Portia olhava fixamente pela janela, como se pudesse encontrar uma saída para a situação na vastidão da noite. O copo de limonada em sua mão tremia ligeiramente, tamanha era a força com que o segurava. Ela podia ouvir, mesmo de longe, as vozes de seu pai e de Lorde Featherington discutindo sobre detalhes do casamento como se ela não estivesse ali, como se seus desejos não importassem.
- Senhorita Portia - a voz de Archibald soou baixa e controlada ao seu lado, interrompendo seus pensamentos.
Ela se virou lentamente, encontrando o olhar do jovem que agora era, aparentemente, seu futuro marido. Ele tinha os olhos castanhos sérios, quase sem brilho, mas sua expressão era impenetrável, o que a irritou mais ainda.
- Lord Featherington - respondeu ela, com a formalidade esperada, inclinando levemente a cabeça, embora o tom de sua voz fosse distante.
Archibald esboçou um leve sorriso, mas havia algo calculado nele, como se estivesse medindo cada palavra antes de pronunciá-la.
- Archibald, por favor. Não há necessidade de tantas formalidades entre... noivos
Portia sentiu o estômago revirar.
- Eu prefiro manter as formalidades, Lord Featherington. Afinal, mal nos conhecemos.
Ele riu baixo, mas o som não tinha alegria.
- Concordo. Este é um acordo entre nossas famílias, não um conto de fadas, não é?
As palavras dele foram um golpe direto. Era como se ele já tivesse aceitado a situação com uma resignação fria que a deixava ainda mais frustrada. Ela estreitou os olhos, tentando esconder o desconforto que sentia.
- Vejo que somos bastante francos, Lord Featherington - disse ela, com um leve sarcasmo.
- Prefiro ser direto - ele respondeu, encostando-se casualmente à parede ao lado da janela. - Ambos sabemos que isto não é algo que escolhemos, mas creio que será mais fácil se não fingirmos que há algo mais aqui além de um contrato.
Portia sentiu o peso de suas palavras, mas se recusou a baixar a guarda.
- Então é assim que você enxerga o casamento? Apenas um contrato?
Archibald a encarou por um momento, como se estivesse tentando decifrar algo em sua expressão.
- No início, talvez seja. Mas quem sabe? Com o tempo, podemos encontrar... um equilíbrio.
- Equilíbrio? - Portia repetiu, com um leve tom de incredulidade. - Não estou procurando um equilíbrio. Estou procurando liberdade.
Archibald arqueou uma sobrancelha, surpreso com a intensidade das palavras dela. Ele cruzou os braços, mas não respondeu de imediato. Em vez disso, inclinou-se ligeiramente para a frente, mantendo a voz baixa para que ninguém mais ouvisse.
- Senhorita Portia, liberdade é algo que nenhum de nós realmente tem - disse ele, com uma franqueza que a desconcertou. - Nem você, nem eu. E quanto mais cedo aceitarmos isso, mais fácil será.
Portia ficou em silêncio, as palavras dele ecoando em sua mente. Ele não estava errado, mas isso não tornava a situação menos insuportável.
- Então, é isso? - ela perguntou, quase num sussurro. - Você já desistiu de lutar pelo que realmente quer?
Archibald a observou por um momento antes de dar de ombros levemente.
- Talvez eu nunca tenha tido algo pelo qual lutar.
Portia sentiu uma pontada de pena por ele, mas rapidamente afastou o sentimento. Ela não tinha tempo para entender Archibald Featherington. Estava ocupada demais tentando encontrar uma saída para si mesma.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Portia Featherigton (Oneshot)
FanficSinopse: Na Londres do século XIX, Portia, uma jovem de 16 anos com uma linhagem familiar marcada por fracassos, sente-se presa às expectativas de sua família. Filha única de um homem ambicioso, ela vive sob constante pressão para se casar com um no...