04. "Maninho"

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Um mordomo o guiou para uma porta dupla em um corredor extenso, adentrando uma sala de jantar vermelha, iluminada por candelabros.

— Você chegou! — disse o rei.

— Sim — respondeu seco, caminhando até ele.

— Sente aqui — ele indicou uma cadeira à sua esquerda — Estava esperando vocês para o almoço.

O cacheado se sentou em silêncio, eventualmente notando a cadeira posta à sua frente.

— E a princesa? — questionou.

Neste mesmo instante, Lily atravessou a porta sem ligar para o que havia em sua frente. Trazia um livro aberto sobre os olhos,  — que parecia ser a única coisa digna de atenção no local, —  sua capa era escura e seu título dourado quase invisível.

— O que eu falei sobre livros na mesa? — advertiu August.

— Sim, sim. É falta de modos, eu sei.

Ela continuou a leitura em silêncio,  ignorando a repreensão do pai. Então este se virou para o garoto:

— Você gosta de ler, Remi?

O rapaz apertou os lábios, pensando em uma resposta.

— Eu não leio muito…

— AÍ, POR MIRA!

O grito assustou o príncipe, que encarou a irmã com medo, mas o rei já estava acostumado com aquilo.

— O que aconteceu? — questionou ele com certo desinteresse, encarando-a pelo canto do olho.

A menina removeu os olhos do livro com calma, completamente pasma.

— Charles morreu — respondeu com pesar, deixando que um grande silêncio tomasse conta do ambiente.

— Quem? — perguntou o irmão. O pai riu:

—  É mais um personagem de livro — ele disse.

A menina não retrucou nada, apenas colocou o livro, agora fechado, ao seu lado na mesa, e esperou que as criadas entrassem para servi-los.

— E o livro acabou. Estou de luto — concluiu dramática.

O rei riu novamente, como sempre fazia diante os surtos literários da baixinha.

"Tudo isso por um livro?" Pensou Remi.

O almoço era um frango cozido com verduras, arroz branco, macarrão e salada de folhas. Também tinha um purê, pães, sucos, sobremesas, e muito mais do que Remi já imaginou que veria em uma mesa.

— Eu adoro repolho com tomate na salada — disse a menina.

Uma senhora de cabelos pretos e terninho servia a todos com suco de frutas enquanto outras colocavam a comida em seus pratos. Uma moça apareceu ao lado de Remi para lhe servir.

— O Senhor quer mais carne no seu prato?

— Hã?...

O garoto ficou estático. Ele olhou para o rei que já comia, perguntando mentalmente o que fazer.

— Pode comer o quanto quiser. Não precisa ter vergonha de pedir — respondeu com um sorriso gentil.

O menino continuou assustado, mas se virou a criada em resposta.

— Hm, sim?

A moça sorriu e obedeceu, se retirando em seguida.

— É estranho ter pessoas fazendo tudo por você, né? — questionou Lily, encarando a surpresa do irmão.

O Vilarejo Esquecida e o Esconderijo das Fadas - Parte IOnde histórias criam vida. Descubra agora