Capítulo 1

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Aron

— Eu imploro, Dragão. Imploro pelo meu povo; eles já não têm onde plantar, as terras estão estéreis. Meu povo definha a cada instante.

Ouço o rei de Parteam, sua voz embargada pelo desespero, implorar de joelhos, enquanto mantém a cabeça baixa, um gesto de submissão e respeito. Levanto-me do meu trono de pedra, o som grave do arrastar de minhas asas e o retumbar da minha cauda batendo no chão ecoam pela caverna. Minha forma humanoide, embora imponente, carrega a graça de um predador, e isso o amedronta ainda mais.

— Meu povo pereceu há séculos, vítima do seu antigo rei. O sangue dele corre em suas veias. — Minha voz é um sussurro calmo, mas carregado de uma ameaça velada.

— Mas isso foi há séculos, como o senhor mesmo disse. Eu não tenho culpa, nem meu povo, pelos pecados dos antepassados. Assim como o senhor não tem pelos seus, há sangue nos dois lados Dragão.

Sorrio, um esgar que mais parece um rosnado, caminhando ao redor do rei. Sinto o cheiro de seu medo, um aroma acre que invade minhas narinas e me enche de um prazer sombrio.

— Pois bem. Posso ceder as terras do lado leste da montanha, para que plantem e não pereçam de fome. — Digo, e o rei levanta a cabeça, seus olhos encontram os meus, mas logo a abaixa, ciente da ousadia.

— O que deseja em troca, Dragão?

— Sua filha. — Minha exigência é abrupta, o rei se levanta rápido, um misto de indignação e pavor em seu rosto.

— Não posso fazer isso. Eu só tenho Aurora. Minha esposa faleceu no parto.

— A escolha é sua, rei. Sua filha, ou seu povo. — Falo calmamente, olhando em seus olhos.

Volto a andar em direção ao meu trono, cada passo uma afirmação do meu poder. Sento-me, olhando em volta. Essa caverna fria e sombria, iluminada apenas pelas tochas que eu mesmo ascendo, é meu lar, o refúgio que fui obrigado a aceitar, quando usurparam a vida de minha família. Eu tinha apenas 13 anos, estava começando a aprender a deixar de ser um menino humano, passando para essa minha forma, e fui obrigado a deixar tudo para trás, por uma ordem regida pelo meu pai, fugindo e me escondendo nesse lugar onde aprendi a viver na solidão, a me fortalecer com a dor, a aprender os dons que meu sangue carrega, não sou considerado humano por causa da minha maldição, porém vivo rodeado deles. Ter o rei de Parteam aqui, de joelhos, suplicando por minha benevolência, faz com que meu lado vingativo, ferido por tudo que sua maldita linhagem fez à minha, exija o preço que ele merece pagar, por ter extinguido minha linhagem, restando apenas a mim.

— Eu escolho o meu povo. — Ele fala com dificuldade, a voz rouca pela angústia.

— Ótimo. Mas não buscarei sua primogênita agora. Farei isso quando ela estiver na idade de cumprir com suas obrigações. No décimo oitavo aniversário, nenhum dia a mais, nenhum dia a menos.

— Não entendo. — O rei responde, engolindo a saliva, a incerteza e o medo evidentes em sua voz trêmula.

— Buscarei sua filha quando ela estiver pronta para cumprir com a obrigação de uma mulher, de uma esposa.

— Não, você não pode condenar a minha filha a uma vida ao seu lado. Você é um dragão!

— Prefere que eu a mate? — Pergunto repuxando o sorriso.

— Uma morte rápida, seria o melhor. Estarei a entregando como um sacrifício pelas terras.

— Infelizmente para você. Seu sacrifício é pouco pelo que deseja. A buscarei no décimo oitavo aniversário. — Minha declaração é final, e com ela, selo o destino de duas almas.

A de um rei desesperado e a de uma jovem inocente, que vou quebrar em pedaços, assim como me quebraram.

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( Degustação) Enfeitiçada pelo DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora