias criam vida. Descubra agora