um: cacofonia frenética

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O calor úmido de São Paulo envolvia as ruas movimentadas enquanto Stella se apressava pela Vila Olímpia, da estação de trem até a agência onde trabalhava. O clima indicava o fim do verão: o calor e a umidade das chuvas fortes que caíam durante o dia. Os sons das buzinas, vozes emaranhadas e passos rápidos ecoavam ao seu redor, misturando-se em uma confusão animada que parecia definir a energia pulsante da cidade. São Paulo, não é mesmo? Sempre cheia de gente apressada, correndo para lá e para cá.

Com um copo descartável de iced coffee na mão, Stella habilmente se esquivava dos pedestres, observando distraída a rua e as pessoas ao seu redor enquanto mentalmente repassava as tarefas do dia e os pedidos de ajustes dos clientes. O volume dos fones de ouvido estava no máximo, embalando-a com Kpop, sua trilha sonora favorita para acompanhar o ritmo frenético de São Paulo.

Quase dois anos atrás, Sté, como a maioria a chamava, deixava Minas Gerais para trás e se aventurava em São Paulo, em busca de novas oportunidades e energias. Não foi fácil se adaptar à loucura da vida paulistana, mas ela estava se saindo bem, aos poucos. No entanto, havia momentos em que o cansaço batia forte.

A caminho do prédio da Momentum Marketing Solutions, Sté deu um gole no café gelado e engoliu qualquer cansaço que pudesse sentir - afinal, ela amava o trabalho, apenas a rotina era intensa. Um passo de cada vez; um post nas redes sociais de cada vez.

O prédio era colossal: duas torres enormes de vidro espelhado, que pareciam se contorcer à distância, mas era só um truque de arquitetura. Tudo exalava luxo, desde a recepção com balcão de mármore até o reconhecimento facial na catraca dos elevadores. E nem precisava escolher o andar, a catraca fazia tudo!

No elevador espelhado, ela se juntou a uma mistura de pessoas - executivos de terno, jovens descolados de jeans e tênis, fashionistas impecáveis e executivas de salto alto, que Sté achava um instrumento de tortura.

A Momentum ocupava o 20º andar da torre Norte. Ao colocar a digital no leitor, portas de vidro se abriram para a recepção, com algumas poltronas e sofás. Nas paredes, troféus e prêmios da agência, com destaque para as cores roxo profundo e bronze, reforçando a identidade da marca. Atrás da recepção, uma placa de bronze exibia o nome "Momentum".

Stella acenou para Alice, a recepcionista, e acessou a área interna dos colaboradores. Cumprimentando os colegas, parou na estação de café, descartou a embalagem do iced coffe no lixo reciclável e encheu a garrafinha de água antes de chegar à equipe de produção de conteúdo, onde todos tinham uma função específica para atender aos muitos clientes da agência.

Descansando a mochila no chão ao lado da cadeira em que costumava sentar, Sté puxou o notebook para a mesa. Sua mesa não tinha muita coisa para não virar bagunça, durante o dia ela acabava largado cabos, microfones e outros acessórios por ali, então preferiu não decorar muito. Somente uma foto com a amiga Juliana. Era parte da rotina: organizar todos os dispositivos, cadernos e acessórios necessários para o trabalho e ligar o notebook na tomada. Só depois de fazer o login é que ela retirava os fones de ouvido para bater papo com a galera do time.

Saindo da baia, ela foi direto para a estação de trabalho do Rafael. Ele já estava lá, como sempre.

"Booom dia, princesa!" Rafael provocou, com um sorriso.

Rafael era um homem preto, alto, com ombros largos e cabelos encaracolados. Seu estilo casual - calça jeans justa, camisa azul clara e tênis sneakers brancos - destacava-se na agência, onde gerenciava os influenciadores e apoiava o time de criação.

"Ah, Rafa, você nunca muda mesmo." Sté deu um abraço apertado. "Tudo bem por aí? Dormiu bem?"

Rafael revirou os olhos. "Trem lotado, calor de São Paulo... Mas estamos aqui, prontos para mais um dia!"

"Eita, meu Deus, como reclama. Ei, ei, ei, não vem com essa tonelada de energia negativa pra cá não que hoje, finalmente, eu acordei de bom humor." Sté sorriu. "Até fui pra academia logo cedo. Tenho a sensação que vem coisa boa aí."

Bárbara se juntou a eles. "Coisa boa? Não sei, mas tem cliente importante chegando."

Bárbara era uma mulher de estatura mediana, um pouco mais alta que Stella, com cabelos longos e ondulados em tom castanho escuro. Seu estilo no ambiente corporativo era simples, optando por calças jeans, blusas em tons neutros (geralmente preto, branco, cinza ou bege) e sapatilhas escuras. Como parte da equipe de social media da agência, ela cuidava da estratégia de publicações, elaborava calendários de conteúdo para os clientes, conduzia briefings para o time de criação e preparava relatórios de dados.

Sté ficou curiosa.

"Grupo Alturia?", disse Rafael.

Bárbara confirmou, falando sobre o boato do novo hotel de luxo na Argentina que o Grupo iria inaugurar. "Eles estão crescendo, e parece que vão fechar contrato hoje."

Rafa ficou animado. "Tomara que venha pra mim! Quero conhecer a Argentina!"

Sté, preocupada com a carga de trabalho, resmungou: "Será que vão contratar mais gente?"

Bárbara encorajou: "Vai dar tudo certo, amiga!"

Sté deu de ombros. "Um trabalho a mais, um a menos. Tudo bem."

"Vou indo, tenho conteúdo para entregar." Sté se despediu, pronta para mais um dia na agência.

E assim, Sté deixou Rafael e Bárbara conversando enquanto seguia para o banheiro. Lavou as mãos e deu uma arrumada rápida no cabelo. Com seus 1,65 metros de altura e aproximadamente 70 kg, Sté era o que se pode chamar de autêntica. Seu corpo era médio e bem distribuído, com um rosto anguloso e marcante, sobrancelhas grossas e bem definidas, olhos amendoados com cílios longos, e um leve toque de verde no castanho claro que os compunha. Algumas sardas quase invisíveis pontuavam o rosto, enquanto suas maçãs eram bem definidas e os lábios naturalmente carnudos. Seus cabelos, sempre em constante mudança, destacavam-se ondulados e coloridos, trançados lateralmente neste dia com alguns fios soltos. Com uma camiseta branca, uma jardineira jeans um pouco larga e sneakers brancos, seu visual era completado por uma maquiagem leve, e acessórios coloridos com um toque de prata. Após piscar para si mesma no espelho, ela secou as mãos e retornou à sua mesa.

Sté era o que se podia chamar de "content producer" ou filmaker, dominando diferentes formatos para as redes sociais, desde vídeos curtos a reels e stories. Seu amor estava na produção em tempo real usando o celular, capturando e compartilhando momentos únicos. Sentando-se à sua mesa, encontrou seu computador já pronto, com suas muitas abas abertas no navegador, refletindo a confusão de sua mente criativa e caótica. Mesmo com todas as ferramentas de organização, como Trello e listas de tarefas, ela sempre conseguia se perder.

Após checar suas demandas do dia no Trello, Sté começou a editar um vídeo, mas foi interrompida por uma mensagem da chefe solicitando uma rápida apresentação das entregas atuais da equipe. Quando terminou, já passava das 11h, e ela percebeu que toda a liderança estava em reunião com o Grupo Alturia, e até mesmo Rafael havia sumido da mesa.

Mexendo no celular para agilizar a edição do vídeo já atrasado, Sté levantou e foi até a estação de café próxima dos banheiros para repor a água de sua garrafinha e pegar uma xícara de café. Com a cabeça a mil, ela encheu a garrafinha, preparou o café, e começou a bebericar distraída enquanto se virava para voltar à mesa. No entanto, seu primeiro passo resultou em um desastre: ela esbarrou em algo sólido, derrubando café em si mesma e na pessoa à sua frente.

Virando-se rapidamente, Sté começou a se desculpar freneticamente, pegando papéis para ajudar a limpar a bagunça. O homem à sua frente parecia um pouco inflexível e resmungava enquanto se limpava.

"Ah, MEU DEUS! E eu disse que esse seria um dia bom! Pelo visto, dei uma de lerda mais uma vez. Foi mal, desculpa mesmo, cara," disse Sté, focada em limpar a roupa do homem sem se importar com a sua própria situação.

Ao olhar para cima, ela recuou meio passo, percebendo que não estava lidando com um colega da agência, mas provavelmente um cliente. Piscando duas vezes para colocar sua mente no lugar, ela focou nos detalhes: ele era alto, talvez 1,90 metros ou mais, com um tom de pele bronzeado e cabelos desordenadamente charmosos. Seus olhos castanhos médios, sobrancelhas grossas, nariz e maxilar bem definidos, sem barba, complementavam sua aparência elegante. Vestindo um terno azul de alta costura, camisa branca e gravata azul escura, ele exalava um cheiro marcante de algo torrado, terroso, forte...

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