Casamento Arranjado

310 26 10
                                    

Regina adentrou sua casa. Ou melhor, o local que ela aprendeu a chamar de casa. Aquelas paredes sem vida nunca foram seu lar, mesmo morando ali há anos.

A decoração era a que havia escolhido quando se casou, mas mesmo assim aqueles móveis não tornavam aquela casa mais aconchegante. As cores das paredes eram frias e combinavam muito com o que Regina sentia em seu interior ao adentrar aquele imóvel.

Seus passos ecoaram contra o piso de madeira, deixando claro o quão vazio era aquele lugar, mesmo cheio de móveis e fingimentos. E, como em todas as noites, o seu caminho foi certeiro até o aparador de bebidas. Mills serviu uma dose de conhaque e a virou de uma vez só, repetindo o ato em seguida. Com uma nova dose em mãos, a morena seguiu para o escritório, onde muitos dias apenas fingia trabalhar, para fugir de sua esposa.

Merida Manson.

Sua relação com a ruiva não era das melhores ultimamente, mas nem sempre foi assim. As duas já foram boas amigas. Dessas que você conta segredos que não teria coragem de contar para mais ninguém. Se conheceram ainda no ensino médio e a conexão foi instantânea. Passavam os dias juntas e, sempre que possível, os finais de semana também eram destinados para a relação que estavam construindo. Mas, como tudo o que é puro tende a ser alvo de ataques descabidos, os pais de Regina viram em Merida uma oportunidade de investimento para sua rede de restaurantes. E, como bons empresários, os Manson compraram a ideia.

No início foi tudo bem, afinal elas eram amigas e já passavam a maior parte do tempo juntas. Teve uma época que chegaram até a se apaixonar uma pela outra, tornando toda aquela farsa mais fácil de aturar. Os problemas começaram na faculdade, quando Regina se apaixonou por uma colega de classe e quis viver aquela paixão. Merida também estava disposta a viver casos de apenas uma noite, mas não podiam e mesmo quando tentaram conversar com seus pais sobre isso, suas "responsabilidades" com a família e suas respectivas empresas, foram jogadas em suas caras.

Esse foi o ponto crucial para que as duas começassem a se afastar. A obrigação de manter aquele relacionamento de fachada, foi a responsável por acabar com a amizade que passaram anos cultivando e transformou o que tinham em um campo de guerra. O casamento foi apenas a confirmação de que suas vidas não eram mais suas.

Regina suspirou ao sentar-se atrás de sua mesa de escritório. Colocou a bolsa em um canto da mesa e no outro deixou o copo. Precisava respirar fundo.

— Sua vida é uma enorme bagunça, Regina! — sua fala veio seguida de uma profunda respiração e suas mãos encontraram seu rosto, num ato que demonstrava todo seu cansaço.

O barulho da porta de entrada do apartamento chamou sua atenção. Sua esposa havia chegado. Seus olhos encontraram seu relógio de pulso apenas para constatar o óbvio: Merida tinha chegado mais cedo aquela noite.

Sabia que seus poucos minutos de paz, além das horas na clínica e no hospital, haviam terminado. Pegou seu copo e virou a cadeira de frente para a janela que lhe dava vista da Alameda movimentada abaixo e da enorme área de lazer do condomínio, que nunca havia usado.

— Regina? — a voz de Merida se fez presente e a morena se preparou para uma possível briga, assumindo sua pose séria outra vez — Regina?

— No escritório! — respondeu com a voz cansada.

Estava no escritório todas as noites, não entendia qual a dificuldade em deduzir que ela estaria ali, também naquela noite. Os passos se aproximaram e ela soube que em segundos sua esposa iria adentrar seu espaço seguro.

— Boa noite! — a morena demorou um pouco para responder e apenas o fez quando virou a cadeira.

— Boa noite, Merida!

Bad Idea Onde histórias criam vida. Descubra agora