A Maça e a Adaga, Parte 1

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ISBN: 978-65-00-96266-6


Tratava-se de um dragão, garantiu o homem ao companheiro do outro lado da mesa, então de um gole só bebeu toda a cerveja da caneca diante dele. O dono da taberna balançava a cabeça e expressava a sua incredulidade do outro lado do balcão sem nunca desviar a atenção da conversa proporcionada pelo cliente, que fechava a cara e tornava a teimar que se tratava sim de um dragão, e ponto final!

— Um dragão? — inquiriu o dono do lugar, de maneira irônica. No torso avantajado e de ombros largos o homem vestia uma jaqueta jeans com patches de bandas de heavy metal. Dremuu aprovava o estilo dele. — Você deve ter visto um desses brinquedos dos filhos dos ricos ou um drone.

Como quem muito soubesse, mas pouco falasse, os garotos se entreolhavam; o dono do lugar tinha razão, com toda a certeza seria um drone. Dremuu e Rario já tinham visto de perto alguns construídos com o aspecto de criaturas de inúmeras mitologias, tais como os dragões cuspidores de fogo. Ou espécies de animais, como a harpia, a águia que também era o símbolo dos Daeruz.

Meneou a cabeça em agradecimento para a garota que os servia o café para Dremuu e o copo de água para Rario. Ela meneou a cabeça com um sorriso no rosto e se afastou. Devia achar curioso que fossem adolescentes que não bebessem, quando a maioria da faixa etária deles, embora por lei não tivesse a permissão, teria dado um jeito ou aceitado qualquer oportunidade para fazê-lo, Rario comentou. Dremuu não apreciava o sabor da grande maioria das bebidas alcoólicas, detestava o da cerveja, em especial, e o namorado preferia ser obediente às leis de onde quer que estivessem. De qualquer maneira, duvidavam que o dono do lugar, que desde que eles entraram ali os mantinha sob um olhar observador, fosse apreciar vê-los bebendo, correndo o risco de ter uma dor de cabeça por ter permitido que garotos tão jovens bebessem no seu estabelecimento.

Minutos depois, à porta da taberna de estilo medieval de onde ecoavam para a rua os vocais rasgados e as guitarras distorcidas, os bumbos duplos e o baixo feito um leviatã de uma banda de thrash metal, os dois garotos esperavam pelo veículo que viria buscá-los. Dremuu continuava a beber café, agora num copo descartável com tampa, enquanto de canto de olho espiava a beleza de Rario; os cabelos brancos e curtos, os olhos escuros e sempre atentos e os lábios desenhados de maneira cuidadosa por um artista. Ele usava uma jaqueta branca abotoada até o pescoço, vestia uma bermuda até os joelhos e calçava botas de cano alto.

Dremuu vestia camiseta e bermuda pretas e calçava um par de tênis, para a surpresa de ninguém, de mesma cor. Penteou os cabelos pretos e curtos com as pontas dos dedos. Seus olhos âmbares e o tom de pele moreno-claro eram característicos de sua família materna. Não possuía nenhuma característica física associada aos incamyan. Embora os Daeruz e os Saa tivessem concebido filhos com indivíduos daquele povo ao longo dos séculos de convivência e aliança entre eles.

O revólver escuro com o sol âmbar dos Saa no tambor e a harpia negra dos Daeruz entalhada no punho e o par de adagas de lica estavam nas malas deles. Nenhum queria chamar a atenção... mais do que já faziam. Todo mundo sabia que o primogênito dos graosir de Sores namorava um incamyan, filho de membros da ordem Kran Idoan, como também conheciam as suas características físicas, de modo que um olhar mais atento os reconheceria sem muita dificuldade.

Rario tateava com as pontas dos dedos a palma esquerda de Dremuu, onde recentemente o jovem baixista tinha tatuado a clave de fá, e sugeria que aprendesse a tocar a viola de dez cordas, um instrumento comum à música regional e interiorana de Siessiera, país que tinha naquela cidade, Terrassolar, a sua capital, e a que há alguns séculos Sores, hoje uma cidade-Estado, também pertencera. Não era exatamente o tipo de música a que escutassem, mas o instrumento possuía um timbre muito particular e bonito que abriria um leque de possibilidades para um compositor e instrumentista como ele, Rario acrescentou.

Diante dos Portões da Brutalidade: A Maça e a AdagaOnde histórias criam vida. Descubra agora