CAPÍTULO 6: ACIDENTES ACONTECEM✨

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Era inacreditável, a casa onde papai morava ainda era a mesma de 10 anos atrás. Eu toquei a campainha na esperança dele estar em casa, até que deu certo, ouvi um barulho vindo de dentro e uns passos , ele estava indo abrir. Ouvi quando destrancou o cadeado e puxou o trinco do portão. Ao abrir ele me olhou e seus olhos se encheram de água, ele estava mesmo emocionado em me ver;
--Espurr, meu filho quanto tempo.
Me abraçou tanto que achei que ia me sufocar , mas me senti bem com aquele carinho. Senti até meu celular vibrar no bolso, mas não atendi , era um momento único e eu não ia estragar. Entramos e ele me recebeu com toda a empolgação possível;
--Faz muito tempo que eu não venho aqui, o senhor até mudou os móveis.
--Sim , fiz uma pequena reforma na encanação esses tempos. Que bom que você voltou meu filho, desde quando está na cidade?
--A uns dias, já até entrei em uma escola.
--Que legal, está gostando?
--É, não é as mil maravilhas, mas tá bom. E o senhor como está? Sua saúde, está se cuidando papai?
--Eu me sinto bem, só as vezes que sinto uma leve dorzinha no peito mas é normal.
--Normal não é , o senhor está fazendo seus exames de rotina?
--Estou. Você está parecendo seu irmão me cobrando de tomar os remédios.
--Temos que cobrar né, se não o senhor não toma. Inclusive soube que ele foi pra faculdade né? Que incrível.
--Sim, foi aceito em uma universidade nos Estados Unidos.
--Que maravilha.
--É sim, só que comecei a me sentir muito sozinho desde que ele foi pra lá, ele liga todos os dias, mas não é a mesma coisa.
--Não fique assim, esses dias acabaram, aqui estou eu pra alegrar sua vida.(risadinha)
--Que bom filho, mas e você? Porquê voltou de São Paulo e não me avisou nada?
--Quis fazer surpresa.
--Sua mãe está bem?
--Sim , inclusive meio que discuti com ela hoje cedo.
--Porquê? 
--Ela não queria que eu viesse.
--Ela não pode te impedir, você é meu filho também. 
--Eu sei, mas fique tranquilo , vou conversar com ela quando eu chegar mais tarde. 
--Não veio pra dormir?
Não pai, amanhã tenho aula e não trouxe nem roupa, sem contar que minha mãe infartaria.
--Tem razão.(risadinha)
--E o senhor, como vai no trabalho?
--Vai bem, cada vez melhor.
--O senhor já pensou em se aposentar papai? Já está na idade sabia.
--Aposentar, eu? Mais o que é isso Espurr, está me chamando de velho?
--Jamais papai, é só que ai o senhor não trabalharia tanto. 
--Uma coisa boa a se pensar.(risadinha)
Passamos a tarde toda conversando sobre diversos assuntos, ele fez tapiocas deliciosas pro lanche, ficaram iguaizinhas as que minha avó fazia, a mãe de papai sempre foi uma cozinheira especialista em pratos do interior, ela usava todo tipo de recheio nas tapiocas, foi o mesmo que papai havia feito naquele dia , várias de carne moída, outras de queijo e por fim as de leite condensado. Quando me dei conta eram sete ds noite;
--Minha nossa perdi a noção do tempo, vou indo papai, se cuida e até depois, te mando mensagem e agente combina de eu vir aqui semana que vem.
--Já tem mesmo que ir filho?
--Sim, já está tarde e o senhor sabe como minha mãe é. 
--Claro, bom eu te levo então.
--Não, não precisa. Eu vou andando , não é longe daqui que eu estou morando agora, nos vemos depois papai.
Dei um abraço nele e pedi que avisasse ao meu irmão para me ligar depois, afinal mesmo que nunca tenhamos sido próximos, naquele momento se tratava da saúde do nosso pai. Assim que saí ele ficou me olhando do portão até eu virar a rua e desaparecer de sua visão. 
Eu não quis ser totalmente sincero naquele momento, então disse que morava mais perto , porém eu ainda tinha várias ruas para andar até chegar em casa, e nisso fui pensando em várias coisas. Por exemplo no porque Cristian foi tão grosseiro comigo? O que foi que eu fiz? Ele primeiro me salva de um soco que ia acertar em cheio a minha cara, depois ele simplesmente me ignora e me trata mal? Poxa como entender um ser humano desses. Ainda por cima tinha o tal do Edward, como uma pessoa pode se tornar tão insuportável em um único dia? E também o tal do Esteban, porque ele fez aquilo com a Álice? E o mais intrigante ainda, o que houve de verdade entre Cristian e Edward pros dois se odiarem tanto? Confesso que aquilo me consumiu tanto que nem percebi o tanto que eu tinha andando, já estava a duas esquinas de casa quando voltei ao meu juízo. Virei a esquina e vi as luzes de casa acesas, provavelmente mamãe estava me esperando pro jantar e bastante furiosa, pois eu desliguei meu telefone antes de chegar na casa de papai, justamente pra ela não ficar ligando a cada minuto. Atravessei a rua e nisso vi um garoto acenando pra mim da janela da cozinha dele, daí eu acenei de volta, pois achei que ele estava me cumprimentando, mas ai quando eu me viro um farol estava vindo aceleradamente na minha direção, fiquei assustado afinal ele estava praticamente a dois metros de mim e eu estava no meio da rua, quando ele ia me acertar em cheio alguém pulo em cima de mim e saímos rolando até o quintal da vizinha idosa que morava na frente de casa. O carro passou como o flash de uma câmera, e eu senti algo em volta da minha cintura, era a pessoa que estava grudada em mim ainda. Achei ser um estranho, mas quando me levantei , era o garoto que estava acenando pra mim, naquele momento eu saquei que na verdade ele estava me alertando;
--Você tá bem rapaz?
--Qual o seu problema cara? Não viu quando eu acenei pra você avisando que o carro estava vindo? 
--Nem percebi, desculpe e muito obrigado por ter me salvado.
--Da próxima vez presta mais atenção.
--Escuta eu acho que te conheço.
--Claro que me conhece, somos da mesma turma na escola, eu te vi descendo hoje por outro lado que não era o caminho daqui.
--Pera ai, então você tava me esperando?
--Que? Nunca. Só achei estranho.
--Estranho é você estar me observando.
--Eu não tava te observando, só tava na cozinha pegando água e falando com minha namorada no celular quando olhei pela janela e vi você parado na rua igual um esquilo pronto pra ser enxotado pelo carro. 
--Entendi, mesmo assim muito obrigado. 
Estendi a mão para ajuda-lo a levantar, mas ai ele se ergueu e o rosto dele ficou a literalmente a uns 10 centímetros ou menos do meu;
--Agora eu vou entrar antes que minha mãe surte de vez comigo, muito obrigado e até depois.
--Até... Ei escuta, qual seu nome?
--Espurr, e o seu?
--Benjamin, foi estranho te conhecer.
--Digo o mesmo.(risadinha)
Nisso eu atravessei e entrei em casa, aí que a real tragédia começou. Mamãe estava sentada no sofá com uma cara muito séria, eu já até imaginava o que ela iria dizer. Não havia mais ninguém ali a não ser ela, certamente ela pediu pro Carl esperar no quarto e ter colocado minha irmã pra assistir algo no tablet. Me aproximei e me sentei na poltrona ao lado do sofá onde ela estava;
--Aonde você estava até essa hora?
--Eu disse que iria na casa do papai depois da aula.
--Passou a tarde toda lá? Me deixou falando sozinha hoje cedo e foi almoçar e passar a tarde com aquele homem.
Aquele homem é meu pai. E eu não estava lá a tarde toda, cheguei lá já eram umas cinco da tarde.
--E aonde é que você estava antes disso que não veio em casa?
--Na escola, lá tem um programa de tempo integral pros alunos do Ensino Médio, eu tive que ficar ate as quatro e meia, a casa do papai é meio longe da escola, então levei meia hora até lá e olhe que fui bem depressa. 
--Eu não fui informada desse programa, estranho.
--Se não acredita é só ligar lá e perguntar... E sobre hoje cedo, desculpa mãe , fico muito feliz por estar grávida, eu só estava um pouco nervoso e por isso fui frio, mas parabéns a senhora e ao Carl. 
--Eu não fiquei brava, fiquei pasma por você ter sido tão seco com a noticia, é o sonho do Carl ter um menininho. Você não dá muita abertura para ele , então ele ficou muito feliz e
empolgado, fiquei triste por decepciona-lo , ele queria ir comemorar hoje a noite, mas por conta do fato de você ter odiado ele ficou sem graça de fazer algo.
--Desculpe, eu só tava nervoso... E a Rubi? Gostou da novidade?
--Ela não ligou muito. Porém demonstrou animação. Aliás, como foi seu primeiro dia na escola hoje?
--Estranho , caótico, tenebroso e muitas outras coisas ai. 
--Deita aqui e me conta.
Eu deitei no sofá e apoiei minha cabeça no colo dela, aquilo me fez me sentir bem, um pouco de carinho da minha mãe. Então eu comecei a contar tudo que aconteceu naquele dia estranho, contei que havia reencontrado Álice e que continuávamos amigos, mas que Cristian estava bem diferente e não queria nem saber de mim, também contei sobre a implicância do tal Edward. Porém teve o lado bom desse dia, contei também sobre meus três novos conhecidos, Dylan o garoto stalker da escola, Diego o aprendiz de mágico e Benjamin o vizinho da casa do lado;
--Pera como é que é? Como assim você quase foi atropelado Espurr? Por que não me ligou? 
--Foi ainda a pouco aqui na frente de casa, e o tal Benjamin pulo em cima de mim e me salvou, mas acho muito estranho, pois não parecia um acidente, o carro nem sequer parou, o que me leva a acreditar que era realmente a intenção dele me atropelar. 
--Criminoso, vou na policia dar queixa. 
--Queixa do que mãe? Ele não fez nada, quase me atropelou, mas não chegou a me ferir.
--Ainda assim esse cara foi um irresponsável... E eu vou pessoalmente agradecer ao Benjamin por ter te salvado, ele é um bom rapaz assim como eu pensei.
--A senhora o conhece?
--Conheci a mãe dele , ela é um amor de pessoa, se mata de tanto trabalhar tadinha. Ela me contou como o filho a ajuda em casa, já que sempre está de plantão no trabalho ele cuida de tudo sozinho praticamente, até do irmão mais novo.
--Caramba. Quer saber , como forma de agradecimento a senhora podia convida-los para jantar aqui amanhã né?
--Ótima ideia, se não me engano amanhã é a folga dela do hospital.
--Então convide e pode deixar que eu faço o jantar.
--Você ficou bem animado com eles não é?
--Só quero agradecer mesmo pelo que ele fez por mim.
--Claro , é um ótimo gesto se agradecimento.
--Sim... Inclusive, a senhora me desculpa pelo que eu disse hoje cedo?
--Claro filho, só por favor não aja mais daquele jeito, fiquei preocupada que você estivesse com algum problema.
--Não mesmo, era só o nervosismo desse primeiro dia horrível.
--Compreendo, mas agora me conta porque acha que o Cristian não gosta mais de você?
--Ele me tratou meio mal hoje na escola mãe, praticamente não quis nem saber de mim. Pelo menos ele me defendeu do Edward, se não fosse por ele eu tinha levado um belo soco.
--Esse garoto ia te agredir? Isso é inaceitável, amanhã eu irei pessoalmente com você pra escola e terei uma conversa com a coordenadora.
--Não, eu me resolvo com ele , fica tranquila e ele provavelmente não vai se meter comigo de novo, Cristian pode ter mudado, mas ele deixou claro pro garoto que era pra ele ficar longe de mim.
--Fico feliz com isso, mas caso algo aconteça, não hesite em me contar filho.
--Tudo bem, aliás parabéns pela nova gravidez mamãe... Agora eu vou subir, tomar um banho e me deitar , estou exausto e amanhã ainda é o segundo dia de aula.
--Não vai jantar? Eu fiz arroz com sua pasta de alho favorita.
--Obrigado, mas estou sem fome, comi muitas  tapiocas na casa de papai, ele ficou tão contente em me ver.
--Ótimo, agora matou a saudade já não precisa mais vê-lo.
--Na verdade ele ficou de me ligar para eu ir dormir na casa dele no próximo fim de semana.
--Dormir? Pra que ir dormir lá Espurr? Você tem casa.
--Eu sei, assim como aqui é minha casa, lá também é... Enfim mamãe não vamos mais discutir tá bom? Tô subindo , boa noite.
Subi e entrei rapidamente no quarto, logo de cara vi minha irmã me olhando com cara de quem achava que eu tinha ganhado um castigo, mas lamento ter acabado com a expectativa dela, peguei logo minha toalha e entrei no meu banheiro, pois a casa podia ter apenas dois quartos, mas com banheiro em cada um deles. Debaixo do chuveiro eu pude refletir melhor, até lavei minha alma, renovei minha autoestima. Quando saí minha irmã já estava dormindo como uma pedra , tirei o tablet de suas mãozinhas e a embrulhei em seu belo cobertor de

borboletas rosas. Peguei uma roupa aconchegante, sequei meu cabelo e fui arrumar a mochila para deixar tudo pronto e adiantado pro dia seguinte. Ao abrir o segundo bolso me deparei com o óculos de mergulho do Cristian, eu teria que entregar uma hora ou outra, não podia ficar com algo que não me pertence e mais ainda , que ele podia estar urgentemente precisando já que foram uns moleques que pegaram. Terminei de arrumar tudo, separei minha roupa e me joguei na cama já disposto a cair e dormir, mas bem na hora que eu me deitei o telefone tocou, era um número desconhecido, porém mesmo assim atendi;
--Oi.
--Boa noite Espurr. 
--Boa noite, quem está falando?
--Não se lembra da minha voz? Ah, vou ficar chateado.
--Que brincadeira é essa em?
--Não tem brincadeira nenhuma, você se esqueceu muito rápido de tudo não acha?
--Olha ou você fala quem é e o que quer, ou eu desligo agora e bloqueio esse número.
--Ainda é o mesmo estressado de sempre, incrível... Bom pode me chamar de senhor G, já que não se recorda de mim.
--Senhor G? E o que quer comigo?
--Nosso segredo está a ponto de ser  revelado Espurr e você corre grave perigo, então apenas escute meu aviso, se proteja e fique de olhos bem abertos, pois eu farei tudo que estiver ao meu alcance para te proteger, mas talvez não seja o suficiente... Eu volto a ligar, até breve.
Ele desligou eu fiquei simplesmente em choque, quem era aquele maníaco? Senhor G? De onde esse sujeito me conhece? O que ele quis dizer com “Você corre grave perigo?”. O que está havendo e de onde eu conheço? Porque sempre que parece que uma coisa começa a dar certo algo vem para me desestabilizar? Não importa, só uma coisa importava, eu tinha que ficar de olho , o que quer que seja que esteja acontecendo, fez esse cara entrar em contato comigo ,então a coisa é séria. E agora, como se já não bastasse o dia louco que tive hoje , ainda por cima mais essa? O que é que está faltando?

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