Capítulo 2

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Ohana's point of view

Acordei sentindo o vento frio entrando pela porta da varanda que havia esquecido de fechar na noite anterior. Merda! Assim que lembrei do ocorrido, percorri o quarto com os olhos querendo encontrá-la, mas pelo visto ela nem dormiu no nosso quarto.
Levantei pra tomar um banho e ao terminar de escovar os dentes escuto a porta do quarto abrir.

-Bom dia! -Anitta falou meio sem jeito colocando as mãos nos bolsos da calça- Minha mãe pediu pra eu vir te chamar pra tomarmos café, só falta você.

-Já desço, só vou por uma roupa. -Ohana respondeu sem olhar pra ela enquanto passava seu hidratante labial.

Anitta ficou um tempo parada próxima a porta do banheiro a olhando, Ohana passou por ela para pegar sua roupa e voltou para dentro do banheiro. Ela já ia sair do quarto quando a loira a chamou, fazendo-a se virar.

-Larissa! Bom dia. -Disse simples e fechou a porta para se trocar. Coisa que ela nunca fazia quando estavam juntas, nunca se importou de ficar despida na frente dela. Mas estava decidida a colocar limites dessa vez.

-Bom diaaa meus amores! - Ohana falou animada quando entrou na sala de jantar - E essa mesa de café da manhã? Tô num hotel e não sabia? - Brincou arrancando risadas de (quase) todos.

-Bom dia norinha! -Miriam respondeu usando o apelido que sempre a chamava a fazendo travar por um momento e procurar Larissa com os olhos, encontrando-a encarando o prato enquanto mexia nos ovos. 

Ohana sorriu de lado ficando sem jeito, apesar de estar acostumada a ser chamada assim, naquele momento se sentiu deslocada.

-Vamos vamos que temos muita coisa para comprar e uma ceia pra preparar. -Marcia chegou chamando as irmãs.
Elas decidiram que iriam comprar um pinheiro de verdade para árvore de natal deste ano, ainda teria que comprar a decoração e as coisas do jantar. Acabou indo todo mundo, ficando em casa apenas nós duas.

-Podemos conversar? -Larissa perguntou quando a última pessoa saiu pela porta.

-Se for para bater na mesma tecla que sempre batemos, não. -Respondi meio seca

-Ohana, para com isso. Tenta me entender. -Suspirou pesadamente, já sentia um nó se formar na garganta.

-É o que eu faço todas as vezes, tentar entender o porque você age assim. E em todas elas você não foi clara comigo, e em todas elas eu relevei. Não acha que já foi o suficiente? -Respondi rude mais uma vez, tentando me manter firme

-Eu realmente só queria que a gente ficasse de boa, só hoje. Será que podemos? -Colocou o cabelo atrás da orelha me olhando

-Não vou fingir que nada aconteceu. Não dessa vez. -Levantei no banco e subi quase correndo pro quarto, vê-la a ponto de chorar me desmontava, mas eu não podia deixar que as coisas tomassem esse rumo mais uma vez.

Não vi Larissa pelo resto da manhã, quando deu o horário do almoço desci para preparar algo achando que ninguém tinha voltado ainda porque não ouvi vozes. Mas quando cheguei no final da escada já dava para ouvir as gargalhadas, metade da família estava decorando a árvore e a outra metade terminando de preparar o almoço. Estranhei não ver Larissa por ali, ela amava aquilo. Quando cessei meu pensamento, ela entra pela porta da cozinha que dava acesso ao quintal da casa que estávamos.

-Que bagunça é essa e porque ninguém me chamou? -Larissa gritou correndo até a sala- Vem vamos decorar também. -Me puxou pela mão para irmos pro lado que estava o pinheiro.

Soltei minha mão da sua e fui para o outro lado onde estava Manu, pegando alguma decoração na caixa que nem vi muito bem o que era.
Terminamos de decorar e almoçamos sem nem nos olhar. Quando finalizamos a refeição, Larissa resolveu ir ajudar sua mãe na cozinha, aproveitei pra subir pro quarto. Estava muito desconfortável estarmos assim, mas eu não conseguia simplesmente fingir. Quando peguei a toalha para entrar no banho, ela entrou pela porta batendo a mesma para que fechasse.

-Nós vamos conversar agora! -Falou em um tom autoritário.

-Ué, Anitta chegou aqui? -Falei ironicamente

-Eu quero resolver as coisas entre a gente, Ohana. -Soltou meio raivosa.

-Talvez seja tarde. -Falei no mesmo tom que ela usou e entrei pro banheiro trancando a porta. Odiava quando ela queria dar ordens fora do trabalho. E me odiava por estar agindo igual uma bacaca, não consegui evitar.

Demorei no banho de propósito na intenção de que ela não me esperasse terminar. E então, quando eu sai, ela não estava mais lá. Ótimo!

Anitta's point of view

Não estava mais aguentando essa situação. Não dormi a noite passada, fiquei a madrugada inteira me martirizando por ser uma fraca. Achei que quando o dia chegasse traria com ele alguma paz ou esperanças de que tudo se normalizaria, mas foi bem diferente. Ver e sentir ela me tratando daquela forma estava acabando comigo. Eu estava sentindo aquilo voltando de novo, aquela sensação terrível e angustiante.
Depois que ela entrou no banheiro sem ao menos me escutar, senti o peito apertar e o ar começar a faltar. Droga, de novo não! A cada vez que eu tentava parecia ser ainda mais difícil respirar. Desci correndo e fui para a parte de trás da casa, precisava ficar sozinha.
Passando pela cozinha acabei esbarrando na minha mãe que ficou sem entender o que estava acontecendo. As lágrimas já escorriam sem parar, meu coração acelerava como se eu tivesse correndo numa maratona. Pouco tempo depois senti alguém abaixar ao meu lado, era minha mãe.

-Minha filha o que aconteceu? -Soltou em tom de preocupação levantando minha cabeça.

-Mãe, me ajuda. -Falei em prantos me jogando nos braços dela que me acolheu no colo como se fosse um bebê.

Desde o meu último relacionamento, comecei a ter crises de ansiedade. Ele fazia comigo o tratamento do silêncio várias e várias vezes, isso me destruía. Não sei nem contar a quantidade de vezes que cheguei na casa da minha mãe da mesma forma que eu tô agora. A muito tempo não tinha uma crise assim, acontece que a forma que Ohana agiu me fez lembrar daquela época. Sei que ela não fez intencionalmente, afinal, ela nem sabe disso. Nem ela e nem ninguém além da minha mãe e meu irmão.
Depois de me acalmar um pouco pelo que pareceu uma hora, resumi rapidamente para minha mãe o que tinha acontecido que me causou gatilho. Logo depois subi para o quarto com ela, que tentou fazer parecer que tava tudo bem para que o resto da família não percebesse.
Ao chegar no quarto ela me sentou na cama e se sentou ao meu lado, já que Ohana estava no banheiro e eu não poderia banhar agora.

Ohana saiu do banheiro com seus fones no ouvido cantarolando alguma música baixinho.

-Ai que susto -Disse ela tirando os fones e dando um pequeno salto ao nos ver ali. -O que foi que aconteceu? -Ela veio correndo até mim quando notou meus olhos inchados pelo choro.

-Eu só preciso de um banho agora. -Respondi com a voz baixa já indo em direção ao banheiro-Sozinha, por favor. -Completei quando ela em minha mãe vinham até mim.

-Ah, tudo bem. Estarei aqui quando terminar. -Ohana avisou.

-Eu também, minha filha, qualquer coisa chame. -Minha mãe falou.

Talvez seja tarde - Ohanitta Onde histórias criam vida. Descubra agora