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Já faziam algumas horas desde que Ryu não parava de reclamar. O grande problema, era que o seu pai havia descoberto sobre a convocação do garoto para se juntar a turma de novatos do Divine Bloods, mesmo ele fazendo o possível e o impossível para que Hades não descobrisse e, assim que tivesse a chance, se livrasse de si o mandando para lá. Na cabeça do semideus, a única forma que ele tinha de tentar convencer o seu pai a desistir daquela ideia era insistindo e sendo o mais persistente possível.

Quando ele lhe deu um basta, Ryu ficou quieto e pensativo no seu canto, a verdade era que havia passado tanto tempo no submundo, que a ideia de sair de lá o assustava. Ele não sabia como interagir com outras pessoas, muito menos aquelas da sua idade, estava acostumado a viver sozinho, mantendo os costumes e hábitos do mundo inferior. Ryu não tinha tido uma infância como os outros, afinal, era filho do Deus do submundo, mas, ainda assim, poderia ter tido uma vida comum, se não fosse por Hades. Ele o tirou de sua mãe ainda muito novo, Ryu sequer lembrava do rosto da mulher que lhe deu à luz.

Embora seu pai fosse controlador em certos aspectos, ele sempre o deixou livre para se aventurar pelo martírio, apenas o alertava sobre os perigos que havia além do castelo. Hades o criou para ser independente, ele o ensinou que a vida é preciosa, e que ninguém tem o direito de tirar isso dele. Foi por conta dessa sua criação que Ryu se tornou um guerreiro habilidoso e inteligente, e aprendeu a depender dos seus próprios métodos para sobreviver.

— Pai, eu não quero ir. — Ryu insistiu novamente. — Me deixa ficar..

Hades suspirou, ele estava sentado em seu trono feito com os ossos dos inimigos que ousaram ir contra seu domínio.

— Não insista. — Ele o olhou estressado. — Eu já disse, você vai e pronto.

— Por que quer me mandar pra aquele lugar? O senhor sabe que lá ninguém gosta de mim.

— Estou te dando uma chance de sair do inferno e ir conhecer o mundo lá fora. Por Deus, por que você é tão anti social? — Hades voltou sua atenção ao que fazia antes.

Ryu franziu a testa e olhou em volta, a única vista que podia ter o prazer de desfrutar era a de almas urrando de dor, e a de um fogo ardente que queimava incansavelmente em torno do castelo.

— Por que será, pai? — Ryu suspirou.

— Não é por ser meu filho, que precisa agir como eu.

— Mas-

— Chega! Ryu. Não aguento mais você no meu pé com esse assunto. Vá dar uma volta por aí, você precisa acalmar os nervos. — Hades massageou suas têmporas, já havia se estressado o suficiente com sua prole.

Sem mais insistir, Ryu deixou o cômodo inconformado. Ele sentou em uma escadaria no fim da ponte que cruzava a torre do seu pai com as terras do martírio, e, então, encarou a vastidão de lamúria eterna. Seus olhos eram escuros, como se ali já não houvesse mais o branco da alma, somente a escuridão. Embora Ryu tivesse aqueles olhos abissais que continham toda dor de uma vida amargurada, ainda assim, ele era lindo. Um rapaz alto, com uma pele tão pálida que se assemelhava à uma boneca de porcelana, seu corpo era definido e, devido às feras que enfrentou dentro do submundo, portavam cicatrizes profundas de batalha. Por todo o submundo, Ryu ficou conhecido como o “Príncipe das Trevas”. Ele também havia conquistado o respeito das criaturas que habitavam além do Tártaro, mas ainda não era o suficiente, ele queria poder provar mais de si mesmo para o próprio pai. Ele se sentia insuficiente.

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Mais tarde, Hades enviou o semideus para a superfície. Ryu subiu até as terras de Gaia, sendo levado em uma carruagem guiada por dois cavalos negros de crinas flamejante. Depois de muito tempo, os olhos do submundano viram a vida em abundância. A paisagem que encontrou a caminho do acampamento era tão viva, que Ryu sentiu uma emoção que nem ele era capaz de explicar de onde ela havia vindo. Seu corpo gritava para que descesse ali mesmo e saísse explorando aquele lugar, mas a mente era calma e paciente.

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