☆*:.。𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐈𝐈 。.:*☆

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Aurora sabia exatamente quem estava chegando quando ouviu o barulho dos cascos de um cavalo se aproximando violentamente rápido. Sorriu quando se virou para os portões da padaria e encontrou quem havia imaginado, de montaria e em roupas masculinas, acenando para ela.

E claro... Claro que ela trazia uma espingarda consigo.

- Aurora! - Chamou Isabella, saltando do seu corcel negro e aterrissando no chão com maestria, como uma acrobata circense. Havia praticado aquela manobra tantas vezes que já era até natural.

Ofereceu um sorriso largo enquanto arrumava o cabelo preto como azeviche que escapava da boina.

- Bella... - O sorriso da loira murchou. Apontou a arma transpassada nas costas da amiga a uma certa distância. - Sabe que não pode trazer essas coisas aqui na vila.

Isabella Griffiths era de rara beleza, isso era um fato, não uma opinião. Mas tinha mesmo que ser tão afeiçoada pela prática de caçar? Quando ela se vestia daquela forma, ficava quase irreconhecível. Calças, colete de couro, uma camisa branca de babados e botas afiveladas. Na cabeça, sua boina verde preferida, combinando com o tom dos seus olhos. Ela costumava dizer que não se perdoaria ao errar um alvo por pisar acidentalmente na barra de um vestido ou de alguma mecha de cabelo atrapalhando-lhe a visão. Claro que a amizade de infância das duas não se abalava devido aos gostos peculiares de Isabella, porém Aurora temia mais pela reputação da amiga que ela própria. Afinal, muitas moças debutariam naquela noite no baile de primavera e ela tinha tudo para ser o diamante raro da temporada. Se a vissem com uma arma, o que poderiam pensar? Espantaria a todos. Nada estragaria seus planos de arranjar um pretendente à altura da linhagem de sua amiga, e quem sabe, um para si também. Será que era pedir demais encontrar um cavalheiro o qual nutrisse pelo menos alguma estima ou afeição, e que tal afeto fosse recíproco? Os contos de romance que ela lia na biblioteca dos Griffiths talvez aumentassem suas expectativas e pré-requisitos de homem ideal. Ela iria se casar, mas deveria ser diante de um sentimento realmente arrebatador. Deixou de lado esse pensamento. O destino se encarregaria dessas minúcias.

- Ah... Bem, eu estava caçando no prado e passei aqui para te cumprimentar. - Comentou, condescendente.

- Não deu nem para esconder em algum lugar que não fosse à mostra? Oh, céus...

- Mas por que esconder? - Indagou Bella, assistindo Aurora repuxar os cabelos dourados como os primeiros raios de Sol do dia.

- Mas não é óbvio? - A garota de cabelos negros arqueou uma sobrancelha, como se não entendesse o que havia de tão óbvio. - As más línguas irão falar coisas terríveis de você. - Aurora emendou.

- Não poderia me importar menos. - Bella tratou de retrucar ao tempo que cruzava os braços. - Ora, se fosse um homem a carregar uma arma ninguém notaria, não é? - Reclamou, indignada.

Aurora ignorou o último comentário. Tentou buscar outro pretexto.

- Sua madrasta não gosta que fique zanzando por aí nesse estado.

Bella riu alto, uma gargalhada indecorosa para uma dama de seu nível. Respirou profundamente para se recompor.

- Sra. Kimberlly já arrancaria os cabelos mesmo que eu apenas respirasse no mesmo cômodo que ela. Não é novidade para mim ser repreendida por ela. Se bem... - A garota, pôs o dedo indicador em sua bochecha, teatral, como se pensasse em algo. - Que não é alguém cuja ira desejaria voltada para mim, não hoje.

Ambas sabiam que a madrasta não aprovava os passatempos da enteada. Ora, passar tempo andando a cavalo no meio da mata caçando quando poderia estar aperfeiçoando seus talentos, como pianoforte e bordados, era simplesmente ultrajante. Sem falar nas dores de cabeça incessantes que ela sentia apenas de pensar que a jovem poderia cair da montaria ou levar um tiro. Se bem que a julgar por seu temperamento, era mais provável que ela atirasse em alguém, o que não era um cenário muito mais feliz. Em circunstâncias normais, sua madrasta era uma pessoa bastante amável, e mesmo com suas divergências constantes com Isabella, dirigia-se à enteada de maneira respeitosa. No entanto, quando tratava-se de seus atrasos a eventos de grande importância como o baile de primavera anunciando a abertura da temporada naquela noite, ela se punha a esbravejar agudamente e não havia audição que suportasse a expressão de sua fúria. Se Sra. Kimberlly sonhasse que ela se atrasou por conta de outra caçada...

ArmistícioOnde histórias criam vida. Descubra agora