Flores de temporal

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Flores de temporal.

Eu parei de escrever por um tempo de duas primaveras,
nunca compreendi esse proceder ao passar das épocas.
Mesmo assim, nunca mais voltei nesse lugar.
Vi as nuvens mudarem de posição e o tempo escapar.

Minhas mãos foram ficando carregadas de histórias
e a suavidade foi se reinstalando, aos poucos, na memória.
O perdão ainda não veio,
esqueci-me de apertar o freio.

O coração se reconstituiu para quebrar-se novamente.
Ganhava uma nova vida a cada corte: um sobrevivente.
Todavia, mesmo assim, tudo se paralisou.
O tempo, os caminhos e a dor.

Estava lá com sua anestesia:
Existia mas ao mesmo tempo não existia.
Essa sinestesia foi recolocada pelo tempo.
O coração sem palavras foi falando com tormento.

Uma voz que parecia um sussurro,
tão balbuciante, a melodia que procuro.
Uma incapacidade, vergonha, melancolia.
Enquanto os campos verdejantes se extinguiam na brisa fria.

E nada mais se reinstaurou.
Não. Nenhuma flor brotou.
Acabou assim, triste e com um pedido.
A taquicardia ia e voltava no coração perdido.

Só ficou a lembrança de suas primaveras,
invernos, outonos que dilaceras.
O teor bucólico permaneceu no rural,
relembrando das tempestades no quintal... Das flores de temporal.

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