O dia mal nasceu e Ivy já estava aguardando Amália no Jardim do lar. A enfermeira, que acompanhava a senhora, tratou de comunicar a ilustre presença.
Amália estava terminando o café quando foi surpreendida por Luiza.
_ Amália, Ivyna a aguarda no Jardim. _ Disse a moça trazendo um garfo.
Antonella, que estava ao lado de Amália na mesa, sorri, sabia que vinha mais história por aí.
_ Já estou indo, Luiza, obrigada, querida.
Sempre educada e serena, Amália pediu licença e deixou sua amiga cheia de risadas e ideias.
Amália se dirigiu ao Jardim já pensando no que iria dizer se o assunto fosse o mesmo. E ela sabia que seria.
_ Oi, vó, eu não queria aparecer assim tão cedo... Na verdade, não peguei os olhos essa noite. Fiquei ensaiando esse momento na minha cabeça, não queria falar besteira novamente, mas eu sou a própria personificação do caos, então, a qualquer momento, vai sair alguma besteira. Mas, enquanto ainda tô amável e concentrada em não fazer ou falar merda, gostaria de pedir desculpas. A senhora é muito mais importante para mim do que qualquer discussão ou discordância. Eu te amo!
Amália, sem sombra de dúvidas, não esperava aquela declaração. Seus olhos, imediatamente, se encheram. A neta conseguiu aquecer o seu coração, que já não sentia tanta alegria havia tempos.
_ Oh, minha querida Ivy... Quero que me abrace!
As duas se abraçaram fortemente. Completamente emocionadas, não se largaram por cerca de alguns minutos. Parecia desnecessário dizer qualquer coisa. Não era o momento. Apenas estarem em perfeita sintonia parecia suficiente. Amália gostaria de eternizar aquela cena em suas memórias.
_ A senhora me perdoa? _ Pergunta Ivy.
Amália sorri.
_ Não tenho que perdoar nada. Aliás, nem lembro mais o que gerou toda a confusão.
Ivy já se preparava para relembrar toda a história quando se deu conta de que aquela era a deixa pra "está tudo bem", só deixar as coisas seguir o seu rumo.
_ Sabe que eu ainda não tomei café. Será que...
Das vezes que Ivy foi ao lar tão cedo tomou um café maravilhoso do qual sentia bastante falta. A vó, cheia de amor e simpatia, não recusou o pedido da neta, claro. As duas seguiram juntas para dentro.
E se daquele lado as coisas pareciam resolvidas, a questão da foto ainda estava fazendo ninho em outras cabeças. Pandora conversava com seu pai sobre a relação de sua vó com outras pessoas ao longo de sua vida. Benício se preocupava com o histórico.
_ Bom dia, pai. Ainda pensativo? _ Questiona Dora.
Benício não fora trabalhar, pediu o dia de folga, pois estava com a cabeça quente. Seu patrão, que era também um velho amigo, conseguiu liberar homem das obrigações do dia. Uma bondade em nome de uma velha amizade.
_ Eu não consegui pregar o olho... Nunca pensei que fosse tão preocupado! _ Respondeu o homem.
Preocupado com a mãe seria o complemento ideal.
_ Normal. Aliás, estamos falando da sua mãe, não poderia ser diferente. Mas é claro que não existe nada além de uma foto nessa história.
Aparentemente, não havia com o que se preocupar.
_ Você não entende... A Amália sempre foi boa demais pra certas pessoas. Não fez boas escolhas. O meu pai... O meu pai foi um homem terrível! Amália merecia coisa melhor.
Dora não entendeu bem a colocação do pai, Amália sempre falou bem de seu ex-marido, avô das meninas.
_ A vovó é inteligente, pai. Não acho que...
O homem a interrompe.
_ Ah, Pandora, você não sabe como é a Amália apaixonada. Parede uma adolescente. Pense na Ivyna com o Ruy, só que bem pior.
Dora gargalha, sempre achou a irmã muito grudenta com o namorado.
_ Já pensou em conversar com ela? _ Pergunta Dora.
O homem fica em silêncio. A menina insiste.
_ Talvez ela desabafe com você... _ Completa.
Benício e Amália já não conversavam havia tempos. O diálogo entre os dois se limitava aos famosos "como vão as coisas", "que bom que está bem", "se cuide". Conversa mesmo era coisa rara entre os dois.
_ Não sou a pessoa ideal pra arrancar confissão de dona Amália.
O homem olha para a neta com aquele olhar tendencioso e bem sugestivo.
_ Ah, não, pai, eu detesto me meter nessas coisas... A Amália já ficou toda chata quando toquei no assunto junto com a Ivy.
O pai insiste no olhar de quem espera ser acatado.
_ A Amália adora conversar com você. Tarde das garotas?
Benício até sorriu. Parecia uma boa ideia ter a mãe e a filha em um momento daqueles de "BFFS".
_ Está me colocando em uma saia justa, sabia? Deveria ser mais adulto.
O homem fica sério.
_ Vou tentar, mas espero, profundamente, que aprenda a lidar melhor com as conversas, pai. É muito importante!
Dora saiu em busca de propor o passeio para a avó, só não contava com a presença de Ivy, que não deixou Amália sozinha a manhã toda. Quando Dora chegou ao lar encontrou as duas jogando cartas e gargalhando. Sentiu um pouco de inveja.
_ Pensei que estivesse estudando, Ivyna... _ Disse Dora olhando para sua irmã.
Ivy respondeu sem tirar a atenção do jogo.
_ Tirei um dia de folga. Você também, pelo visto...
O clima parecia ganhar novos ares. Amália convidou Dora para uma partida. A jovem, para não ficar tão de fora, resolveu jogar. Não que fosse a melhor com os jogos, só queria mesmo propor o passeio a sua vó.
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O namorado de Amália - Conto
Mystery / ThrillerAmália é uma senhora apaixonada por suas netas Ivy e Pandora. Apesar de não conviverem em uma mesma residência, elas sempre se correspondem através das redes sociais. Mas, nem tudo entrou no diálogo. Foi através de um post que se levantou a suspeita...