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Prólogo

Wanda Maximoff

— ...a polícia segue sendo alvo de críticas pelo descaso com a sociedade diante de mais um caso de desaparecimento de crianças no subúrbio. Agora vamos para os nossos intervalos e em breve retornamos com atualizações sobre os criminosos apreendidos com a acusação tráfico de mulheres para o exterior. Eu sou Wanda Maximoff, diretamente do Canal 13.

Sorri para a câmera uma última vez, antes de ouvir Steve, meu amigo, dizer "corta" e abaixar a lente.
Respirei profundamente entregando o microfone para o primeiro assistente em que me apareceu, e sentei na cadeira destinada a mim, com meu nome cravado nela, afundando o rosto sobre as mãos.
Por um segundo, ignorei tudo a minha volta, mas podia imaginar exatamente como tudo acontecia.
O barulho das câmeras sendo arrastadas e posicionadas, os clicks do notebook com os programas de áudio, os passos apressados de todas as pessoas com suas próprias especialidades dentro do set, as lentes de vidro rangendo ao serem esfregadas para entregar o melhor visual. Tudo milimetricamente pensado, que dependia da minha performance. A voz, os trejeitos, tudo influencia algum pequeno tópico que qualquer pessoa a olho nu não é capaz de perceber, mas sim de exalar sua falta de interpretação da pior forma. Se eu parecesse cansada durante a matéria, era falta de profissionalismo. Se sorrisse demais, falta de empatia. Se parecesse muito triste, estava escondendo alguma coisa. Trabalhar com o público e principalmente com a TV aberta significa tornar-se um robô. Assumir duas faces. Falar sobre coisas que poderiam partir seu coração, ter dúvidas, se sentir desconfortável, mas mesmo assim não ter o direito de se expressar, porque você está ali para se tornar imparcial, e alimentar as pessoas com os acontecimentos mais tenebrosos, ou lembra-las das lições de moral de seus pais e como eles estão certos quando dizem "não volte tarde pra casa!" Ou "não confie em estranhos!". Bom, talvez não esteja adiantando. Se toda semana eu tinha trabalho a fazer, significa que toda semana alguém teve que se dar muito mal.

— Wanda, tudo bem? Ainda temos um minuto — Steve se aproximou me entregando um copo de água. Ele se sentou ao meu lado enquanto eu tirava uma de minhas luvas pretas e alcançava o recipiente, virando metade do líquido na boca e aliviando a garganta seca, dando atenção agora para minha mão descoberta, vendo meu dedo anelar marcado com a aliança que eu costumava usar a um tempo atrás. Apertada, dolorida.

— Estou bem, só... pensando — Passei a mão no canto dos lábios. — Sabe quando encerramos aqui? Preciso ir pra casa, a babá dos meninos faz faculdade nas quartas-feiras. — Considerando o fato que já se passava das seis e meia e a faculdade começava as oito, eu precisava ser rápida.

— Vai acabar a tempo, não se preocupe. E eu sempre posso fingir que a câmera quebrou — Ele me fez rir com o comentário. Steve é uma boa pessoa, são incontáveis as vezes em que ele burlou as gravações para me salvar, as vezes que cuidou dos meninos enquanto eles corriam pelo set, e como ele me fez rir quando fui proibida de trazer Billy e Tommy pra cá, mesmo que aquilo parecesse o fim do mundo.

— Fico tão preocupada deixando eles sozinhos assim... me sinto péssima — Terminei a água, colocando o copo no chão e me encostando na cadeira, deixando a iluminação de emergência incomodar meus olhos.

— Wanda, você seria péssima se tivesse desistido deles. Você os deixou com uma pessoa de confiança, e está aqui, trabalhando, pra dar uma vida digna aos seus filhos e provar que você pode cuidar deles. O que mais eles poderiam querer? — Ele pronunciou de forma confiante, me fazendo suspirar.

— Talvez uma mãe mais presente, que eles não tivessem que ligar a televisão para ver. Nem ouvir essas asneiras que eu digo com a cara séria — Fiz uma careta.

Canal 13 - WantashaOnde histórias criam vida. Descubra agora