So long, London.

up all night

Ao chegar no hospital, Sabrina estacionou o carro e despediu-se de Bia, que trabalhava em outro setor. Eram exatamente 8 da manhã e ela sabia o que a aguardava: uma reunião que possivelmente tratava de um assunto assustador, como sua própria demissão.

Entrando no elevador, acabou esbarrando em alguém.

— Aí! — A pessoa exclamou.

— Omori! — Sassa reconheceu a voz na hora.

— Sassa! — A expressão irritada de Lara rapidamente se transformou em um sorriso.

Lara Omori trabalhava na parte logística do hospital, lidando diretamente com diretores e funcionários de alto escalão. Era responsável por muitas reuniões de negócios e trocas de informações externas com o governo e outros hospitais.

— O que você está fazendo no elevador do meu setor? — Sassa abraçou a amiga, surpresa por encontrá-la ali.

— Estava procurando por você. — Sabrina congelou — Você tem uma reunião agora, não?

Sabrina demorou um tempo para assimilar, mas então percebeu:

— Era você! — Ela gritou aliviada — Era você no telefone!

— Em cheio! Não reconheceu minha voz?

— Pareceu diferente, sei lá... Mas que alivio! Eu jurei que estava prestes a ser demitida ou algo assim.

— Eu nunca disse que não iria. —  Omori fez uma expressão séria, brincando com Sabrina, que se viu novamente paralisada.  — Brincadeira! — Ela riu — Eu nunca deixaria te demitirem, você é incrível!

— Porra, não faz mais isso! — Sabrina riu em êxtase — Obrigada pelo elogio, Larinha.

— Vem, vou te levar até a sala de reuniões.

Ao sair do elevador no décimo-terceiro andar, Omori guiou Sabrina até o bloco D, destinado à logística e reuniões do hospital. Enquanto andavam, Sassa se perdia em seus próprios pensamentos:

"Qual será o motivo de terem me chamado?"

"Se não for minha demissão, pode ser algo bom!"

"E se quiserem me promover?"

Quando chegaram à porta da Sala de Reuniões 27, Sassa suspirou. Estava visivelmente nervosa, apesar do alívio inicial. Ainda podia ser algo ruim, mas pelo menos não seria demitida.

Mas ainda podia ser algo ruim.

— Está tudo bem? — Omori se perguntou a Sassa antes de girar a maçaneta.

— Sim. Eu espero.

— Vai dar tudo certo.

Lara Omori abriu a porta da sala, revelando uma vista deslumbrante através das paredes feitas de vidro refletido. Era uma visão magnífica daquela parte da cidade, com destaque para o Estádio do Morumbi, adjacente ao hospital. Sabrina mal conseguiu apreciar a beleza da sala, concentrando-se na longa mesa central. Havia seis homens e duas mulheres, todos vestidos formalmente demais para um turno comum. Sabrina notou rapidamente que dos seis homens, quatro eram calvos e um era careca.

— Bom dia. — Sabrina dirigiu-se aos superiores.

— Bom dia, senhorita Inague. — O careca respondeu.

— Então, vamos começar a reunião. — Omori disse, ligando o projetor de slides na grande tela à frente da mesa.

Enquanto prestava atenção aos slides, Sabrina se horrorizava. As imagens mostravam crianças hospitalizadas com as cabeças raspadas, e familiares suplicando por ajuda devido à escassez de médicos. O vídeo estava em inglês, o que ela estranhou, mas não prestou tanta atenção pois estava em choque com a situação precária que as crianças estavam. Embora não fosse pediatra, Sabrina trabalhava na ala de cirurgia e exames pediátricos por paixão. Ela se importava profundamente com as crianças e não suportava vê-las sofrendo.

— Essas são as estatísticas de médicos neste hospital. A cada 30 crianças, há apenas 1 médico e 2 enfermeiras. — Omori passou para o próximo slide, apontando para o gráfico — Os números de residentes são alarmantemente baixos, e o Hospital St. Thomas solicitou nossa ajuda.

"St. Thomas?..." — Sabrina pensou consigo mesma, tentando lembrar de onde havia ouvido esse nome antes.

A sala permaneceu em silêncio enquanto Lara apresentava mais slides estatísticos, mostrando dados como o número de médicos que seriam enviados e a quantia de dinheiro que seria gasta.

Foi então, enquanto estava perdida em seus pensamentos tentando recordar, que Sabrina teve um estalo.

Londres.

O St. Thomas ficava em Londres. Sabrina foi convocada para ir a Londres.

— Eu entendo. — Um dos calvos interrompeu os pensamentos de Sassa — Então a viagem será imediata. Senhorita Inague, você entende as circunstâncias do plano?

— S-sim. — Sabrina respondeu, gaguejando um pouco.

— Preciso que você selecione outros médicos para nos acompanhar. Você será a líder deles durante a viagem.

Sabrina sentiu um frio na espinha. Não de medo ou vergonha, mas de emoção. Era uma oportunidade única, e ela se sentia realizada. Tinha visitado Londres exatos 10 anos atrás, quando tinha apenas 16 anos. Retornar agora, com uma mente mais madura e cheia de novas ideias, especialmente liderando uma equipe de médicos com uma causa tão nobre, era a melhor coisa que lhe ocorreu em seus 3 anos no hospital.

— Claro. Quando será a viagem?

— Depois de amanhã.

— Oi? — Sassa deixou escapar.

— O quê?

Um silêncio desconfortável caiu sobre a sala, quebrado por um riso contido quase imperceptível de Omori.

— C-claro... Irei conversar com os Doutores imediatamente.

Sabrina saiu da sala, soltando um suspiro de alívio. O relógio ainda marcava 9:30 e a manhã já tinha sido emocionante. Ela se dirigiu ao seu escritório, tentando processar todas as informações que acabou de receber. Enquanto organizava seus documentos, Sabrina não conseguia conter um sorriso; Mal podia esperar para compartilhar a notícia com seus colegas e começar a preparar tudo para a viagem.

No restante do dia, Sabrina trabalhou incansavelmente cuidando dos pacientes. Ela também encontrou tempo para conversar com alguns médicos que gostaria de convidar para se juntar a ela na "missão" em Londres.

Quando finalmente saiu do hospital, sentiu um frio na barriga. Ela sentiu que as próximas semanas seriam desafiadoras, mas estava determinada a fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para ajudar aqueles que precisavam.

Chegando em seu prédio, estacionou o carro e se dirigiu ao seu apartamento. Sassa sabia que o dia ainda não estava acabado e ela ficaria acordada a noite toda para arrumar suas malas.