Três dias. Setenta e duas horas. Quatro mil e trezentos e vinte minutos. Amélia contou cada constituinte do tempo em que ficou sem conversar com Thundra, e depois de tantos cálculos, perdeu a conta de quantas vezes agarrou no seu telemóvel, discou o número e desistiu.
Era torturante ver Thundra durante esses dias sem poder falar com ela. Quer dizer, Amélia queria, só não tinha coragem para isso, mas nem mesmo conseguia explicar o porquê.
Seria vergonha? Culpa? Ou uma junção de ambos?
Como velhos hábitos nem sempre podem ser abandonados, ela voltou a assistir aos treinos da equipa. Os pais de Clio tinham feito mais uma doação, o que ajudou na compra de novos uniformes. Thundra passou a ser agraciada por tecidos vermelhos com listras pretas, o que fazia a sua pele pálida sobressair ainda mais.
No trabalho, tudo tornava-se mais constrangedor. Era perceptível que Thundra queria conversar, resolver aquele mal entendido, mas Amélia fugia de todas as suas investidas.
Era ridículo, e ela tinha consciência disso.
Ao caminhar para casa, evitava encarar o outro lado da estrada, onde Thundra caminhava com as suas companheiras. Elas riam, faziam piadas e pareciam não se importar com o mundo ao redor. Sem aguentar a curiosidade, a pasteleira olhou para o seu lado esquerdo, apenas para matar um terço da saudade que a afogava.
Thundra estava no meio das meninas, olhando para si.
A passos de distância.
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Scar saltou do sofá, sentindo o telemóvel de Amélia vibrar sob a sua cauda. A pasteleira riu alcançando o objeto, enquanto o seu gato a mirava desconfiado.
— Calma, amorzinho. — disse, ainda rindo. — É a Adara.
Scar miou, dando-lhe as costas.
— Homens! — revirou os olhos, atendendo a chamada. — Oi, Dara!
— Eu preciso de ajuda. — articulou rapidamente. — Não consigo sair da faculdade agora e a minha mãe ligou dizendo que está em trabalho de parto.
Amélia correu para o quarto, procurando pela sua bolsa.
— Onde está a tia Nessa? — indagou.
— Presa no trânsito. — choramingou. — A minha mãe tá no estúdio, perto da sua casa. Por favor, vai lá.
— Queres que eu chame uma ambulância? — perguntou. Ela agarrou a bolsa e correu para fora do apartamento.
— Não, as pessoas lá já chamaram. — explicou. — Eu só não quero que ela vá sozinha para o hospital.
— Ok. Ok. Já estou a sair de casa. — respondeu. — Depois eu dou notícias.
O estúdio de dança de Elena Barker ficava do outro lado da rua onde Amélia vivia. Não havia tempo para chamar um uber ou pedir que um dos seus amigos a ajudasse, então Amélia correu como nunca antes.
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649 000 000 km de Júpiter a Saturno | ⚢
RomanceSaturno Amélia Jordin sabia que não era especial, e aceitava bem o facto de sempre passar despercebida aos olhos das outras pessoas. Após anos e anos se questionando o porquê de nunca conseguir sobressair, ela finalmente aceitou que a sua existência...