Capítulo 5

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Aron

Observo-a de longe, sua figura frágil ainda ajoelhada onde a deixei, a luz do sol se despedindo do céu, manchando o horizonte de laranja e vermelho, como se o próprio estivesse em chamas.

O medalhão em minha mão pulsa, em uma energia antiga, chamando por ela, pois agora ele a tem como senhora, e apenas ela consegue o ouvir. Ela pertence a mim agora, e em breve, quando consumarmos a nossa união, não terá mais volta. Ela estará marcada pela maldição como a minha fêmea, a mulher que vai gerar o próximo dragão da minha linhagem.

Afasto-me ainda mais, adentrando no salão do trono, o eco dos meus passos resoa contra as paredes de pedra. Sento-me no lugar onde passo a maior parte do meu tempo, em meu trono que eu mesmo esculpi com minhas garras. O frio do granito, se misturando com o calor de minha pele, enquanto tamborizo minhas garras pensando no que fazer com Aurora.

— Ela vai sentir fome em breve. — A voz de Talrok rompe o silêncio.

— Sim, sim. Precisa alimentá-la. — Vhirl sussurra, sua voz como o vento que se infiltra pelas frestas da montanha.

— E o sono, a cama de pedra não é adequada para uma fêmea humana. — Bloomia murmura, preocupação tecida em cada palavra.

— Calem-se, vocês três. — Rosno, minha voz um grunhido baixo que reverbera pelo salão, fazendo-os recuar.

Quando vim para cá, para a grande montanha, me refugiando de tudo e de todos, a séculos atrás. Descobri que não estava totalmente sozinho, não no mundo espiritual. Encontrei Talrok, o espírito da rocha, foi ele que me ajudou a criar meu castelo sólido, me ensinou a esculpir com as garras e com o fogo. Talrok é um espírito de pedra, que mais se aparenta com um goblin de menos de um metro de altura. Também encontrei Vhirl o espírito do vento, foi ele que me ensinou a voar, a canalizar o ar do meu sopro, e que me acompanha entre as tempestades. Vhirl é um espírito sem face, uma névoa que serpenteia no ar. E por último e não menos importante, encontrei Bloomia, o espírito da flora, foi ele que me ajudou a fazer o lago, onde tenho os peixes que me alimento, quando não posso estar saindo da caverna para caçar, também cuida das plantas que crescem em algumas rachaduras da caverna, me monstra quais podem ajudar na cura e em qualquer outro mal estar que possa ocorrer. Ele é um espírito formado de folhas e galhos, da mesma altura de Talrok.

Os três acabaram se tornando meus amigos, quase uma família improvisada, enquanto eu crescia repleto de sofrimento.

— Ela é minha escrava, e não terá nenhuma regalia. — Digo ríspido.

— Você não é assim Aron? — Boomia, fala com sua voz suave.

— Esperei séculos por este momento, pelo sangue da família que me tirou tudo. Agora que tenho Aurora, não facilitarei para ela. Se ela deseja passar frio e fome, que assim seja. — Digo e ambos os espíritos suspiram pesado. Eles sabem mais sobre mim e minha família do que eu sei. Afinal eles estão aqui a muito mais tempo do que eu.

— Lembre-se, quando a noite cair, a temperatura cairá drasticamente. Pode ser fatal para ela. — Vhirl adverte, e eu posso sentir a verdade em suas palavras.

— Eu estarei na minha cama de pedra, quente e confortável. — Respondo, indiferente .

— Pense bem, Aron. Ela agora é sua esposa, você não viverá mais sozinho. Terá uma companheira, como deve ser. — Talrok tenta apelar para um lado meu que há muito foi esquecido.

— Ela não morrerá, eu a proibi disso. Seu corpo reagirá ao perigo. — Digo, confiante no poder da maldição que a protege.

Respondo a eles que somem da mesma forma que apareceram, me deixando sozinho, enquanto de longe admiro Aurora, com um sorriso repuxado. Não vou deixar as coisas fáceis para ela, pelo contrário, se ela quer congelar até quase a morte, que continue no mesmo lugar. Pois seu corpo vai procurar por calor no momento que se sentir ameaçado, e o calor sou eu.

( Degustação) Enfeitiçada pelo DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora