4-Determinado

37 4 0
                                    

Percy Jackson

Em poucos dias me acomodei em uma rotina que parecia quase normal, se descontarmos o fato de que
eu tinha aulas com sátiros, ninfas e um centauro.
Todas as manhãs estudava grego antigo com Annabeth e conversávamos sobre deuses e deusas no presente, o que era um pouco estranho. Descobri que Luna estava certa a respeito de minha dislexia: o grego antigo não era tão difícil de ler. Pelo menos, não mais difícil que inglês. Depois de algumas manhãs eu já conseguia ler sem muita dor de cabeça algumas linhas de Homero, tropeçando aqui e ali.

No resto do dia eu alternava atividades ao ar livre, procurando alguma coisa em que fosse bom. Quíron
tentou me ensinar arco-e-flecha, mas descobrimos bem depressa que eu não dava para aquilo. Ele não
reclamou nem mesmo quando teve de arrancar de sua cauda uma flecha perdida.

Corrida? Eu também não era bom. As instrutoras, as ninfas do bosque, me faziam comer poeira. Disseram-me para não me preocupar com isso. Tiveram séculos de práticas fugindo de deuses apaixonados. Mas ainda assim era meio humilhante ser mais lento que uma árvore.

E as lutas? Esqueça. Toda vez que ia para a esteira, Luna acabava comigo.
"E vem mais por aí, seu Loiritcho Mané", murmurava ao meu ouvido.
A única coisa em que eu era mesmo excelente era canoagem, e essa não era o tipo de habilidade de herói que as pessoas esperavam do cara que venceu o Minotauro.

Sabia que os campistas mais velhos e os conselheiros me observavam, tentando concluir quem era meu
pai, mas não estava sendo fácil para eles. Eu não era tão forte quanto os garotos de Ares, nem tão bom
em arco-e-flecha quanto os garotos de Apolo. Não tinha a perícia de Hefesto com metais ou - os deuses me livrem - o jeito de Dionísio com as vinhas. Luke me disse que eu podia ser filho de Hermes, uma espécie de pau para toda obra, mestre nada. Mas eu tinha a sensação de que ele só estava tentando me fazer sentir melhor. Na verdade, também não sabia o que fazer comigo.
A despeito disso tudo, eu gostava do acampamento. Eu me acostumei com a neblina matinal sobre a praia, com o cheiro dos campos de morangos à tarde e até com os ruídos esquisitos dos monstros nos bosques à noite.

Eu jantava com o chalé 11, empurrava parte da minha refeição para o fogo e tentava sentir alguma conexão com meu verdadeiro pai. Não vinha nada. Apenas aquela sensação morna que eu
sempre tive, a lembrança do seu sorriso. Tentei não pensar demais em minha mãe, mas ficava matutando:
se deuses e monstros eram reais, se todas aquelas coisas mágicas eram possíveis, certamente haveria
algum jeito de salvá-la, de trazê-la de volta...

Comecei a entender o ressentimento de Luke e como ele parecia magoado com o pai, Hermes. Certo,
talvez os deuses tivessem tarefas importantes a fazer. Mas não poderiam fazer uma visita de vez
enquando, trovejar ou alguma coisa? Dionísio podia fazer Diet Coke aparecer do nada. Por que meu pai,
quem quer que fosse, não podia fazer aparecer um telefone?

Quinta-feira à tarde, três dias depois de chegar ao Acampamento Meio-Sangue, tive minha primeira aula de esgrima. Todos do chalé 11 se reuniram na grande arena circular, onde Luke seria nosso instrutor.
Começamos com estocadas e cutiladas básicas, usando bonecos recheados de palha com armaduras gregas. Acho que fui bem. Pelo menos entendi o que devia fazer e meus reflexos foram bons.
O problema era que eu não conseguia encontrar uma lâmina que se adaptasse às minhas mãos.

Eram pesadas demais, leves demais ou compridas demais. Luke fez o melhor que pôde para me ajudar, mas
concordou que nenhuma das lâminas de prática parecia funcionar para mim.
Passamos adiante, para duelo em duplas. Luke anunciou que seria meu parceiro, já que era a minha primeira vez.

Boa sorte - disse um dos campistas. - Luke é o melhor espadachim dos últimos trezentos anos.

- Talvez ele pegue leve comigo - comentei.

My WitchOnde histórias criam vida. Descubra agora