7 | Incandescente

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Jungkook baixou o vidro arranhado do carro verde metálico, talvez para confirmar que eu estava mesmo ali. O oceano azul-índigo que seus olhos roubaram, se lançaram em meu rumo, me fazendo sorrir largamente. As maçãs do meu rosto, sem dúvida, estavam mais cheias e rubras, conter a minha empolgação era uma missão impossível. Não com o dono dos meus devaneios bem ali, na minha frente.

— Vim com um amigo. E você? — Indaguei.

Ele sorriu, com seus dentinhos de coelho. Depois passou a língua pela bochecha, e eu segurei mais um riso bobo. Será que ele percebia que tinha essa mania? Pelo menos, o quão irresistível ele ficava agindo assim?

— Vim deixar um amigo meu. Ele trabalha aqui — explicou; então, retirou a chave da ignição. — Vou sair do carro, espera aí.

E eu assenti prontamente.

Taehyung já havia adentrado o bar; pela agitação no hall, dava para perceber que a aclamada apresentação clássica ainda não tinha dado às caras. Todo o Queens fervilhava de atrações quando o relógio estava prestes a virar, e Jungkook se tornou minha aclamação principal, o tal de jazz que me aguardasse.

— Você foi embora mais cedo pela manhã — dei início a um diálogo trivial, caminhamos até depois da calçada e nos aconchegamos na parede de tijolos do bar, onde pessoas em roupas glamurosas fumavam cigarros em anéis de suporte. — Quando voltei da universidade, você não estava mais lá.

Jungkook encostou um pé no muro, cruzou os braços e encarou o meu rosto. Acho que eu estava a ponto de fumaçar de tão quente naquela hora.

— Meu pai foi liberado mais cedo do trabalho.

— A próxima ida sua, será a última — eu falei mais para mim, do que para ele. O ar melancólico que sombreou meu rosto era sentido há milhas, eu não fazia questão de esconder a minha decepção. Não era Seughun na minha frente, afinal. Com Jungkook, eu me sentia transparente como água. — Estou feliz por termos nos encontrado aqui.

Jungkook soltou um riso nasal, sem traços de ironia. Ele parecia não ter confiança nas minhas palavras, me perguntei por qual motivo ele não se sentia convencido. Então lembrei que ele podia ser devagar para algumas questões.

— Feliz? — Ele indagou, retoricamente.

Mesmo assim, concordei.

— Você é alguém agradável de se estar.

Uau — ele sorriu ainda mais, fazendo meu estômago derreter. Seu nariz se franzia quando sua reação era genuína, seus dentes da frente ficavam evidentes de um jeito quase que ingênuo, desmanchando por inteiro a sua pinta de mal-encarado. — Mesmo depois de eu ter julgado você como mauricinho?

Mais uma vez, assenti.

Era impressão minha ou Jungkook parecia nervoso?

Ele pigarreou, remexeu nos bolsos da jaqueta e tirou uma carteira de Malboro. Havia um derradeiro cigarro lá dentro, ele tentou driblar a ventania fresca do prelúdio da madrugada quando tentou riscar a chama no isqueiro metálico.

— Eu ajudo!

Me aproximei sem raciocinar devidamente, fazendo uma concha com a mão próximo a sua boca. O que eu estava fazendo?! Era tarde demais para arrependimentos.

Jungkook puxou a fumaça, queimando a ponta do cigarro com a minha assistência inesperada. Ele não deu sinal de que se afastaria. A névoa cinzenta que escapou de seus lábios tamborilou pelo ar de forma maestral, tentando criar desenhos indecifráveis acima das nossas cabeças. Seus olhos se prenderam aos meus mais uma vez, e foi nesse momento que percebi o quão próximo ficamos.

REFLEXOS • jikook (1988)Onde histórias criam vida. Descubra agora