POV RICHARD

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Washington, D.C., 1981.

- Já falei pra cair fora, Kristen! - Jake gritou irritado com a pentelha. - Eu vou chamar a mamãe!

- Tá bom, eu já vou indo. Você é insuportável, sabia? - Ela respondeu. - Eu só vim trazer umas cervejas, seu chato!

Kristen era a irmã caçula de Jake, meu melhor amigo. Ela tinha 17 anos e era uma peste. Sempre provocando e se intrometendo em tudo.

Eu e Jake nos conhecemos no primeiro ano do ensino médio, graças a um cartaz onde ele recrutava um baterista. Agora, aos 21 anos, nossa banda começou a fazer barulho na cena crescente do Heavy Metal, finalmente.

- Você inventa essa desculpa a séculos para beber escondido com as suas amigas. - Ele retrucou mais irritado ainda. - Agora pega as suas latas e cai fora!

Estávamos ensaiando na garagem de sua casa, eu, ele e Noah, nosso baixista. Nos preparando para a turnê de estreia do nosso primeiro álbum com uma gravadora grande. Finalmente sentíamos que as coisas iam dar certo.

- Eu já estou saindo. - Ela lhe mostrou a língua. - Meu Deus, que surtado.

Eu e Noah não conseguimos deixar de gargalhar com a provocação dela. Jake nos olhou feio e nem reparou que ela foi embora sem as latas.

Ele pensava que ela invadia nossos ensaios constantemente por conta das bebidas, mas eu sabia que não era isso. Todos os dias a garota inventava uma desculpa diferente para estar perto de mim.

Kristen estava apaixonada e eu sabia. Desde que fui pela primeira vez visitar Jake, a pegava me espiando pelo canto do olho e aos risinhos com as amigas quando eu estava por perto.

Seu rosto se tingia em um vermelho vivo todas as vezes que eu falava com ela e era divertido de se assistir. Alimentava o meu ego masculino a reação que eu causava nela.

Apesar de ser engraçado e fofo, eu não sentia nenhuma atração por ela. Não é que não fosse bonita. Ela era e muito. Mas ainda era menor de idade e não fazia o meu tipo. Além de que, com certeza, mataria a minha amizade com Jake e meu lugar na banda. Não valia a pena arriscar meu sonho por uma adolescente que ainda estava em seu último ano da escola.

- Essa pentelha ainda vai me deixar maluco! Eu estou avisando. - Ele disse voltando ao seu posto de vocalista, pegando a guitarra do chão.

- Esquece isso, cara, foca a sua raiva na música. - Noah revirou os olhos ao falar, pegando uma lata de cerveja e passando para mim.

Dei alguns goles na cerveja e a coloquei ao lado da bateria, pegando minhas baquetas novamente.

Recomeçamos a tocar de novo. Uma música nova com a letra falando sobre uma garota de botas de cowboy e jaqueta de couro que havia traído o namorado numa festa. Se chamava "Queen of the night". Era bem ruim, mas o melhor que tínhamos por enquanto e a gravadora havia gostado.

Compor não era bem o nosso forte, talvez nos faltasse uma boa inspiração. Escrever canções envolve uma certa lapidação que somente os anos de prática podiam dar.

Tocamos de novo e de novo até Jake se dar por satisfeito.

- Já deu de ensaio por hoje? - Perguntei, com meus dedos já doendo.

- Você é um fracote, em, Richard. Sempre é o primeiro a ficar cansado. - Noah debochou. - Que maricas...

- Vai se foder. - Devolvi, mostrando o dedo do meio. - Eu já vou indo. Tchau pra vocês, otários.

Me despedi dos dois e me dirigi à porta do porão.

- Eu vou ficar mais um pouco, tenho que afinar meu baixo. O som não estava muito legal...

- A culpa não é do baixo se você toca igual a sua cara. - Jake gargalhou.

Eu não ouvi mais a resposta do Noah, pois já havia saído.


Já na rua, o vento frio era cortante. Estávamos no início do outono e a jaqueta que eu vestia não era o suficiente para aparar o frio daquela madrugada.

Eu caminhava em meio a uma fina garoa, com as mãos no bolso e pensando em nada em particular. Já estava na metade do caminho de casa quando percebi passos hesitantes atrás de mim.

Merda, só me faltava ser assaltado a essa altura do campeonato.

- Se for me assaltar, saiba que só tenho 2 dólares na carteira. - Falei desinteressado, parando de andar mas não virando para trás.

- Eu não vou te assaltar. - A voz que me respondeu me pegou de surpresa.

- Kristen? - Virei-me chocado. - O que você tá fazendo? Você tá doida? São 2h da manhã!

- Eu queria conversar com você...

- E não podia esperar? - A repreendi. - Eu estou literalmente na sua casa todos os dias.

- É, mas eu queria conversar com você a sós. - Suas bochechas coraram. - Você está sempre perto do meu irmão.

- Só me faltava essa agora... - Resmunguei, revirando os olhos. - Que ideia é essa de me seguir de madrugada? Vai pra casa, garota.

- Mas...

- É perigoso você estar andando por aqui a essas horas. - A interrompi. - Vamos, eu vou te levar de volta.

Comecei a pegar o caminho inverso, mas ela não me acompanhou.

- Vamos logo! - A chamei, já começando a ficar irritado.

- Eu não vou até você conversar comigo. - Ela cruzou os braços e formou um bico. - Eu não andei tudo isso a toa.

- Tá bom, tá bom. - Levantei as mãos em rendição. - A gente pode conversar enquanto eu te acompanho até a sua casa, pode ser?

Ela assentiu levemente e foi até mim.

Durante o caminho, ficou muda e mexia as mãos nervosamente. Kristen usava um suéter fino e aparentava estar com frio pela maneira como seus dentes batiam de leve.

Eu poderia oferecer a minha jaqueta, mas aquilo não era problema meu. Eu não pedi que ela saísse na friagem para correr atrás de mim.

- Por que está tão quieta? Não era você quem queria conversar? - Quebrei o silêncio desconfortável.

- Bem... Eu não sei por onde começar... - Ela baixou o rosto, tão vermelha quanto um tomate.

Por alguma razão, eu sorri de leve com a cena.

- Que tal começar dizendo que gosta de mim. - A provoquei.

- Como... Como você descobriu? - Sua voz se elevou, gaguejando cheia de constrangimento e ela parou de andar de supetão. - Não foi a Elisa que te contou, foi?

Elisa era a sua melhor amiga. As duas viviam grudadas, como gêmeas siamesas, cantando ABBA aos berros e dando voltas pela mesa da cozinha.

- Não, ela não contou nada. É só que você não disfarça tão bem quanto pensa. - Dei uma risada.

- Por que está rindo? - Ela recomeçou a andar de cara amarrada. - Não sou boa o suficiente para você? É isso?

- Você é uma pirralha, Kristen, pelo amor de Deus...

- Eu sou a pirralha mais interessante que você já conheceu, para a sua informação! - Ela parecia muito zangada.

- E o que essa pirralha tão interessante quer de mim, em? - Debochei. - Quer ser a minha Groupie? Conhecer a minha cama? O que o seu irmão acharia disso?

- Não, obrigada. Eu ainda tenho dignidade. - Kristen empinou o nariz anguloso.

- Então o que você espera? - Perguntei.

- Que você sinta o mesmo por mim... - Ela respondeu, me olhando cheia de expectativa.


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N/A

Essa história já está finalizada e com todos os capítulos agendados, porém pode deixar seu comentário com sugestões pq posso editar os próximos capítulos. 

Se estiver gostando, deixa o votinho nos capítulos para fortalecer a autora.

XoXo

K.Onde histórias criam vida. Descubra agora