Eu abro os olhos num impulso antes do despertador pensar em tocar. A sensação de que a noite não foi bem dormida já presente, me avisando que o dia vai ser daqueles.
- Droga - estendo o braço procurando o celular e derrubo o copo de cha que depositei na mesinha ao lado da cama. O estrondo do vidro se partindo era o que eu precisava pra despertar de vez. Nao sei se por pura burrice ou por um masoquismo inconsciente piso exatamente onde o copo caiu. - Aaaaai porra!
- Que ta acontecendo aqui?
- Nada, Jana, só rasguei o pé no vidro. - mentira. Foi só um arranhão no dedão.
MInha melhor amiga responde um "ah, que bom" com uma cara de quem ainda esta dormindo e volta em direção ao seu quarto.
É ridículo como somos iguais neste ponto. As duas simplesmente não funcionam quando estão com sono. Só que Jana consegue ser mais maluca ainda. Sei perfeitamente que em algumas horas ela vai se tocar e me ligar pra perguntar se eu realmente me machuquei ou se foi um sonho.
-
Me sento na cadeira recém comprada e sinto o cheiro da limpeza feita há poucos minutos. O sol atravessa a janela e sobre as plantas estrategicamente colocadas pela sala, contribui com uma aconchegante paleta de cores em bege, verde e marrom claro. Tudo orgulhosamente escolhido por mim.
O movimento da clínica têm crescido bastante o que me permitiu investir na estetica que sempre quis. Se tem uma coisa que me orgulha muito na minha geração é que a gente transformou saúde mental em uma coisa básica, um direito. Como resultado, jovens e adolecentes tem sido meu principal público.
De repente me pego adimirando minha jornada. Pensando em como foi difiícil chegar nesse lugar. Quer dizer, ainda não estou financeiramente no lugar que queria, mas já tenho o respeito dos colegas, e sei fingir confiança muito bem.
Abri o notebook e percebo que recebi um email ha duas horas atras de um cliente em potencial perguntando se poderia fazer uma visita à clinica. O email nao tinha nenhum contato então respondi que ele poderia vir a qualquer momento, eu provavelmente receberia mais agendamentos ao longo do dia, então a menos que confirmasse um compromisso formal, nao conseguiria estar disponivel, mas assim, o pessoal da recepção o apresentaria ao espaço e se algum colega estivesse...
Esfrego o rosto. Paro um segundo e reflito. Se essa pessoa está mal, que diferença faz? Deletei até a parte de poder vir a qualquer momento. Enviar.
-
- Oi doutora - Mona pos a cabeça pra dentro - tem um minuto?
- Sim, Mona. Por favor, sente-se.
- Ah não. Não é pra mim- ela pôs o corpo pra dentro, se endireitando enquanto arrumava o vestido de recepcionista- este senhor gostaria de conhecer a clínica. - e me deu uma psicadela que com certeza passaria despercebida por qualquer pessoa, menos por mim.
Nós duas havíamos combinado assim. Algumas pessoas vinham querendo conversar com um profissional, mas, muitas vezes, seja por qual motivo fosse, muitos não queriam adimitir ou colocar em palavras que precisavam de um psicólogo. Diziam, então, que era só uma visita pra conhecer o lugar. Com o tempo eu entendi que não era à toa que eles queriam que eu mesma mostrasse o lugar. Esse era o jeito mais, por assim dizer, tímido, de pedir ajuda.
Mona os trazia direto pra mim, caso o interesse fosse realmente mostrar a clínica, eu poderia dizer olá aos meu colegas enquanto passeava pra lá e pra cá, mas se fosse a necessidade de uma consulta, já estávamos na sala mesmo e era só puxar conversa, até chegar no ponto em que a pessoa se abriria.
VOCÊ ESTÁ LENDO
PRETENDER - Enzo Vogrincic & Matias Recalt
Fanfiction"- Você o ama, mas o irmão dele te ama mais." Luna sente que não se encaixa em lugar algum, sempre lutando para encontrar sua verdadeira vocação. Com uma vida que mais parece um quebra-cabeça com peças trocadas, sua melhor amiga e figura materna, Ja...