Aron
— Eu imploro, Dragão. Imploro pelo meu povo; eles já não têm onde plantar, as terras estão estéreis. Meu povo definha a cada instante.
Ouço o rei de Parteam, sua voz embargada pelo desespero, implorar de joelhos, enquanto mantém a cabeça baixa, um gesto de submissão e respeito. Levanto-me do meu trono de pedra, o som grave do arrastar de minhas asas e o retumbar da minha cauda batendo no chão ecoam pela caverna. Minha forma humanoide, embora imponente, carrega a graça de um predador, e isso o amedronta ainda mais.
— Meu povo pereceu há séculos, vítima do seu antigo rei. O sangue dele corre em suas veias. — Minha voz é um sussurro calmo, mas carregado de uma ameaça velada.
— Mas isso foi há séculos, como o senhor mesmo disse. Eu não tenho culpa, nem meu povo, pelos pecados dos antepassados. Assim como o senhor não tem pelos seus, há sangue nos dois lados Dragão.
Sorrio, um esgar que mais parece um rosnado, caminhando ao redor do rei. Sinto o cheiro de seu medo, um aroma acre que invade minhas narinas e me enche de um prazer sombrio.
— Pois bem. Posso ceder as terras do lado leste da montanha, para que plantem e não pereçam de fome. — Digo, e o rei levanta a cabeça, seus olhos encontram os meus, mas logo a abaixa, ciente da ousadia.
— O que deseja em troca, Dragão?
— Sua filha. — Minha exigência é abrupta, o rei se levanta rápido, um misto de indignação e pavor em seu rosto.
— Não posso fazer isso. Eu só tenho Aurora. Minha esposa faleceu no parto.
— A escolha é sua, rei. Sua filha, ou seu povo. — Falo calmamente, olhando em seus olhos.
Volto a andar em direção ao meu trono, cada passo uma afirmação do meu poder. Sento-me, olhando em volta. Essa caverna fria e sombria, iluminada apenas pelas tochas que eu mesmo ascendo, é meu lar, o refúgio que fui obrigado a aceitar, quando usurparam a vida de minha família. Eu tinha apenas 13 anos, estava começando a aprender a deixar de ser um menino humano, passando para essa minha forma, e fui obrigado a deixar tudo para trás, por uma ordem regida pelo meu pai, fugindo e me escondendo nesse lugar onde aprendi a viver na solidão, a me fortalecer com a dor, a aprender os dons que meu sangue carrega, não sou considerado humano por causa da minha maldição, porém vivo rodeado deles. Ter o rei de Parteam aqui, de joelhos, suplicando por minha benevolência, faz com que meu lado vingativo, ferido por tudo que sua maldita linhagem fez à minha, exija o preço que ele merece pagar, por ter extinguido minha linhagem, restando apenas a mim.
— Eu escolho o meu povo. — Ele fala com dificuldade, a voz rouca pela angústia.
— Ótimo. Mas não buscarei sua primogênita agora. Farei isso quando ela estiver na idade de cumprir com suas obrigações. No décimo oitavo aniversário, nenhum dia a mais, nenhum dia a menos.
— Não entendo. — O rei responde, engolindo a saliva, a incerteza e o medo evidentes em sua voz trêmula.
— Buscarei sua filha quando ela estiver pronta para cumprir com a obrigação de uma mulher, de uma esposa.
— Não, você não pode condenar a minha filha a uma vida ao seu lado. Você é um dragão!
— Prefere que eu a mate? — Pergunto repuxando o sorriso.
— Uma morte rápida, seria o melhor. Estarei a entregando como um sacrifício pelas terras.
— Infelizmente para você. Seu sacrifício é pouco pelo que deseja. A buscarei no décimo oitavo aniversário. — Minha declaração é final, e com ela, selo o destino de duas almas.
A de um rei desesperado e a de uma jovem inocente, que vou quebrar em pedaços, assim como me quebraram.
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( Degustação) Enfeitiçada pelo Dragão
Fantasy(Completa na Amazon) Era uma vez, nas profundezas de um vale esquecido pelo tempo, um reino que outrora se erguia majestoso. No coração desse reino, um amor proibido nascia em segredo, o jovem príncipe, amará não sua prometida, mas sim uma bruxa. Po...