Essa é uma história que tem um começo, mas até agora não tem um final certo, até porque ambos estamos vivos e nossas vidas continuam, não pense que por eu dizer isso, que nós não estamos juntos, não se precipite tanto assim e não busque adivinhar o final de um conto que eu mal comecei a escrever ainda. Sei que é a ansiedade normal de um leitor querer saber o final das coisas, porém a vida humana é muito incerta para que você tente prever o que irá acontecer, afinal, nem eu posso te garantir isso (por mais que eu me esforçasse e quisesse).
Acho que eu devo me apresentar antes de qualquer coisa, não é? Para que haja conexão comigo e minha vida, é necessário que me conheçam. Meu nome é Akaashi Keiji, tenho 23 anos... pelo menos era minha idade quando essas coisas aconteceram, não sei quais informações a mais você gostaria de ouvir. Eu jogava vôlei durante o Ensino Médio, só acabei parando e segui carreira artística, sinceramente, nunca tive para mim que aquela seria minha carreira, foi bom enquanto durou, fiz ótimas amizades, porém nunca fui um jogador brilhante, nem procurava ser.
Era Julho de 2019, uma das minhas milhares de exposições estava acontecendo, meu casamento havia terminado a pouquíssimo tempo, não eram tempos felizes para mim, não que felicidade fosse o meu forte em algum ponto de minha vida, todavia naquele momento, eu me sentia mais triste do que o normal. Por mais que inúmeras pessoas tivessem vindo até mim dizer como meus quadros expressavam mil e uma emoções, eu nunca havia sentido elas de verdade, sei como os outros a sentem normalmente e isso já é o bastante para eles acreditarem que eu sou um homem intenso, genial e expressivo. É sorte minha que nenhum deles me conhecia em minha vida particular.
A vida nos holofotes sempre é diferente do que ela costuma ser por de trás das cortinas, exatamente como foi meu casamento para todos, perfeito, impecável e regado de amor e paixão, cujo acabou tendo um final onde ambos seguimos pacificamente para caminhos diferentes, com a grande justificativa de diferenças de horários ou qualquer baboseira que se pensa quando não se quer dar explicações demais para um ocorrido particular. Contudo... não foi bem assim, sempre ouvia que meus sentimentos eram como um cubo mágico nas mãos de alguém que não sabe resolvê-lo, é interessante por um tempo por conta de sua complexidade, até que a pessoa desista de tentar entender e concluir o objetivo que o objeto se propõe. Tudo bem, eu nunca ouvi essas palavras, apenas fiz uma metáfora para resumir as reclamações que já presenciei por conta de como me expresso ou deixo de expressar.
Então, o casamento terminou, assim, sem mais justificativas além das que eu ouvi sobre ser frio demais ou não me lembrar das datas corretamente. Não que eu já não estivesse esperando essa conclusão, era questão de tempo até o indivíduo se entediar comigo e partir para alguém que correspondesse à sua intensidade exacerbada. Por essa falta de emoções nítidas, se supõe que eu não tenho sentimentos, que meu coração é frio como uma pedra de gelo boiando no mar. Porém, eu tenho, do meu jeito é claro, mas elas existem em algum lugar da minha cabeça, se não as tivesse, nunca entenderia de verdade o que outros sentem e transmitir isso em quadros. Só não é de meu feitio falar demais sobre o que sentia ou ter crises descontroladas, naqueles tempos, por mais triste que eu me sentisse, eu não chorava, só me perdia em coisas idiotas e passava tempo demais com meus pensamentos.
Nesse dia, fazia um pouco de frio em Tóquio, é meu clima preferido, posso simplesmente usar a roupa que quiser debaixo de tantas camadas de casaco que ninguém saberia, e eu não queria que soubessem, levantaria perguntas demais, perguntas que não queria responder, até porque era algo meu, só meu, ninguém tinha o direito de tirar aquilo de mim. Em todos os meus relacionamentos, eu escondia a blusa no fundo do meu armário, para que, mesmo se mexessem em minhas coisas, o que poderia acontecer, não achariam isso nunca. Pensando hoje em dia sobre, talvez fosse meio bobo, mas vou respeitar as decisões do meu eu do passado sem julgá-lo.
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Troca de sentidos
FanficEu poderia ser idealista, mais sonhador, dizer que na verdade tudo começou antes do que a gente considera como vida. Que antes de nascer nossas almas eram misturadas em uma só amálgama, uma substância inexplicável, que ninguém reconheceria o que era...