Quando aprisionam sua alma, aos poucos sugam seu ser
O que resta são fragmentos do ser humano iluminado que um dia você foi.
Laura foi aprisionada ainda cedo, seu brilho sendo sugado
Quando se viu livre, apenas fragmentos do seu eu restaram, quebr...
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Laura Angeli p.o.v
_ - Que lugar grande, mamãe - Leonardo resmunga, agarrado à minha mão.
- É aqui que você vai trabalhar agora? - Leandro pergunta.
- É sim, amor - respondo, acenando para as meninas da recepção.
Eu fui aprovada!
Oficialmente, sou funcionária da Rede Educacional Zucci!
Quando a Fernanda me ligou avisando que a vaga era minha, quase tive uma síncope. Até comi um pedaço de bolo pra comemorar!
Passei pelos exames admissionais, e hoje vim assinar meu contrato de trabalho. É sábado, e, na ligação com Fernanda ontem, comentei que justo hoje não tinha com quem deixar os meninos. Ela soltou que isso era o de menos, contanto que eu não faltasse antes mesmo de começar.
Os meninos não tiveram aula essa semana porque a professora entrou em licença-maternidade e ainda não foi substituída. Um verdadeiro descaso.
Esses dias eles estavam indo comigo pra lanchonete.
Mas tudo vai mudar a partir de hoje.
- E a gente vai estudar aqui também? - Leo pergunta.
- Sim! Não é um lugar legal? - falo, olhando para baixo.
Eles assentem, curiosos, olhando ao redor. Estamos no prédio administrativo da escola; a parte pedagógica fica no terreno ao lado, interligado, a no máximo cinco minutos de caminhada.
Daqui conseguimos ouvir o barulho das crianças brincando.
- Não vão me bater aqui, né, mamãe? - Leandro pergunta, alarmado.
- Não, meu amor. Ninguém vai. A mamãe prometeu, não prometeu? - me abaixo na altura deles.
Os dois encostam em mim.
- E ele também não vai voltar, né? - Leonardo pergunta sério.
- Não, meus filhos. Nunca mais - afirmo, beijando cada um.
Carinhosos, eles beijam uma bochecha minha cada.
As portas do elevador se abrem. Entro com os meninos, apertando o botão do nosso andar.
- Laurinha! Você passou também! - escuto o chamado agudo da Júlia.
- Passei sim - afirmo, recebendo o abraço dela.
- Quem são os garotos? - pergunta, curiosa.
- Meus filhos.
Júlia abre a boca, surpresa, e logo começa a rir. Essa garota é meio louquinha... talvez vá ser legal trabalhar com ela.
- Bom dia, meninas! - Fernanda sai da sala dela rindo. - Os papéis estão esperando vocês. Entrem.
Já sentadas, com canetas em mãos, Fernanda explica nossas funções, os benefícios e o salário. Fala sobre as regras da empresa e outras questões contratuais. Os meninos ficam encostados um de cada lado da cadeira onde me sentei.
- Que rapazinhos lindos - Fernanda comenta. - Querem vir aqui pintar esses desenhos comigo? - oferece.
Curioso, Leonardo me olha pedindo permissão. Olho para Fernanda - a casca grossa dela era só fachada. Esses dias que convivemos, percebo que ela parece mais um golden retriever.
Assinto, e Leonardo sai do meu lado. Leandro é mais desconfiado e não se dá por vencido tão fácil.
- Laura, saindo daqui você pode se dirigir à diretoria para combinar a matrícula deles. Já enviei os documentos pra liberar a bolsa - Fernanda fala, depois que termino de assinar tudo.
Tá aí o maior motivo de eu ter aceitado esse emprego.
O primeiro é porque eu estava precisando, óbvio. Mas o segundo é a bolsa que os meninos vão ter pra estudar integralmente na escola. Tudo bem que vai ser difícil pegar metrô cedo com eles todos os dias, me preocupar com comida e lanches - coisa que a escola pública oferece -, mas a educação nem se compara.
A diretora da escola me recebe bem. É uma senhora negra e muito simpática. Os cabelos totalmente brancos lhe dão um ar de "coroa rica" engraçado. Logo de primeira conquista os meninos e, após eu assinar toda a documentação necessária, ela nos leva para conhecer um pouquinho da escola.
- Gêmeos idênticos, que legal! - a professora da turma comenta. A sala está vazia e ela saiu para me cumprimentar. - Vão ficar na mesma turma?
- Sim. Não quero separar os dois. A psicóloga que os acompanha diz que não é ideal no momento - explico.
A mulher assente.
Os meninos saem dali totalmente encantados com tudo. E eu, feliz por ter tido coragem de sair daquilo que tirou nossa liberdade.