07. Uma ladra de armadura

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Naquele mesmo dia

August caminhava pela vila com calma, observando a vizinhança que não via há tempos. As casas mais antigas seguiram em pé, e algumas novas haviam sido construídas. O rei trajava um casaco, botas e um lenço verde escuro que lhe cobria a cabeça e o pescoço. Suas mãos mantinham-se firmes nas rédeas de seu cavalo preto.

O loiro desceu em uma das ruas mais distantes do Vilarejo, em frente a um bar antigo e levemente imundo. O atendente estava de costas no balcão, um homem gordo de camisa branca — deveria ser branca — e avental azul. O lugar fedia a álcool e mofo, o salão era ocupado por várias mesas, as poucas em que havia alguém estavam ou muito agitadas ou com alguém dormindo. O loiro se debruçou sobre o velho balcão de madeira, encarando as costas do dono.

— Pendura uma garrafa de vinho esta noite?

— Não — respondeu o dono ainda de costas — Não vendemos fiado.

— Nem mesmo para um velho amigo? — o homem inclinou a cabeça ao ouvir isso, se virando com certa dificuldade, pois o espaço entre o balcão e a prateleira de bebidas era pequena demais para si.

— August! — exclamou ele, abrindo os braços em alegria — Quanto tempo… Eu não te vejo nessa nessas bandas desde-

— É, eu sei — interromper — Na verdade, é sobre isso que vim falar.

— Mas assim, direto? Não, diga logo o que vai beber.

— E eu já não lhe pedi o vinho?

— Certo, certo — riu — Mas como andam as coisas? Dizem que você casou, teve filhos…

— Filha. Uma filha de dezessete anos. E minha esposa morreu.

— Dezessete? Ah, essa é uma ótima idade. Já tem noivo?

— Não. Minha filha é muito jovem, não pensa nesse tipo de coisa.

— Tá bom — riu — Há quanto tempo a mãe dela morreu?

— Dez anos.

— E Érica há vinte — falou uma que saía da casa nos fundos do bar — Exatos 10 anos de diferença. E já faz uma década! Isso pode ser maldição, viu? Perder alguém a cada certo tempo.

Não era isso, ele sabia que não.

— Lembra de mim, alteza? Joana — apresentou-se. A senhora tinha um porte acima do peso e tranças pretas caindo sobre um vestido encardido — Você dizia que eu tinha um corpão!

— Lembro sim, Joan. Você continua espetacular — cumprimentou, beijando-lhe a mão.

— Ah não, imagina. Eu estou toda despenteada. Você que envelheceu bem: continua com a pele limpa e o cabelo arrumado.

— Você ainda não cortou isso?! — berrou o marido, referindo-se ao cabelo do outro.

— Por que cortar? Eu fico ótimo. Até sua esposa acha que eu sou um espetáculo — riu.

O lugar inteiro fedia, e a música ao vivo era melancólica, tocada por um grupo de irmãos em alguns instrumentos de corda ao redor de um piano antigo.

— Tudo bem — findou o rei ao se sentar, tentando não se desanimar totalmente — Eu… vim falar sobre a Érica — começou ele, as pessoas ao redor comentavam sobre a volta do antigo príncipe até a Vila pacata — Marcos, sua irmã era parteira da vila quando nós morávamos juntos…

— Ah, pobre irmãzinha. Ela largou tudo depois que soube que não podia ter filhos.

— Sinto muito por ela-

O Vilarejo Esquecida e o Esconderijo das Fadas - Parte IOnde histórias criam vida. Descubra agora