Respirando fundo, puxando pelo nariz e soltando pela boca, Matheus tentava manter a calma diante do imprevisto que bagunçou seu dia. Tudo o que fugia do seu controle meticulosamente planejado era um verdadeiro desafio para ele, embora soubesse que contratempos eram parte da vida.
"O que aconteceu?", indagou Hugo, surpreso, ao ver Matheus na recepção. Ao seu lado, Nathália também se aproximou, preocupada. Rapidamente, ela pegou alguns guardanapos da estação de café ao perceber a mancha de café na camisa de Matheus e tentou ajudar.
"Está tudo bem, não se preocupe", tentou tranquilizar Matheus, evitando maiores alardes e afastando as mãos de Nathália para que não se aproximasse muito. "Foi apenas um pequeno incidente com uma garota de cabelos coloridos distraída", explicou rapidamente, desejando encerrar o assunto.
"Agradeço, Nathália. Aqui está meu cartão, caso precise de algo, pode entrar em contato diretamente comigo ou com Hugo, meu assistente", concluiu Matheus, saindo da recepção ao lado de Hugo, deixando Nathália surpresa com a abrupta interrupção, segurando um cartão em uma mão e guardanapos na outra.
"Tem um conjunto reserva na sede ou preciso voltar para casa?", indagou Matheus, mudando de assunto.
"Claro que sim, Matheus. Enquanto isso, já vou providenciar seu almoço", respondeu Hugo, pronto para resolver a situação.
Eles levaram cerca de 20 minutos da agência até o Hotel Alturia, localizado no bairro Itaim Bibi. Durante o trajeto, Hugo assumiu a direção enquanto Matheus tentava organizar seus pensamentos e se distrair mexendo em alguns documentos do Grupo no iPad.
Estacionaram o carro em frente ao imponente Hotel Alturia, um verdadeiro complexo que ocupava praticamente todo o quarteirão, oferecendo hospedagem, bares, restaurantes, área de lazer e muito mais. Era conhecido como o maior hotel de São Paulo, e tanto seu restaurante quanto o rooftop eram pontos de encontro populares para os paulistanos, não apenas para refeições, mas também para happy hours, além da deslumbrante vista oferecida pelo rooftop.
Adentraram o saguão rapidamente, cumprimentando os colaboradores com acenos de mão enquanto passavam. Normalmente, Matheus fazia questão de desejar bom dia ou boa tarde a todos, mas, com a camisa manchada e o ocorrido inesperado, ele estava mais reservado naquele momento.
Dirigiram-se ao andar administrativo, onde Matheus se encaminhou para sua sala. Enquanto isso, Hugo já estava em contato com a recepção para providenciar uma suíte presidencial para que Matheus pudesse trocar de roupa.
Foi ali também que eles aproveitaram para almoçar juntos.
"Descubra quem era a garota. E mande a camisa diretamente para ela, pedindo para lavá-la e devolvê-la sem manchas. Na verdade, nem preciso mais dessa camisa, posso descartá-la. Mas vamos ver até onde isso vai...", comentou Matheus enquanto saboreava sua refeição.
O sabor do prato do Restaurante Alturia parecia ter um efeito relaxante e tranquilizador sobre Matheus.
"Isso não é exagero?", questionou Hugo, um tanto receoso da resposta. Matheus apenas deu de ombros, demonstrando indiferença, e continuou a comer. "Está tudo bem, então", concluiu, encerrando a conversa.
______________
Stella deixou a caneca e a garrafinha na estação de café e correu para o banheiro para se limpar, xingando-se por ser tão desatenta, tão lerda!
Agora estou realmente encrencada. Será que vou perder o emprego? Faço tanta besteira! A mente de Sté estava a mil por hora, tentando prever todas as consequências de seus atos negligentes, enquanto umedecia mais alguns papéis toalha para tentar tirar um pouco do café da jardineira e, principalmente, da blusa branca que estava por baixo. Aquela era a que ela mais gostava, poxa!
Saindo do banheiro, pegou a garrafinha e mais café em uma nova caneca e se dirigiu para sua mesa, ainda de cara emburrada. De longe, conseguiu ver que Nathália estava à sua espera com um semblante nada amigável. Bem, assim Stella sabia porque já tinha reparado no comportamento da diretora. Por fora, a perfeição em pessoa, sempre muito educada e estruturada. Mas por baixo daquela maravilha que encantava a todos, Sté conseguia perceber as nuances, as diferenças de humor, e quem ela realmente era.
Respirou fundo, apertou o passo e se dirigiu até a mesa, colocando a caneca e a garrafa na mesa enquanto se sentava e falava com Nathália.
"Bom dia, Nath. Posso ajudar em alguma coisa?", disse Sté sem muito ânimo.
"Bom dia, Stella," disse Nathália. Ih, usou o nome todo. Provavelmente Nathália já sabia do ocorrido e aquela pessoa deveria ser alguém importante. "Então você simplesmente joga café no presidente do Grupo Alturia e tá tudo bem?", a irritação tremulava por debaixo do tom baixo e do sorriso de Nathália.
"Eu não jo..." Sté começou, mas foi interrompida.
"Espero que isso não nos faça perder a parceria ou é seu último dia aqui," Nathália bateu as pestanas algumas vezes, forçando ainda mais o sorriso enquanto saía para sua mesa.
Desanimada, Sté se voltou para suas coisas, seu celular ainda renderizando o vídeo que precisava entregar. Uma mensagem no chat de Rafael apareceu.
"Vamos almoçar?"
"Podem ir vocês," digitou Sté. "Eu vou ao shopping comprar algumas roupas para ficar mais apresentável."
"O que aconteceu?" enviou Bárbara.
"Nós vamos com você!" respondeu Rafael.
"Terminei aqui, então vamos. Conto pra vocês no caminho. Espero vocês na recepção," Sté encerrou a conversa.
Pegou celular e carteira e foi se encontrar com Rafael e Bárbara no hall dos elevadores, tentando esconder um pouco da burrada que fizera com os braços cruzados.
O shopping ficava do outro lado da rua. Infelizmente era um shopping de bacana, como ela mesma o chamava, shopping de gente rica, de luxo, repleto de lojas caras e fora do alcance dela. Felizmente, havia uma única C&A ali, o que a ajudaria.
Enquanto caminhavam em direção ao shopping e à loja de departamento, Sté explicava em detalhes o que aconteceu para seus colegas de trabalho.
"Eita, amiga. Mas ele é gato, muito gato. Pensa que você esbarrou no amor da sua vida," Rafael começou a brincar.
"Calma, a Nath não é tão ruim assim, ela só tem muita pressão sobre ela. Mas vai ficar tudo bem. Ouvi dizer que a reunião com a Alturia foi um sucesso," acrescentou Bárbara.
"Foi mesmo. Apresentei a estratégia de influenciadores para eles e o time de marketing pareceu adorar. O CEO, Matheus, apenas anotava e concordava com a cabeça enquanto falávamos," continuou Rafael. "Mas ainda assim, ele é bem gato. Ele e aquele secretário dele, Hugo. Precisa ser lindo para trabalhar naquela empresa? Por que não me levam?", brincou.
"Já viu rico feio, Rafa? Não passa disso! Médicos, produtos de estética, tempo, boa noite de sono, tudo pronto e arrumado, zero estresse, enfim... É claro que não vai ser feio," respondeu Sté, já azeda pelo ocorrido naquela manhã.
Na loja de departamento, escolheu uma calça jeans das mais baratas que cabia bem em seu corpo e uma camiseta simples, preta, que estava em promoção. Pagou com o cartão de crédito e subiram até a praça de alimentação para almoçar.
Depois do almoço, quando voltaram para o escritório, havia um pacote em cima da mesa de Stella com um recado escrito à mão. Aquela era a letra de Nathália.
"Devolva para mim sem nenhuma mancha ou cheiro forte. Impecável," estava escrito.
Sté abriu a sacola de papel kraft e dentro estava a camisa manchada de café de Matheus, CEO do Grupo Alturia. Rafa havia lhe contado quem ele era no almoço.
Com um suspiro forte e uma onda de raiva, tacou a sacola no chão com força ao lado da mochila e voltou para seus afazeres.
Vou lavar porcaria nenhuma, isso sim!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre Likes e Temperos
RomanceEm meio ao caos e à agitação implacável de São Paulo, onde a busca por sucesso e identidade se entrelaçam nas ruas movimentadas, surge uma história de encontros improváveis e descobertas surpreendentes. Matheus, um líder empresarial imerso no mundo...