20 | Floresta

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Jimin

1

Quando eu percebi que era alguém traído e amado das maneiras mais estranhas, senti uma terrível sensação tomar forma dentro de mim, agarrando meu peito como se fosse uma doença incurável. Como uma bomba, um estouro óbvio. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, tudo ao meu redor seria estraçalhado... inclusive eu.

Pensei que, ao chegar esse momento, viria a me arrepender amargamente. Passaria a pensar constantemente na vida que tinha antes de destruir, ansiando voltar atrás dos meus atos, para aqueles dias em que eu me sentia um estranho no meu próprio corpo, vivendo na minha própria vida. Como um pássaro que, mesmo diante de um céu vasto, volta sempre para a gaiola.

Mas mesmo que eu não soubesse o quanto o universo era infinito, eu sabia a proporção do significado infinito.

— Eu não quero olhar para você — meu pai havia dito, como se eu fosse tão mal quanto algo contagioso.

Poucos minutos após Jungkook sair, ele havia agarrado meu braço, me arrastando para algum canto. Algum lugar em que eu não estivesse lá para lembrá-lo de que sou seu filho.

— Me solta! — Gritei, tentando me desvencilhar do seu aperto doloroso.

Seughun apertou os dentes.

— Eu disse a você, Park Jimin — ele proferiu, como se cuspisse meu nome. — A próxima decepção que me causasse, te mandaria para a Coreia no dia seguinte!

— Eu prefiro que me mate!

Meu pai me soltou, dava para enxergar as marcas dos seus dedos no meu pulso.

— Você é uma vergonha para esta família.

Me virei em direção ao armário, exausto das lágrimas que já não mais caíam. Tudo o que restava dentro de mim era pura raiva. Raiva daquele homem, daquela vida, não mais de quem eu sou.

Agarrei a mala no topo do guarda-roupa e a arremessei ao chão. O estrondo ecoou, o deixando atônito perante minha atitude. Assim como Noah Allan, que havia matado aquele garoto de dezessete anos, agora Park Seughun havia matado seu único filho.

— Para onde pensa que vai?

— Para longe de você — eu respondi, decidido. Abrindo o armário e atirando todas as roupas na cama.

Ele soltou um riso de escárnio, desdenhando de mim.

— Para a casa daquele moleque?

— Ele é meu namorado — repliquei, abrindo a mala e enfiando tudo dentro. — Eu não preciso que você me aceite mais, pai! Eu só quero ir para bem longe de você!

Mordi os lábios, buscando alguma via de dor. Alguma dor que fosse equiparável àquela sensação corrosiva dentro de mim. Respirar doía, viver dentro de mim era um terrível incômodo. Me sentia um intruso, alguém que estava brincando de ser eu. Um impostor. Tragédia. Estrago. Doença.

Em algum momento, eu estava abafando um grito rouco enquanto descia às escadas perante todos os empregados da minha casa. A partir dali, antiga casa. Eu saí sabendo que nunca mais voltaria.

— Você vai passar fome! — Meu pai começou a me perseguir pelo pomar enquanto eu arrastava a bagagem. Algo em sua voz, uma leve nuance em seu tom, fazia parecer que ele estava desesperado.

Não olhei para trás.

Abri o porta-malas de um dos carros da garagem, fechando em um estrondo.

— A sua mãe... — meu pai tinha proferido. Raiva, tristeza, decepção... Ele parecia indeciso sobre o que sentir.

REFLEXOS • jikook (1988)Onde histórias criam vida. Descubra agora