Prólogo

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Para Nalu, que me pede essa história há anos.
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Aviso: Não me responsabilizo por abalos na fé que esta obra possa ocasionar. 

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"Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e seus anjos; todavia, não prevaleceram; nem mais se achou no céu o lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos." (Apocalipse 12:7–9)

Cinco dos seis anjos se reuniram longe das vistas de seu pai, um local inóspito, de difícil acesso e que seus outros irmãos não perderiam o tempo procurando. Apesar de serem cercados por oceano, uma pequena rachadura foi inflada de ar o suficiente para que se acomodasse.

Paciência era uma virtude que eles perderam ao longo dos anos, os rebeldes não conseguiam ser os anjos que foram criados para ser. Não haviam as teias do destino que os acorrentaram aos ideais de criação de seu Pai, alcançaram o livre arbítrio em sua total capacidade e viviam sem medo da punição.

— Onde está Azazel? —‌ Samael perguntou displicente, se incomodava com a falta de compromisso do irmão, porém sabia que a batalha estava ganha. Seus cabelos tão loiros, quase brancos, caíam nos olhos azuis escuros que transbordavam o orgulho do plano que elaborou para conquistar o reino dos céus.

—‌ Deve estar vigiando aquela humana —‌ Asmodeus respondeu desinteressando olhando para as próprias unhas.

Samael, assim como os outros irmãos, não gostavam dessa fascinação que Azazel tinha por uma humana. Vão travar uma guerra contra seu pai por causa dos humanos, como aquela espécie pode ser tão interessante a um anjo?

Subitamente o movimento das marés mudou e o anjo atrasado pousou, recolhendo as asas, recebendo olhares indignados pelo atraso.

—‌ Por D... —‌ Mamon reprimiu sua fala mesmo se assustando.

Chamar o nome de Deus era convidar sua presença ao recinto, eles não precisavam que seu pai soubesse o que planejavam. O sucesso estava nos detalhes, errar nisso seria muita estupidez.

Todos sabiam das limitações de seu pai, o grande e poderoso Deus não era assim tão onisciente quanto lhe era proclamado. Sua presença terminava no exato instante que paravam de falar d'Ele, como um grande egocêntrico que era, manipulando todas as atenções para si. Bastava um sussurro de seu nome que seu espírito se fazia presente, tornando a par de tudo aquilo que não gostariam que soubessem.

—‌ Está atrasado —‌ Samael suspirou.

—‌ Apenas três minutos, Samael! —‌ Azazel replicou com calma sentando-se ao seu lado. —‌ Isso não irá estragar seus planos. Se acalme, irmão.

Azazel era um ótimo servo de Deus, não questionava, fazia suas tarefas e amava isso, conhecer a humanidade era um de seus maiores prazeres, queria entendê-los. Tudo mudou quando ouviu a voz mais bela que a de um querubim, a mais pura alma cantava à beira do rio todas as tardes e desde que conheceu Kamilah, a dona da voz, nunca mais cumpriu com suas tarefas da mesma forma.

Passou a ir quase todos os dias vê-la e demorou para que criasse coragem de se mostrar na forma humana. Observava mais de perto, porém não se permitia falar com a mulher. Não podia.

O que ele também não percebia era que mesmo com extrema discrição, Kamilah também o observava, decorando cada aspecto daquela pessoa totalmente diferente das que via normalmente. A começar pela pele mais clara, enquanto a dela e de todos os outros era morena ou preta, os cabelos pretos lisos demais para os crespos e cacheados, por fim aquelas duas esmeraldas brilhantes no lugar dos olhos. Apenas ao imperador era permitido possuir pedras preciosas, e aquela pessoa conseguiu tê-las nos olhos.

Cursed AngelOnde histórias criam vida. Descubra agora