1. Pode me chamar de Gal

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(Capítulo piloto)

POV Gal

Acordei vagarosa, sentindo um aroma gostoso de café passado. Rolei entre os lençóis, sorrindo pro teto. Sem nem ao menos arrumar a cama, corri para a sala, com a empolgação de um cachorro ao ver seu dono voltando da guerra.

- É HOJE, É HOJE, DONA MARIAH! - exclamei alto demais para quem acabou de abrir os olhos.

- Bom dia, minha fia, tirando pelo seu humor, muito bom dia. - respondeu mamãe enquanto colocava xícaras na mesa.

- Tá lembrada de que é hoje que vou na casa de Caetano ahm?

- Lembrada eu tô, mas olhe gracinha, como vai ser essa moradia? tem certeza que é coisa certa isso?

- Já disse que não precisa de preocupação Mainha. Lá vou ter Caetano, vou ter Gil. A música acontece pra banda de lá e eu.. eu sou música em pessoa. - falei pegando um pão e passando manteiga.

- Que Deus e nossa senhora abençoe esse teu caminhar minha menina.

- Reza por mim. Quando a senhora menos esperar tá me ouvindo pelas estações de rádio.

Não posso ser injusta e dizer que também não tinha uma pitada grande de receio em mudar, ainda mais para uma casa cheia de músicos talentosos e entendidos, nem sei como me portar perto dessa gente toda. É coisa e tanto. Mesmo com medo, vou. Quem não chora dali, não mama daqui, afinal, não é isso que diz o ditado.

*Quebra de Tempo*

Sempre tive uma audição apurada, ouço o talher caindo no prato e já tento reproduzir. Me auto desafio em saber que nota soa cada objeto, sempre que possível. Quando a chuva pinga no balde, quando o copo de alumínio vai ao chão, e até mesmo no bater das portas. Dessa vez, não foi preciso toda essa audição para perceber a barulheira que vinha de todos os cômodos daquela casa, que a partir de hoje eu iria chamar de lar por um bom tempo.

Assim que adentrei a porta principal, já na sala, havia uma rodinha de canto. Uns tocavam viola, outros chocalhos, outros cantando e ainda os que faziam percussão, dando ritmo a música com as próprias mãos. Encantada, fiquei observando sem chamar muita atenção.

- Gosta do que vê? - alguém me falou bem ao pé do ouvido. Virei com certa rapidez.

- AI MANO - disse em um suspiro só - planeja me matar do coração logo no primeiro dia?

- Ele é péssimo, não é? - falou Gil de maneira sarcástica rindo - senti saudades de você menina.

- Gil-Gil meu amor, Caê. Como é bom ver vocês. - corri pro abraço, abraço coletivo.

- Gracinha, minha estrela, que saudade que eu tava desse teu sorriso - falou Caetano me apertando ainda mais em seus braços - como andas a vida?

- Tudo na mesma, sabe como é né - fico sempre meio tímida com reencontros.

- Pois se prepare pra deixar essa monotonia da porta pra fora tá - em seguida, sem nem me dar um tempo para me preparar, Caetano me pegou pela mão e me arrastou casa a dentro - vamos pular essas perguntas corriqueiras porque preciso te apresentar a uma pessoa. Uma pessoa super especial.

Quando chegamos ao quintal da casa, tinha uma galera tomando sol de biquíni e rindo ao vento. Com cinco minutos já pude notar que são todos bem devassos por aqui.

- BETHA, BETHA - Caetano chamava mas nada acontecia, então ele parou a primeira pessoa que viu pela frente - ei viu Bethânia por aí?

- Ela tava aqui, acho que foi pegar mais cerveja na cozinha. - respondeu o moço alto de cabelos coloridos.

As Canções Que Você Fez Pra Mim Onde histórias criam vida. Descubra agora