CAPÍTULO 11: VOCÊ ME FEZ AMAR✨

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(Capítulo contado por Cristian)
Dor, ansiedade, depressão, angústia, isolação... Um sofrimento sem fim depois que meu melhor amigo foi embora para São Paulo e me deixou. Éramos um trio único, Espurr, Álice e eu. Depois que ele foi, eu entrei em uma crise terrível... Pensei que não sairia daquilo nunca, por mais que ele tivesse ido embora ainda tinha a Álice, mas parece que criou-se um abismo entre nós, ainda mais depois que minha depressão sumiu e eu fiz um novo melhor amigo. Edward e eu éramos como um só, gostávamos das mesmas coisas e ele era totalmente diferente do Espurr. Achei que estava tudo ficando maravilhoso de novo, bom isso até conhecermos uma garota, Luciana. Ela era um amor de menina, no entanto Edward se declarou pra ela e até a pediu em namoro, os dois começaram um relacionamento e eu estava feliz... Porém eu só não imaginei que estava me interessando por ela também. Até que um dia, estávamos sozinhos no vestiário do colégio esperando pelo Edward depois de uma partida de futebol dele. Ela disse que apesar de estar com ele, estava interessada em mim... Eu não podia crer naquilo, a garota que namorava o meu melhor amigo estava me dizendo uma coisa daquelas. Então ela se aproximou e me beijou. Não sei ao certo o que aconteceu, mas eu não senti nada com aquele beijo, inclusive naquele momento percebi que não gostava dela de verdade, só que quando eu me soltei dela, Edward estava na porta vendo tudo. Ele interpretou tudo errado. Terminou com ela e nunca mais falou comigo sem nem sequer ouvir o que eu tinha a dizer. Porém ele não disse aos outros o porque do fim de nossa amizade.
Depois de dois dias do fim da nossa amizade, senti uma coisa estranha, um dejavu. Era como a anos atrás quando perdi ele... Quando perdi, o meu... O meu Espurr. Mas com Edward não doeu tanto. E naquele momento eu pensei no beijo com a Luciana, não senti nada... Pelo contrário, pensei nele... No Espurr. Porque? Não sei dizer.
Eu só sentia falta dele. Então naquela noite saí pra caminhar no morro que ficava no fim da minha rua. Um morro que dava para uma vista linda da lua, eu, Espurr e Álice íamos sempre lá quando queríamos ter um tempo só pra nós , desabafar... E nos meus momentos tristes, eu sentava lá e imaginava estar falando com eles. Contando como sentia falta deles. Porém sempre teve algo que diferenciava minha amizade com os dois... Com a Álice eu lutava karatê, era legal e insano, mas quando eu estava com o Espurr eu sentia que nada mais podia me conter... Que eu podia ser eu mesmo pelo menos com uma pessoa no mundo. Meus pais nunca me deram atenção, só me enchiam de presentes para compensar serem ausentes. Eu passava a maior parte do tempo com a empregada em casa, mas ele estava lá comigo, Espurr. Ele entrava pela janela do meu quarto com apenas cinco anos e eu estava chorando de saudades dos meus pais... Então ele ia e me abraçava, era tão bom que eu desejava não sair do abraço dele nunca mais na vida. 
Por isso sofri tanto quando ele foi embora e não me ligou mais. Porém esse ano, uma coisa diferente aconteceu... No meio da tarde de sábado, minha mãe me ligou da sua viagem em Búzios  dizendo que a mãe do Espurr e ele haviam voltado pra cidade e que ele iria começar na mesma escola e sala que eu e Álice. Ali meu mundo parou, eu finalmente iria vê-lo de novo depois de tantos anos. Porém eu não estava feliz e sim com raiva e rancor por ele ter ido e nunca mais ter me mandado uma mensagem sequer. Eu queria olhar na cara dele e dizer que ele era um tremendo de um hipócrita. Mas na segunda, quando cheguei atrasado na sala e o vi na cadeira a frente da minha... A raiva se escondeu em algum lugar, eu só queria abraçar ele. Porém o orgulho foi maior e eu apenas passei direto e me sentei. Achei que ele falaria algo, mas não falou. Eu pretendia não dizer nem sequer uma palavra pra ele, mas Edward se meteu onde não devia. Ele queria alguém pra infernizar, como Espurr era o novato, seria ele. Quando eu voltava do intervalo, ele estava prestes a bater nele por nada, então segurei a mão dele e o joguei contra a porta. Quando me dei conta eu tinha pegado o pulso do Espurr e entrado com ele pra dentro da sala. Não me segurei e disse o que devia dizer, para ele não se meter em encrenca, depois me calei. Depois disso ele tentou falar comigo algumas vezes, mas eu o evitei e até o tratei mal. Isso até o dia em que eu estava levando uma bronca do treinador de natação por estar cada vez pior na piscina, mas eu tinha muitas outras coisas para fazer e o treino não era a minha única tarefa. Eu nunca tinha tido coragem para poder enfrentar o treinador e dizer isso, mas ele teve... Ele por algum motivo estava lá e disse muitas coisas para ele e me fez continuar na natação. Daí quando saí ele estava lá nas arquibancadas me esperando, conversamos tanto que eu me lembrei como ele era compreensivo. Ali eu extravasei todo meu ressentimento,  contei tudo que eu tinha passado todos esses anos... Só não percebi que estava usando palavras tão duras , que no final magoaram ele e o fez sair chorando dali. Me senti tão mal por fazer ele chorar, afinal não tinha sido culpa dele, a mãe que o levou por causa do divórcio. 
Quando cheguei em casa naquele dia, eu me senti horrível. Deitado na cama olhando pro teto pensando na burrada que fiz, vi meu celular vibrar e quando atendi era uma voz estranha, se chamou de anônimo e me contou coisas muito peculiares;
--Alô.
--Escute esse aviso, Espurr corre um grande risco... Para que você não se  de mal por ficar defendendo ele, estou lhe dando um aviso. Deixe ele só, se não você será derrubado junto com ele.
--Como é? Que história é essa?
--Apenas ouça, deixe ele e siga sua vida de garoto popular.
--Olha aqui não sei o que está armando, mas não vou permitir que o machuque... Ele... Ele não está sozinho ouviu?
--Porque o defende?
--Não te interessa. E seja lá quem for não ouse   fazer mal para ele.
--Isso só vai depender dele.
A voz desligou e eu fiquei perplexo, o que ele queria dizer aquilo? Eu não podia permitir, então fiz a única coisa possível. Eu teria de me aproximar do Espurr de qualquer jeito, ele precisava de mim mais que nunca agora. Ele provou que ainda tinha o coração bom que eu conheci a muitos anos. Sendo assim eu tinha uma missão a cumprir. Então fui atrás do meio possível para ter o perdão dele pelas coisas horríveis que eu disse, peguei o número da mãe dele com a minha mãe e liguei perguntando onde estavam morando agora. Ela me passou o endereço e ao anoitecer por volta das oito da noite eu saí e fui até lá, entrei pela frente e dei a volta pelo quintal. Vi umas pessoas entrando lá e pelo visto eram visitas para o jantar. Ao analisar pela janela, vi quando Espurr se levantou e foi pro quintal... Ele sentou no meio do quintal e depois se deitou observando as estrelas. Me aproximei com cuidado ao mesmo tempo mantendo distância e falei com ele. Ele ficou com medo no começo, depois que me aproximei e sentei ao seu lado conversamos como dois grandes amigos que é o que nunca devíamos ter deixado de ser. Juntos ali eu percebi o quanto ele ainda era importante pra mim. Me desculpei e comecei a
me reaproximar dele naquela mesma noite, até combinamos de ir no morro que costumávamos ir a anos. No final saí por cima dos muros e telhados vizinhos vendo ele sorrir pra mim enquanto entrava em casa. Naquela noite enquanto ia pra casa, me prometi uma coisa... Eu não deixaria que ninguém fizesse nada com ele, até sendo o Edward. Afinal dentre eles a escolha era óbvia.
No dia seguinte antes de sair, passei em uma loja de doces que ficava na esquina e comprei uma sexta de chocolates... Quando ele chegou na sala, lá estava ela em cima da mesa dele esperando por ele. Ele ficou feliz e estava animado com o trabalho que faríamos em grupo na casa dele, ele, Álice, Benjamin e eu. Eu ainda me perguntava o porque de Benjamin ter entrado pro nosso grupo, mas Espurr me disse que ele havia sido excluído pelos amigos dele. O que por algum motivo eu vi que não agradou nada a Álice. Eu sabia que ela tinha os motivos dela para não confiar plenamente em mim, mas l que a faria duvidar do Benjamin? 
Depois da escola fomos pra casa do Espurr, onde fomos bem recebidos. Almoçamos e fizemos o trabalho no quarto dele. Era bem a cara dele o estilo, mas o que me deixou feliz e meio emocionado foi a foto que estava em um porta retrato no criado mudo. Ele, Álice e eu quando crianças, ele ainda tinha nossas recordações. Depois de terminarmos, fomos ver um filme... Porém notei Álice meio aflita durante o filme, só não sabia o porque. Quando acabou, me ofereci para ajudar a limpar tudo, Álice e Benjamin foram embora, mas quando olhei pela janela vi os dois meio que discutindo na rua, eu sabia que havia algo errado e tinha a ver com Benjamin. Quando foram de vez embora, eu me dei conta que estava sozinho com Espurr. A família dele saiu para um passeio no parque para nos deixar mais a vontade. Enquanto ele aspirava o sofá eu varria o chão;
--Tarde interessante essa né?
--Foi sim, gostei muito que vocês vieram.
--Por mais que tenha sido para um trabalho, foi mesmo ótimo. Temos que nos reunir mais vezes.
--Claro.
--Escuta Espurr, posso te fazer uma pergunta?
--Claro, pode sim.
--Nesse tempo longe daqui, você  fez muitos amigos?
Notei que ao fazer essa pergunta ele ficou meio quieto e sua alma parece ter parado o mecanismo do corpo;
--Você tá bem? Falei algo errado?
--Não, é só que não pensei que você fosse perguntar isso.
--Bom é só curiosidade mesmo.
--Então, sim conheci alguns amigos, mas perdi o contato com eles.
--Da mesma forma que...
--Perdi contato com você e Álice? Sim, exatamente. A diferença é que de vocês eu não fiz por querer, minha mãe foi a culpada. 
--Porque não quer mais saber deles?
--Cristian muda de assunto por favor, eu não quero falar disso tá?
--Beleza... Bom, deve ter aprendido muitas coisas nesses anos não é?
--Até que sim sabe, aprendi a tocar piano, guitarra e violino. Aprendi a falar dois novos idiomas e aprendi várias receitas maravilhosas. 
--Caramba, coisas a beça. 
--Sim, mas não teve nada que me fizesse esquecer de você.
--Sério? 

Claro, melhores amigos jamais esquecem uns aos outros... Ainda mais um tão especial quanto você. Cris já faz um tempo que eu queria dizer isso, desde a nossa conversa na arquibancada e...
--Como assim? O que quer me dizer?
--Que eu sinto muito, muito mesmo. Eu não queria ter ido embora e muito menos te deixado. Você passou por tantos transtornos, tanto sofrimento tudo por minha culpa. Eu daria tudo para que eu tivesse sofrido isso e não você. Sem contar no mal que fiz a Álice por ter deixado ela sozinha também e ...
Peguei no braço dele e nos sentamos no sofá de frente um pro outro;
--Não volte a repetir isso nunca mais ouviu? Não foi sua culpa eu ter sofrido, o destino fez isso com nós dois e já passou. Você está comigo aqui agora não está? Isso que importa. Álice e eu não temos o que perdoar, você voltou... Voltou pra nós e isso é mais que o suficiente. Ter você de novo na nossa vida é muito bom. Tenho certeza que a Álice concorda comigo. 
--Eu queria não ter ido, ter ficado com vocês dois... Tudo teria sido tão mais fácil e tantas coisas poderiam ter sido evitadas... Sua dor, o sofrimento da Álice, minha vida...
--Chega. Eu não quero mais ouvir você dizendo isso, estamos juntos os três de novo e vivos. 
Eu o abracei... Naquele abraço eu pude sentir todas as emoções dele. Senti o cheiro dele, as batidas do coração perto do meu ... Eu estava tão feliz dele estar ali comigo;
--Você não faz ideia de como senti saudade do seu abraço.
--E eu do seu. 
Nisso ouvimos o barulho do carro da família dele estacionando na garagem. Nos soltamos e terminamos a varredura. Deixamos tudo muito bem arrumado e me preparei para ir embora assim que eles entrassem. No entanto quando entraram me fizeram um belo convite.
--Cristian, que bom que ainda não foi... Tenho um convite a lhe fazer. (Mãe do Espurr)
Enquanto ela falava o padrasto do Espurr foi pra cozinha guardar umas sacolas e Espurr ajudou a irmã dele a subir com os brinquedos pro quarto;
--Bom ,pode falar tia.
--Fico tão feliz que você e a Álice continuem amigos do Espurr, que pensei em convidá-los para a viagem que faremos nas férias de julho. Vamos passar uma semana lá no sítio dos meus pais e bom... O meu pai era muito próximo do Espurr sabe.
--Claro, o senhor Gonçalo. Me lembro dele, Espurr vai ficar feliz tenho certeza.
--Então, acho que ele não te disse...
--Me disse o que? Ele tinha algo para me contar?
--Eu imaginei que conversassem sobre tudo, mas isso deve ter passado como desnecessário  pra ele.
--O que a senhora quer dizer exatamente?
Meu pai faleceu a uns anos Cristian. Isso deixou o Espurr destroçado... Tanto que ele nunca mais quis voltar lá no sítio. Essa e a primeira vez que ele volta lá depois da morte do meu pai, pode ser difícil pra ele, mas pensei que se você e Álice estiverem com ele, pode acabar sendo mais fácil.
--Nossa eu não sabia, meus pêsames. Claro, eu vou ver isso hoje mesmo com meus pais, mas eles não verão problema tenho certeza e se quiser posso ver com a mãe da Álice também.
--Muito obrigada, de verdade. 
--Por nada, eu que agradeço o convite. Agora eu tenho que ir se não a nana fica preocupada e acaba ligando pros meus pais. Muito obrigado pelo almoço estava tudo ótimo, até mais.
--Claro, por nada querido. Volte mais vezes.
--Com certeza, até logo. 
Eu já estava na rua quando lá da janela do quarto, Espurr acena e me dá tchau. Eu aceno de volta feliz. Quando cheguei em casa, tomei um banho e me deitei um pouco para esfriar os ânimos, mas nisso eu esqueci de colocar o celular no silencioso, que bom que esqueci... Pois Álice me ligou muito aflita, contando sobre o plano de Edward e que Benjamin era um  traidor. Percebi que eu precisava agir o quanto antes, não só Espurr estava prestes a ser derrubado pela raiva do Edward, mas Álice também cairia com a chantagem dos cortes em seu pulso. Por sorte sempre fui muito ágil, meu plano também já estava pronto, desculpe Edward, mas eu sempre estou um passo a sua frente.

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