[000] Prólogo

54 5 0
                                    

O cheiro acre da fumaça ardia nas narinas de Edwina, um forte contraste com o ar fresco da montanha a que ela estava acostumada. Sua visão ficou turva, não apenas por causa da fumaça, mas também pelas lágrimas que brotaram de seus olhos. As chamas dançavam um balé macabro pela outrora grandiosa mansão, lançando sombras grotescas nas pedras do calçamento.

O pânico agarrou sua garganta. Ela tropeçou para trás, os detritos esmagando sob seus pés. Apenas alguns momentos atrás, risadas e conversas encheram o ar. Agora, pairava um silêncio perturbador, quebrado apenas pelo crepitar do inferno e pelo lamento distante e triste de uma sirene.

O piso acima gemeu ameaçadoramente e uma parte do teto em chamas desabou em uma chuva de cinzas e brasas. Edwina estremeceu, a lembrança da escada desmoronando ainda fresca em sua mente. Como ela havia escapado, ela não sabia. Puro instinto, talvez, alimentado pelo desejo primordial de sobreviver.

Mas onde estavam os outros? Seus pais, seus irmãos, a equipe, Elara... os rostos que preenchiam suas memórias pareciam tremeluzir e desaparecer como fantasmas na fumaça. Uma onda de esperança desesperada a impulsionou para frente. Ela tinha que encontrá-los.

Ignorando o calor escaldante que irradiava do inferno, Edwina mergulhou de volta nos destroços em chamas. Tossindo e engasgando, ela navegou pelos restos retorcidos de móveis e alvenarias caídas, com o coração martelando em um ritmo frenético contra as costelas.

Cada viga caída, cada porta carbonizada era uma tumba em potencial. Sua garganta se apertou de pavor quando ela gritou, sua voz rouca e quase inaudível acima do rugido das chamas. Nenhuma resposta veio, apenas o crepitar zombeteiro do fogo.

Lágrimas escorriam por seu rosto, obscurecendo o mundo já obscurecido ao seu redor. O desespero ameaça engoli-la, mas um desafio profundo acendeu dentro dela. Ela se recusou a ceder.

De repente, um grito abafado perfurou o ar cheio de fumaça. Veio da direção da ala oeste, trecho que, até então, parecia menos devastado pelas chamas. A esperança reacendeu-se e, com uma renovada onda de adrenalina, Edwina avançou.

O calor intensificou-se à medida que ela se aproximava da ala oeste. Através da fumaça, ela conseguiu distinguir o contorno tênue de uma figura encolhida contra uma parede.

—Quem está aí? —ela gritou, com a voz rouca.

Uma tosse fraca respondeu, seguida por uma voz trêmula. —Edwina? É você?—

O alívio a inundou quando reconheceu a voz. Era Elara, sua serva leal, mais como uma irmã do que como uma serva.

—Elara!— Edwina gritou, correndo em sua direção. Ela se ajoelhou ao lado da jovem, o coração batendo forte com uma mistura de alívio e pavor.

O rosto de Elara estava coberto de fuligem e o vestido chamuscado e rasgado. Um gemido escapou de seus lábios enquanto ela tentava mover o braço.

—Acho que está quebrado —,Elara estremeceu —Mas não se preocupe comigo. Saia daqui, Edwina. Salve-se!

—Não —, Edwina insistiu ferozmente, com a voz carregada de emoção —Vamos sair juntos.

Juntos, eles se amontoaram contra a parede, buscando um refúgio frágil do inferno que assolava ao seu redor. O calor era implacável e o ar denso de fumo, mas Edwina recusou-se a desistir. Ela não deixaria esse fogo, esse ato de crueldade inimaginável, consumi-los.

À medida que as chamas dançavam mais perto, lançando um brilho laranja em seus rostos, Edwina olhou para a colina com vista para a mansão em chamas. Foi uma testemunha silenciosa da devastação, uma sentinela estóica contra o caos.

Dragon's Blood, hotdOnde histórias criam vida. Descubra agora