✩ | FOUR - 🎸

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REALMENTE MEU MAIOR PESADELO HAVIA APARECIDO, mas sem nenhuma roupa de palhaço ou moicano verde neon, apenas Gina Durand vestida do monstro que é por si só.

Suspirei enquanto a aula de Leitura de Partituras Musicais rolava, segurando meu rosto com a mão esquerda e literalmente viajando na maionese. Sendo realista e sincera, nesse primeiro semestre estamos aprendendo partituras de guitarra, violão e teclado, e eu já sei tocar guitarra e violão — então a aula é quase um tira-dúvidas enquanto o professor tenta explicar a anatomia da partitura, tendo apenas cinquenta por cento da sala prestando atenção.

Estava tão absorta em meus pensamentos que mal senti alguém sentando ao meu lado na mesa em dupla. Assim que virei para descobrir quem era o infeliz que me atrapalhava, meus olhos se esbugalharam imediatamente, enquanto meus divertidamentes mandavam vários "alertas vermelhos" quase gritando para eu sair dali o mais rápido possível.

—— No que tanto pensa, Jennifer? ——a infeliz Gina Durand sussurrou, me fazendo tomar uma distância daquele mar de cabelos ruivos artificiais. —— E aí? Já me desculpou, ou ainda está com frescurinha?

Revirei os olhos. Frescurinha?

—— Você não larga de mim, não? Não escutou quando eu falei que quero distância de você?! ——joguei na cara dela, meus divertidamentes quase implorando para eu ficar longe daquela menina.

—— Vamos, Jenjen, não se faça de difícil... ——tentou segurar minha mão, mas fui mais rápida e não deixei que aquelas mãos imundas tocassem em mim. —— Podemos virar amigas, que tal? Ou até algo mais...

Não contive minha cara de nojo olhando para aqueles olhos castanhos. Só queria ver ela do passado ouvindo o que está falando agora.

—— Puta merda, Gina, você não entende a pinóia de um não?! ——exclamei, pegando minha Prada preta, meu caderno e o resto de amor próprio que eu tenho por mim mesma e pedi ao professor para sair da sala.

Nunca entendi como, bem nesses momentos, os corredores parecem mais longos à medida que você anda por eles. Acelerei o passo, olhando para trás algumas vezes apenas para precaver que a praga ruiva não viesse atrás de mim, enquanto tentava falhamente controlar minha respiração descompassada.

Não andei muito e entrei numa das primeiras salas que achei pela frente: o Estúdio de Artes. Mesmo estando muito fora de mim para dar uma olhada completa no estúdio, percebi algumas salas e materiais como pincéis, instrumentos para esculpir, quadros, cavaletes, fotografias e desenhos espalhados pelo cômodo e supûs que poderia ficar em paz ali — pelo menos por um tempo até me recompor.

Sentei no chão de mármore gelado, não me importando muito pelo choque entre o chão frio e meu corpo aquecido, e me aninhei um pouco perto de uma escultura de alguns animais, meu coração bombeando sangue a uma velocidade absurda.

Segurei minhas mãos firmemente, respirei fundo e soltei lentamente por quatro segundos, tentando pensar no que fazer em seguida. Me apoiei na parede e apenas consegui pensar no porquê da Gina Durand estar aqui, cursando Artes Cênicas e na mesma sala que a minha. Merda, lutei tanto para ficar longe dela, pensei.

Enquanto pensava no que fazer, senti algumas lágrimas escorrerem pela minha bochecha, até perceber que eu estava segurando o choro perto da Gina, como sempre fiz, claro. Deixei minha frustração se esvair, começando um tipo de luta interna para ver o que eu não poderia fazer: 1) Não poderia ligar para minha irmã, visto que aqui são seis horas adiantado. 2) Não poderia chamar Kazuha, porquê ela está em aula. 3) Não poderia...

—— Que merda ——murmurei para mim mesma, encostando a cabeça na parede tentando pensar numa solução mágica que faça Gina Emmeline Durand sumir.

✩ | 𝓒oexistir; purinz.Onde histórias criam vida. Descubra agora