Capítulo 7.

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Dizer que é surreal já estar na Escócia apenas uma semana depois de arrumar as malas com Louis não chega nem perto de descrever a estranheza que sinto enquanto me inclino, no banco detrás do Land Rover, e observo a Escócia – o lugar pelo qual fiquei obcecada durante o último ano – se desdobrar à minha frente.

Desde que voei de Houston a Londres, já estive num trem para Edimburgo e, depois disso, para Inverness. Lá, me encontrei com o motorista do Land Rover, um cara barbudo que se apresentou como "sr.McGregor, o jardineiro". Ele parece ter em torno de cem anos de idade, mas estou tão cansada que ele poderia dirigir como se estivesse na versão escocesa de Velozes e Furiosos e eu não me importaria. Contanto que eu chegue em Gregorstoun, tudo bem.

Há outros três adolescentes comigo no carro, duas garotas e um garoto, e todos os três parecem mais novos do que eu. Eles estão próximos uns dos outros, conversando em voz baixa. Eu os vi no trem de Edimburgo, reunidos. Aquela foi uma experiência esquisita, andar de trem, observar o cenário mudar das casas suburbanas para campos e depois para morros pedregosos ao nos aproximarmos do norte. Eu estava tão insegura do que fazer que fiquei paralisada no meu assento a viagem inteira, sem nem mesmo ir ao banheiro.

Todos os três ficam me olhando e, finalmente, quando o Land Rover passa por um morro, eu viro para eles com um sorriso radiante.

— Então, qual casa vocês acham que o chapéu seletor vai escolher pra vocês? — pergunto, e então levanto a mão, cruzando os dedos. —Corvinal, tomaaara.

Os três me olham indiferentes. O sr. McGregor dá uma risada. Ou talvez esteja se engasgando, é difícil dizer.

— Você é americana — uma das garotas diz.

Ela é miúda, com cabelos loiros acinzentados e enormes olhos azuis. Dá para ver a cabeça de um cavalo de plástico saindo de um dos bolsos de sua bolsa de couro.

— Sou — digo. — Meu nome é (S/n). 

A garota me encara sem reação antes de se apresentar:

— Elisabeth. Lissie, na verdade. Essa é a Em — ela aponta para agarota de cabelos escuros ao seu lado — e esse é o Olly.

— Elisabeth, Em, Olly — repito, fazendo um cumprimento com a cabeça para cada um deles.

Todos sorriem educadamente e, tá bom, beleza, eles devem ter uns doze anos, mas talvez esse seja um bom sinal do tipo de pessoa que vou conhecer em Gregorstoun. Talvez não sejam todos Gente Rica Assustadora, mas apenas... Jovens Esquisitos. Jovens Esquisitos Ricos, mas jovens ainda assim.

De qualquer maneira, a estrada está se assentando agora, e o colégio começa a se erguer no horizonte, igualzinho ao site, só que... real. Na minha frente. As fotos não foram capazes de capturar tudo. As pedras de tons perolados contra o verde, quatro andares imponentes, um longo caminho de cascalho na entrada e as janelas reluzindo sob o sol.

— Ah, uau — eu me empolgo e o sr. McGregor olha para mim com um brilho nos olhos, se percebo bem.

— Aye — ele concorda. — É uma visão e tanto. 

Então ele suspira, franzindo a testa.

— Já foi o lar da minha família, sabe, mas agora eu só trabalho aqui, transportando vocês. 

Não sei muito bem o que responder, então apenas solto um uhum e volto a prestar atenção no colégio.

Há vários estudantes perambulando no gramado, alguns uniformizados, outros, não. Estou de jeans e camiseta, já que ainda não peguei meu uniforme. Acomodando a mochila no colo, eu pego o e-mail que imprimi. Quarto 327, leio, meus dedos deslizando sobre o número. Meu quarto. O quarto em que vou morar pelo resto do ano. Com outra garota. Essa é uma das partes mais esquisitas desse experimento de estudar num colégio interno – morar com outra pessoa.

Sua Alteza Real (Hailee/You) Onde histórias criam vida. Descubra agora