Laura Castelanni
Permaneço com meus olhos fechados, ainda sinto que estou vivendo todo o ocorrido em minha mente e eu posso ouvir os gritos e as pessoas gritando em sincronia com os tiros, mesmo em um ambiente calmo como o que estou agora.
Alexandre está dentro do caixão a minha frente, seu corpo já foi velado e ele está sendo entregue para a sua cova e apesar do momento de profunda tristeza que se estabeleceu no coração de todos presentes eu não me sinto perdida e nem um pouco triste.
Por que eu não estou triste?
É o meu chefe, o homem cujo recebia cafés todas as manhã por mim, não irei vê-lo mais e tampouco compra café e ele está sendo entregue para uma cova funda e estreita e eu não consigo sentir um pingo de tristeza no meu coração? Que tipo de ser humano consegue ser tão frio como eu estou sendo nesse momento?
Sobrevivemos ao pior ataque que poderia acontecer ao país no último ano e eu não consigo ter um pingo de consideração pela equipe que perdemos? Isso me torna uma pessoa pior do que aqueles que tiraram a vida dessas pessoas?
A angústia começa a tomar conta do meu corpo, preciso me afastar antes que as pessoas percebam na minha face o que eu estou sentindo aqui dentro. Estou me sentindo péssima por não sentir o mesmo que aquelas pessoas, éramos um conjunto e tudo se perdeu e eu não sinto um pingo de empatia.
Por quê?
Admito que as vezes me sentia sufocada com a rotina que eu levava na empresa, a mesmice de todos os dias e os esforços que eu fazia para atingir um cargo que estava nítido que eu não iria conseguir por ser mulher me frustrada bastante. Me vi tendo crises de ansiedade dentro do escritório toda vez que Sebastian passava pela minha sala e me lembrava todos os motivos pelo qual Alex não me rotularia como gerente do departamento e um deles era o fato de possuir uma vagina, a minha ética não permitia sentar uma bofetada na sua cara mas eu me recordo que por anos desejei mandar a minha ética para a puta que pariu e ensinar a ele uma lição que apenas mulheres são capazes.
Não desejo o seu mal, tampouco a sua morte mas eu me vi questionando o porque ele não acabou indo dessa pra melhor no lugar do Alex, assim eu não teria concorrente e ainda teria o Alex para me promover.
Levo a mão até o peito ao me sentir mal com esse pensamento. O homem está morto Laura, está mesmo pensando em promoção com ele morto?
Imploro perdão a Deus, levo a mão até o pescoço e quando sinto o crucifixo em meus dedos estremeço. Puxo o colar do meu pescoço e observo o objeto prateado em minhas mãos, engulo em seco ao me lembrar do olhos intensos daquele homem que é o dono legítimo dessa joia.
Ele acabou perdendo assim que o andar desabou, e antes que eu pudesse ser atingida pelo tiro da sua comparsa eu consegui guardar a joia em meu bolso. Na hora só desejei guardar, não sei o que senti na hora ao ter pego algo que era seu, mas não quis descartar e tampouco entregar a polícia.
Mas com certeza não é nada ético usar o objeto do homem que tirou a vida dessas pessoas no dia de hoje.
Guardo a joia em meu bolso, o gesto faz com que eu sinta um incômodo no meu ombro ferido, retruco baixinho ao tocar a região e sentir a gaze úmida, preciso trocar o curativo.
Antes de ir embora aquele homem se certificou que eu não iria sobreviver para dar o meu depoimento à polícia, mas graças a Deus ele não se certificou de vir conferir se eu estava mesmo morta depois de eu ter protagonizado a minha melhor cena como atriz ao ser atingida por um tiro no braço e fingir ter sido morta, não tinha escolhas a não ser fingir, se a mulher me visse com os olhos abertos com certeza iria acertar mais um para garantir que eu não sobreviveria.
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Roubando seu coração: Banquista & Criminoso
RomancePersonagem possessivo • Síndrome de Estocolmo • Convivência forçada • Único livro Laura Castelanni é uma banquista com a vida estagnada onde a sua maior preocupação do final de semana é saber se a sua irmã mais velha, e única parente viva, irá cons...