capítulo três

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"Nós não podemos ser amigos
Mas eu gostaria de simplesmente fingir
Você se apega aos seus papéis e canetas
Esperarei até que você goste de mim novamente

Esperar pelo seu amor
Meu amor, eu vou esperar pelo o seu amor."

— We Can't Be Friends (Wait For Your Love), Ariana Grande.

"Will, eu vou te matar."

"É rapidinho, eu juro. Só vou em Montauk e volto logo." Mentiu, e o amigo também sabia que não seria rápido.

"Por que você continua indo lá?"

O garoto sorriu, prestes a rir tensamente. Estava esperançoso, nervoso, e ficando um pouco doido. "Não sei."

Dustin revirou os olhos, mas aceitou a chave da locadora. "Você fica me devendo essa."

Will sorriu ainda mais, sentindo que iria vomitar a qualquer momento. Era uma sensação agridoce.

Correu pelas ruas até o metrô lotado.

Mike bufou, se cobrindo ainda mais com a coberta, evitando a luz amena da manhã, enquanto seu despertador tocava loucamente.

Por algum motivo, sua cabeça doía como se estivesse de ressaca, embora não tenha posto uma gota de álcool na boca nos últimos meses. Tivera um sonho perturbador, com tetos desabando, paredes rachando e um aperto em seu peito ao correr loucamente. Simplesmente não estava com cabeça para esse despertador insuportável.

Bateu cegamente no mesmo, calando-o com um baque agressivo. Espiou por entre a coberta, descobrindo que já passava das cinco e meia. Infelizmente seu chefe não aceitaria sua dor de cabeça e azedo pelo corpo como desculpa para faltar. Suspirou, quase choramingando, e saiu da cama com atos e passos lentos.

Tudo doía, desde seus olhos até a ponta de seus dedos do pé. O dia acordara escurecido para si. O café estava com açúcar demais, e não conseguia encontrar seu casaco favorito de forma alguma. Resmungou, como uma criança fazendo birra, e deixou sua casa quentinha, quase se arrastando pelos corredores.

Deu um chute no pneu do carro estacionado ao lado do seu, porque havia um risco enorme na porta que definitivamente havia sido feito propositalmente ali. Seu pé doía, mas a satisfação de chutar um pneu lhe trouxe uma pequena alegria. Virou de costas, caminhando em direção ao metrô. Chegaria atrasado no escritório, mas quem se importa? Pelo menos estava indo, comparecendo de corpo. Deveriam estar agradecidos.

A estação estava lotada, com pessoas de feições fechadas e alguns poucos doidos que sorriam às seis da manhã, vai entender. O vento gelado fazia suas vestes e seus cabelos ondulados balançarem pelo ar. Deveria ser uma manhã agradável, mas algo o incomodava.

Saiu daquela estação e correu para o trem que ia para Montauk. Se espremeu entre a porta automática, entrando no trem gelado e praticamente vazio. Algumas pessoas o olharam, confusas por ele entrar pulando dentro do trem, e outras nem se importaram. Um pouco envergonhado, se sentou em um dos bancos vazios, observando a grande janela ao lado, com seu coração batendo rapidamente em seu peito. Não era uma pessoa impulsiva, não sabia o que estava fazendo ali.

Will, no vagão da frente, cantarolava Lovesong do The Cure, sem saber que havia feito Mike se apaixonar por essa música há alguns meses atrás. Agora, o Mike do vagão sequer conhece a mesma.

Desceram na mesma estação fria e vazia, mas seus olhos não se encontraram. Talvez, se tivessem, algo teria sido diferente, talvez a flama acendesse e eles se encontrassem com as bochechas queimando em meio a tanto frio congelante. Mas, não aconteceu, e seguiram por caminhos opostos. Mike, pelo portão direito, e Will pelo esquerdo.

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