CAPÍTULO 18

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Depois de longas horas vagando por planícies, Paco levou o resto do dia, e a noite inteira,  se embrenhando em florestas, situadas em grandes vales e trilhas de terra, que se estendiam dentre montanhas rochosas. 

 As poucas vezes que ele reduzia a velocidade, servia para os viajantes se alimentarem.

— Chegaremos nas cordilheiras de Oreon logo depois dessa floresta. — Grannus disse, na tarde do dia seguinte. Eles estavam em um dos intervalos, passando por mais uma floresta desconhecida. 

 Os humanos só assentiram, estavam completamente exaustos daquela viagem, que sequer tinha um fim claro para eles. Só desejavam voltar para o seu mundo, devia haver alguém em Oreon capaz de fazer isso. Eles se agarraram a isso.  

 A floresta acabou nos pés de uma grande montanha, mas ela não era a única. Aquela faixa era coberta por montanhas, íngremes e gigantescas. 

— Parece uma muralha, feita por deus. — Ryan comentou, atordoado com a imensidão da cordilheira. 

— Os Oreonianos devem estar bem protegidos de invasores. — Arthur retrucou. 

— Não vejo nenhuma passagem, e nem a chance de escalar essa coisa. — Emma olhava cada extremidade, avaliando com seus olhos vorazes. — Como pretende passar? — Disse para o Batedor. 

— Calem-se e observem. Acelerar paco. 

 Parecia loucura, mas a criatura começou a correr, freneticamente, contra uma parte da rocha, daquela montanha. Ryan gritou, Arthur não caiu por pouco e Emma controlava as emoções. Grannus continuava inexpressivo.

 Minutos antes do impacto, ele sussurrou calmamente:

Muw imzqumruw xu rumzumru, u widqixu qijuawu 

U iwjyqyzu xu quwu u juwwudir ufakzu muw fumxae 

Fur jukubquw rudyfuw, u jixqu fixiqu, dimiquwu,

Qibikumxu furymruw sai wu uw iwfukryxuw biquu

Nas entranhas da montanha, o segredo repousa, 

O espírito da rocha a passagem oculta nos conduz. 

Com palavras mágicas, a pedra cederá, generosa,

Revelando caminhos que só os escolhidos verão.

 A montanha inteira pareceu estremecer, com a conjuração do feitiço, mas, para o terror dos humanos, nada mudou. Mesmo assim, Paco se esbarrou nas rochas com tudo, mas a atravessou, como se fosse um fantasma sem corpo. Ele continuou correndo, na ravina que se sucedeu, parecia um grande túnel, sem teto. 

— Estamos vivos? — Emma abriu os olhos, e fechou o punho só para se certificar. 

 Ryan ainda gritava feito louco. Paco soltou um grunhido, podiam jurar que ele estava zombando da covardia deles.  

— Silenciem esse miserável. — Grannus exclamou. 

 Arthur balançou os ombros do garoto.  

— Ei! Ei! Abra os olhos! 

— Como isso é possível? — Ryan olhou para trás, a montanha permanecia imutável. 

— Há pouquíssimas maneiras de chegar a Oreon, essa é a mais segura.

— Isso foi incrível! — O garoto se contradizia outra vez. 

 Pouco tempo depois, atravessaram o túnel e chegaram a uma espécie de clareira, com uma grande abertura cavernosa no fim daquele caminho. 

— Corrigindo minha fala, é a mais segura para aqueles que de fato pertencem a essa nação, não basta saber o feitiço. — A voz dele soava sombria, com seus olhos azuis pousando no solo rochoso. 

 O chão daquele lugar abrigrava alguns restos mortais, de algum grupo que teve coragem o suficiente para invadir a nação. Os crânios estavam furados, de modo preciso, chegava a dar calafrios. 

 Mas havia algo mais preocupante, pelo menos para os humanos. Era uma presença ameaçadora, que jazia adiante. Dois cavaleiros colossais, de corpo rochoso, guardavam a entrada. Trajados com uma armadura e armados com lanças. 

— Monstros! — Ryan se escondeu, discretamente, atrás de Arthur. Provocando a ira de Grannus outra vez, com seus gritos de terror.

— Essa é a verdadeira entrada, vermes. 

— O que são aquelas coisas? — Emma perguntou.

— Os guardiões, óbvio. 

 O solo estremeceu segundos depois, com um golpe pesado das estátuas, o baque ressoou nas montanhas, semelhante a um alarme. Elas não eram simples estátuas, estava claro. 

  Por fim, os guardiões abrandaram as armas na direção do grupo, uma tonalidade carmesim começou a piscar no lugar  dos olhos deles.

— Grannus? — Emma se virou para o batedor.

 Naquele instante, o Batedor retirou um cristal verde de dentro do seu manto negro, e o ergueu para que os guardiões pudessem ver. 

 As figuras retornaram à posição de antes, quando visualizaram o cristal, tornando-se, de fato, estátuas mais uma vez. 

— Eles…  não vão atacar? — Ryan perguntou.

— Óbvio que não, mas, fariam um massacre com qualquer um que não tivesse permissão para passar.  

 Paco prosseguiu, permitindo que os humanos admirassem aquelas esculturas mais de perto, pensar que elas podiam se mover era assustador. Eles sentiram uma certa gratidão por estarem seguros ao lado daquele Isik, apesar de tudo. 

 Não conseguiam enxergar direito na escuridão da caverna, mas, tinham certeza que a luz tremeluzente, no fim da caverna, era a última passagem que precisariam cruzar. 

 Em breve, estariam em Newgar. 

Oreon: A Guerra Do Entardecer Onde histórias criam vida. Descubra agora