K.

POV RICHARD

Kristen me olhou de um jeito que nenhuma mulher jamais tinha me olhado.

Eu era acostumado a não dar muita bola para o sexo oposto, era muito complicado toda essa coisa de namoro então me contentava em vê-las apenas como buracos para me satisfazer. Isso facilitava tudo.

Mas parado naquela rua, diante dela, foi diferente. Ela me encarou como se eu fosse único e especial, coisa que eu sabia que não era e nem merecia ser.

Eu a toquei antes mesmo de pensar, deixando a vontade tomar conta da razão. Ali, respirando seu cheirinho doce de baunilha, a razão ia se esvaindo cada vez mais, escorrendo por entre meus dedos. Seus olhos exalavam ternura e ela parecia tão frágil, inocente e adorável naquela madrugada, tremendo e ansiando pela expectativa... Kristen queria muito que eu a tocasse, eu podia notar pela maneira como estava paralisada. Somente seu peito subindo e descendo de maneira descontrolada. Seu coração devia estar tal qual a bateria que eu tocava a pouco.

O que me despertou de meu transe foi o seu nariz roçando no meu. O nariz igualzinho ao de Jake.

Que merda.

A família dele havia me acolhido e me tratavam como um filho, eu não podia estragar isso. O senhor e a senhora Meyer eram um casal de professores de História da arte e foi o pai dela quem me ensinou a dirigir, já que nunca conheci meu pai e minha mãe era uma viciada em heroína inútil.

Ela avançou para me beijar, mas eu dei um passo para trás, fugindo apavorado. Praguejei e levei as mãos à cabeça, pois eu queria muito mesmo beijá-la. Sentir seus lábios se abrirem para mim como uma delicada rosa. Intocados e só meus.

Mas e depois? Ela não se contentaria com um beijo e as coisas iam escalar sem o meu controle. Me dava muita ansiedade não ter o controle de tudo.

Kristen ainda estava imóvel, absorvendo a segunda vez que a rejeitei naquela noite. Seu olhos se abriram e eu vi tudo o que não queria dentro deles: Raiva, tristeza e decepção.

- Você tá brincando comigo, Richard, é isso? - Gritou, cheia de mágoa. - Eu sou uma piada pra você?

- Kristen, você não entente... É... - Eu tentava encontrar as palavras certas, mas não existiam. - É complicado.

- O que é complicado? - Os lindos olhos dela estavam marejados de lágrimas. - Eu sou feia? Não sou o suficiente? O que tem de errado comigo? Me diz! - Berrou.

Eu fiquei em silêncio. Foi a primeira vez que reparei nos olhos dela. Eram profundos e cheios de coisas ocultas. Segredos de menina insegura e cheia de sonhos e esperanças com a vida.

Mas não tinha jeito. Eu precisava partir seu coração. Somente assim ela superaria tudo aquilo e seguiria em frente.

- Tem tudo de errado! - Gritei de volta. - O que você tá pensando? Que pode vir aqui, se declarar, me pressionando a ser seu príncipe encantado num cavalo branco? Acorda, garota. Não existem príncipes. - Desviei meus olhos dos dela. Não conseguia mais olhar a garota se encolhendo mais e mais diante de mim. Quebrando-se e desmanchando como um vaso de porcelana.

- Mas... - Ela gaguejou, tentando se recompor de alguma maneira.

- Vê se você cresce e para de infantilidade, Kristen. Você já tá velha demais para essas bobagens. - Finalizei, dando as costas e a deixando lá.

Ela já estava na rua de casa, sabia que ficaria bem e em segurança.