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O domingo havia começado agitado, a festa de aniversário da vovó Kang era sempre um marco. A comemoração dos noventa anos de vida da adorável senhorinha de cabelos brancos como a neve e que acolhia a todos estava sendo planejada há alguns meses por Leeseo, Hyein e Hanni. Antes de se mudar para Seul, Haerin também se envolvia em cada detalhe para alegrar sua amada vó, mas há três anos não voltava para casa nem para visitar e agora se sentia deslocada demais para opinar em qualquer coisa em relação a festa.

Estar tanto tempo sem ver a família tinha dessas coisas. Por mais que cada um ali continuasse agindo da mesma forma com a Kang, o sentimento não pertencer mais aquele lugar a invadia desde o minuto que pisou naquela casa. Haerin gostaria muito de não se sentir daquele jeito, pois ali moravam as pessoas que ela mais amava no mundo, mas ela já não se via mais dividindo uma vida com sua família.

Há onze anos, Haerin saiu de casa para ir para faculdade, ela tinha dezoito anos na época e decidiu que Seul seria um bom lugar para se viver. No seu último período na universidade, conseguiu um estágio em uma revista onde ajudava na revisão de textos. Quando seu contrato de dois anos acabou, ela foi chamada para uma entrevista na editora para a mesma função. Por mais dois anos ela continuou revisando textos publicitários dos próximos lançamentos da editora. Foi então que a vaga para assistente da editora chefe abriu. A Kang sabia que as chances de conseguir o emprego eram quase nulas, pois não era tão qualificada, mas mesmo assim tentou. Alguns dias depois de sua entrevista com Danielle, ela recebeu a notícia que tanto queria.

Desde criança, a mais velha dos Kang's desejava escrever um livro algum dia, mas ser paga para ler sempre pareceu o emprego dos sonhos, e por isso deu o melhor de si em todas as etapas que poderiam levá-la para mais próximo de seu objetivo. Claro que não queria ser assistente a vida toda, mas, apesar de tudo, Danielle era uma excelente profissional, e Haerin acabou aprendendo muito com ela, pois ela se dispunha a ensinar ainda que fosse de um jeito um tanto rude.

Durante esse tempo longe de casa, ainda que tivesse voltado para visitar, Haerin sabia que tinha perdido muita coisa. Quando partiu, Hanni estava grávida, e Si-Ah nasceu poucos meses depois. Cinco anos atrás, Hyein conheceu Leeseo, e a última vez que tinha visitado Jeju foi justamente no casamento das duas. Embora tenha mantido contato, perdeu todo o processo que sua irmā e cunhada enfrentaram para adotar Lee Rowoon.

Todas ainda eram as mesmas, com suas vidinhas tranquilas, seus empregos pré-planejados no caso de Hanni e Hyein e elas gostavam daquela vida. Mas Haerin sempre quis mais. Ela não queria trabalhar nos negócios da família como sua prima e sua irmã faziam, Jeju parecia pequena para ela e não a oferecia as chances que teria em Seul. Não era fácil viver sozinha e estar longe, só que no fundo sabia que fez o certo

Enquanto via Hanni e Leeseo de um lado para o outro resolvendo sobre o buffet da festa, Haerin foi tirada de seu mundinho particular quando Rowoon abraçou sua pernas. Mesmo que o tenha conhecido no dia anterior, o pequeno já era dono de boa parte de seu coração.

- Bom dia, tia! - desejou com um enorme sorriso. - O que tá fazendo?

- Bom dia, pequeno! Uma bandeja de café da manhã - Haerin pegou o menino no colo e o sentou na bancada. - Por que está acordado a essa hora? Está cedo ainda.

- Eu e Si-Ah vamos pegar docinhos - sussurrou com as mãozinhas em frente a boca.

- E onde ela está?

- Escondida - apontou para mesa em que estavam começando a decorar com doces e então Haerin viu uma pequena mão sair debaixo da toalha e tatear a procura de doces.

- E por que não está ali com ela? - Haerin foi até a geladeira pegar a jarra de suco. - Não deveria estar a ajudando? - voltou a se aproximar enchendo dois copos.

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