Armistício

☆*:.｡𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐈𝐕｡.:*☆

Vincent se aproximou da mesa de aperitivos, se permitindo pegar alguns canapés e levá-los até a boca. Enquanto observava a multidão de vestidos e paletós de cores variadas rodopiando no salão de baile a céu aberto, o Marquês parecia muito distraído. O parque decorado com flores, fitas coloridas e castiçais que iluminavam a ocasião estava lotado de um elegante grupo de convidados. Com a primavera e o desabrochar da natureza, iniciava naquela noite a temporada de bailes, uma época marcada pela avidez com que as senhoras da alta sociedade agarram-se ao escopo de conseguir os melhores pares para suas filhas. 

Existe cenário melhor para uma verdadeira disputa para pôr as garras em cavalheiros abonados e conseguir a proeza de arrastá-los ao altar com suas sucessoras? Decerto que não.

Vincent agora se esgueirava até a mesa de bebidas, temendo ser visto por qualquer dama desesperada ou mãe de família. Ele e os outros dois rapazes que permaneceram na lateral do salão de baile sabiam que os boatos sobre a chegada deles haviam se espalhado em Devon como folhas à relva. Era até engraçado o modo como o fato era descrito. Segundo as fofocas, os três foram os mais cobiçados da temporada. Eis aí a manifestação do seu inato poder de atração, operando com maestria mais uma vez. Por vezes, até Vincent se questionava se tal magnetismo natural era uma dádiva ou uma maldição. Poderia ficar tão envaidecido quanto aterrorizado, mas permitiu-se um gole de vinho para aplacar os nervos. Ignorava por completo quanto tempo conseguiria escapar ao encontro de algumas senhoras, porém, não negaria uma dança ou outra a alguma mulher, mesmo que estivessem apenas no início da festa.

Vincent chegara a ler a coluna de fofocas mais popular da província e, por todos os santos, onde ele estava com a cabeça? Nunca fora tão tentado pela curiosidade quanto ao saber que mal chegara e já era o centro das atenções. Foi quase irresistível o impulso de arrancar o jornal das mãos da tia Amélia quando entrara na propriedade no fim da tarde. A senhora lia com tanta atenção sobre as notícias do trio que ele não se conteve e logo o papel estava em suas mãos. Ele se lembrava de ler no periódico algo como:

"Assim, é de se esperar que os cavalheiros mais desejados desta temporada sejam, além de Dominic Campbell, o novo Duque de Devonshire que há pouco herdara o título e a fortuna do pai, seu irmão e Marquês de Hartington, Vincent Campbell, e seu melhor amigo Visconde de Wiltshire, James Cunningham, que o escoltaram em sua viagem a fim de resolver impasses relacionados ao ducado. Embora a fama de libertinagem dos três seja conhecida, será que alguma das deslumbrantes debutantes ganhará o coração de algum deles?"

Ele riu galante enquanto virava a taça de vinho e acenava para uma moça que lhe cumprimentou ao longe. Ele adorava aquela atenção. Devon não parecia um lugar tão ruim agora aos seus olhos. Logo Vincent havia se integrado rapidamente entre a multidão, tendo sido incapaz de suportar mais das gargalhadas ruidosas que James proferia quando lembrava do estado lastimável em que tinha retornado de sua excursão. Assim como James, Dominic não teve como negar a observação do loiro de que o irmão parecia ter sido atropelado por um meio de transporte diversas vezes e em seguida fora jogado em uma confeitaria. Por outro lado, ele também tinha seus próprios interesses em mente, entre eles, avaliar o número de damas presentes na ocasião. Até porque ele não passara uma eternidade em uma banheira para retirar aquele odor infeliz para não conseguir encontrar nenhuma mulher interessante ali. Se estressara demais naquela tarde e precisava de algo que esfriasse sua cabeça e tirasse seus pensamentos dela.

Quem era aquela mulher?

Ele se perguntou desde que cruzou o caminho de volta para a propriedade. Nunca antes se sentira tão ultrajado em sua vida como fora por aquela fera sanguinária. Ele não podia acreditar que ela o culpara por ser toda desajeitada. Não era ele o responsável pela total falta de decoro da referida "milady", a menos que sua própria figura fosse tão avassaladoramente deslumbrante a ponto de fazê-la agir de forma tão intempestiva. Poderia culpá-la por não conseguir constituí-lo? Nem todos estão com os sentidos devidamente preparados para perceber uma pessoa tão admirável quanto ele.