"Iiiiih, não gosto de te ver assim. A medicação está em dia? Perdeu alguma coisa? Alguém desmarcou um compromisso?" Felipe analisava o semblante do amigo com as sobrancelhas arqueadas, tentando adivinhar o que poderia ter acontecido. Matheus permaneceu calado. Além de todo resto, também lhe incomodava as piadinhas sobre medicação.
"Ele não vai falar, mas uma estrela caiu na cabeça dele, por assim dizer. Ou meio litro de café," Hugo soltou uma risadinha e recebeu um olhar feio do chefe.
"Não é nada disso. Só me senti sozinho por um momento, deslocado. E essa semana está bem atribulada também com a contratação da nova agência. Pelo menos agora definimos quem vai ser e estamos em vias de assinar o contrato," Matheus tentou encerrar aquelas provocações bobas, mesmo sabendo que era assim que o amigo demonstrava preocupação. Mas ele não estava com vontade de falar.
Mas parecia que de tudo o que havia sido dito, Felipe só focou em uma palavra: "estrela".
"Quem é ela?" perguntou, enquanto recebia o copo de chopp do garçom.
"Uma garota que trabalha na agência, meio linguaruda. Parece mais nova, cabelos coloridos. Uma luz para essa seriedade e rigidez toda," Hugo nem deu tempo para o chefe responder e já foi logo contando.
Matheus estalou a língua, dando um gole no chopp. Hmmm... Refrescante. Não era bem assim. Sim, ela era bem impetuosa. De primeira, ele só havia ficado irritado pela camisa. Depois se divertiu ao provocá-la, sem considerar os sentimentos dela, mas também sem maldade. Só que agora estava até um pouco... intrigado. E de cabeça cheia.
"Mas não tem nada a ver," tentou encerrar o assunto. "É uma pirralha da agência que entornou café quente na minha camisa. Provavelmente nem nos veremos mais, já que agora todas as demandas serão tocadas pelo time de marketing. Não vou mais lá."
"Então por que a chamou de 'estrela colorida'? Nem vem com esse papo," retrucou Hugo.
"Ele a chamou assim?", perguntou Felipe, caindo na risada. Hugo concordou e riu junto.
"Vocês dois não têm jeito mesmo. Vou embora. A conta é de vocês," Matheus levantou exasperado, deixando o copo praticamente cheio em cima da mesa.
Pegou a chave do carro com Hugo sem dar mais brecha pra papo e foi embora. Só sua casa, um bom banho e suas coisas colocariam sua cabeça no lugar.
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Sté e os amigos já tinham bebido três baldes inteiros de cerveja, com 5 garrafas de 600 mL cada um. Algumas pessoas já tinham ido embora, ficando ali apenas Rafa, Bárbara, Sté e Ju.
"Sabe, eu realmente errei. Derramei café nele. Pedi desculpas. Acidentes acontecem. Não entendo essa provocação toda", desabafou Sté após tomar um longo gole de cerveja, esvaziando quase metade do copo. Estava sedenta.
Pediram uma porção de batatas, já que Stella não havia comido nada o dia todo. Mas ela mal tocava na comida.
"Come um pouquinho, vai, Sté", insistia Rafa.
"Não quero, não tô com fome, tô com raiva", disparou, agora mais solta por causa do álcool.
"O ponto é: não adianta ficar com raiva, só esquece. Isso não vai dar em nada. Ele não vai te chamar para o projeto. Ou se você entrar, vocês terão pouquíssimo contato porque ele tem mil e uma coisas pra fazer e é isso", Ju tentou ser a mais sensata do grupo. Além do mais, bebia pouco e devagar, cuidando da amiga.
"Quem tem mil e uma coisas pra fazer?", disse uma voz masculina que não costumava frequentar esses rolês com eles.
Os quatro olharam para a pessoa em pé ao lado da mesa. Agora sem terno, apenas com uma camisa branca com as mangas dobradas até os cotovelos, sem gravata, cabelo um pouco mais despenteado do que o habitual e usando óculos casuais. Mesmo mais informal, ele parecia completamente deslocado em um lugar como aquele. Lindo, mas deslocado.
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Entre Likes e Temperos
RomanceEm meio ao caos e à agitação implacável de São Paulo, onde a busca por sucesso e identidade se entrelaçam nas ruas movimentadas, surge uma história de encontros improváveis e descobertas surpreendentes. Matheus, um líder empresarial imerso no mundo...