Há aqueles momentos em que as coisas mais importantes de nossas vidas acontecem, e só percebemos isso muito tempo depois. Eu certamente estava procurando por outra coisa quando a encontrei, e ainda assim nem sei ao certo o que encontrei.
Depois de algum tempo andando por aí e não falando com ninguém além de Brian, que cumprimentava algumas pessoas, creio que ele já chegou onde queria. Nem sei como deve ser essa sensação, saber que as pessoas sabem que você é real. Enquanto ele cumprimentava outras pessoas, nossas conversas particulares se resumiam a nostalgia, coisas que fizemos no passado e que, na realidade, não faz tanto tempo assim. Mas é incrível como parece que passaram séculos cada vez que lembramos de algo bom. A festa acabou, e agora havia muitos adolescentes indo ao banheiro, se livrando de todo o suco e carboidratos que haviam ingerido. Eu não era uma exceção, mas resolvi explorar o campus. Havia um lago que Brian mencionou, e eu queria ver onde algumas pessoas se reuniam para jogar pedras na água. Hahaha, cada vez mais engraçado.
Passei em casa e peguei minha edição de *Moby Dick*. Sabia que uma vista bonita não seria suficiente para me manter introvertido; afinal, eu precisava continuar explorando aquele universo e saber onde daria meu destino final. Cheguei ao lago. Era tão bonito quanto Brian havia mencionado. Queria ler o máximo possível antes de escurecer, afinal, o lugar provavelmente não era tão iluminado à noite.
Abri o livro e comecei a ler em voz alta:
> “A viagem do Pequod teve uma particularidade interessante, digna de ser mencionada aqui. Cada um de seus inúmeros degraus foi um convite ao perigo, à aventura e à luta. Uma luta tão vasta quanto o próprio oceano, tão profunda quanto o inferno. Mas, afinal, o que é o homem diante da grande baleia? Apenas um ponto no horizonte, um mero grão de areia nas praias infinitas do tempo.”
Fechei o livro por um momento e olhei para o lago. "Interessante. Aqui estou eu, um ponto no horizonte, tentando descobrir o que é importante e o que não é. E talvez, apenas talvez, eu devesse parar de tentar tanto e simplesmente deixar a maré me levar."
"É um trecho bonito", disse uma voz vinda do nada. Procurei para ver de onde vinha. Estava atrás de mim, uma garota de altura média, vestindo uma calça jeans, uma jaqueta e uma camisa com gravata. Ela tinha cabelo curto e azul, que caía suavemente sobre os olhos, conferindo-lhe um ar de mistério e doçura.
— É... *Moby Dick* — falei de forma desajeitada.
— Eu sei — disse ela sorrindo. — Por que está aqui sozinho? — perguntou, enquanto se aproximava e sentava ao meu lado à beira do lago.
— Ah, eu... não sei... Mesmo que eu soubesse, não saberia explicar a ela. Estava nervoso; a única garota com quem conversei além da minha prima foi a minha mãe.
— Estranho — disse ela, dando a risada mais fofa que já vi.
— Você acha? — questionei, envergonhado.
— Não acha estranho não saber por que fazemos as coisas? Se bem que seria um tédio saber o porquê de tudo que fazemos. Tiraria a emoção de muita coisa.
Não sabia bem se havia entendido o que ela queria dizer, mas eu também estranharia minha resposta.
— Você parece apaixonado — comentou ela.
— O quê? — questionei, ficando quase vermelho.
— Calma, não estou dizendo que é por mim, mas não seria nenhuma surpresa. É que você está aí com essa camisa florida, lendo *Moby Dick* à beira de um lago. Então, não que seja por alguém, mas você está apaixonado por algo, talvez pelo livro, talvez pela vida ou por uma ideia.
— Acho que você está enganada — respondi.
— Só acha isso porque não sabe quem eu sou.
— E quem é você? — questionei.
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Sem Tempo Para Mudanças
RomanceEm busca de amizades, o jovem Nolan Clark toma uma decisão corajosa: mudar-se para um colégio interno. Determinado a deixar a solidão para trás, ele se depara com Angela, uma garota misteriosa que se autodenomina a deusa Afrodite. A partir desse enc...