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Capítulo 1: O Retorno ao Silêncio

Portia Featherington observava o fogo crepitante na lareira, seus olhos perdidos nas chamas dançantes que pareciam refletir as memórias de uma vida inteira. O luto por Archibald, seu falecido marido, ainda estava fresco, como se o vento de inverno tivesse entrado pela porta e a lembrança de sua morte fosse o último vestígio de calor que restara em sua vida. O enterro tinha sido breve e sem grandes cerimônias, condizente com a natureza fria e distante do casamento que ela havia sido forçada a aceitar muitos anos antes.

Agora, com quarenta anos, Portia se encontrava sozinha em sua grande casa. As paredes que antes estavam repletas de risos e conversas sobre os eventos sociais, agora pareciam oco, como se a casa estivesse respirando de maneira desigual, como ela própria. Ela acariciou a aliança em seu dedo, um gesto automático que a conectava ao passado, como se a presença de Archibald ainda estivesse ali, em algum canto da sala, onde ele sempre ficava sentado, distante e impassível.

A porta se abriu suavemente, e Penélope, sua filha caçula, entrou na sala. O sorriso de Portia se alargou, mas o brilho nos olhos de sua filha não era o mesmo. Penélope, agora uma jovem mãe, trazia consigo o pequeno Thomas Eliot, seu filho primogênito de apenas três meses, nos braços. O bebê estava quieto, seus olhos azuis fixos na figura de Portia, como se, com sua inocência, fosse capaz de compreender as complexas emoções da sala.

- Você está bem, mãe? - Penélope perguntou suavemente, ajeitando a manta do bebê enquanto o aconchegava mais perto de seu peito.

Portia assentiu com um sorriso triste, mas não respondeu de imediato. Ela sabia que Penélope percebera sua tristeza, mas preferia que sua filha falasse primeiro. Desde que Archibald havia falecido, ela não tinha compartilhado seus sentimentos com ninguém. As palavras pareciam pesar em sua garganta, e ela sentia que, de alguma forma, falar sobre a morte dele faria com que a dor fosse mais real.

- Eu ainda estou tentando entender o que aconteceu, mãe -Penélope disse, mais para si mesma do que para Portia. - Eu... não esperava que fosse assim.

Portia olhou para a filha com um olhar que misturava compreensão e resignação.

- Eu também não, querida-  respondeu ela com um suspiro, e por um momento, suas mãos tremiam levemente enquanto ela as colocava sobre as bordas da poltrona.

- Mas a vida nunca segue o caminho que imaginamos, não é?

Penélope olhou para sua mãe com uma expressão preocupada, seu olhar agora focado não apenas em Portia, mas também no bebê, que parecia estar começando a sentir a tensão no ar.

- Eu... não sei se sei o que você quer dizer - disse ela hesitante. -Eu sei que o casamento de vocês não foi perfeito, mas... sei que era importante para você, de alguma forma.

Portia levantou uma sobrancelha, surpresa com a sinceridade de Penélope.

- Importante? Para mim? - Ela deu uma risada sem humor, quase amarga. - O casamento de sua mãe foi uma prisão, Penélope. Mas uma prisão que eu nunca pude escapar. Archibald era... previsível. Ele sempre soube o que esperar de mim, e eu sabia o que esperar dele.

Penélope ficou em silêncio por um momento, o olhar fixo no rosto da mãe, absorvendo as palavras.

- Então por que ficou com ele, mãe? - a pergunta foi baixa, mas não deixou de atingir o alvo. - Por que escolheu uma vida como essa?

Portia olhou para sua filha com tristeza.

- Eu não tive escolha, Penélope. Quando você é jovem e uma família inteira coloca todas as esperanças em cima de você, você faz o que precisa fazer. Eu era a única esperança da nossa família, e tinha que fazer o que fosse necessário para garantir que não caíssemos ainda mais fundo. - Ela pausou, as palavras lhe pesando. - Não sou uma mulher que escolheu o amor, querida. Eu escolhi a sobrevivência.

The Portia Featherigton (Oneshot)Onde histórias criam vida. Descubra agora