Apenas uma foto

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Amália acordou cedo. Era dia de consulta. Ivy, que sempre a acompanhava na fisioterapia, tratou de chegar cedo ao lar em que a senhora morava.

_ Espero que já esteja pronta, dona Amália. Aliás, teremos um dia bem longo hoje... _ Dizia Ivy piscando o olho.

Amália, que sempre adorou as conversas da neta, quis parecer mais séria. Não deu muita trela para o que a neta disse. Deu "bom dia" e já foi direto para o carro. Pandora as esperava, decidiu que não comentaria nada sobre tudo o que já vem sendo comentado sobre a vó. Apenas a cumprimento, e até ganhou pontos por isso.

_ Bom dia, Amália. Está linda! Amo tranças.

A neta elogiou o cabelo da senhora, que foi sutil retribuindo o elogio.

_ Obrigada, Dora. Você é linda!

A troca de afeto entre a vó e a neta não agradou a todos. Ivy entrou bem aborrecida no carro, afinal; fez apenas um comentário e pareceu ser completamente ignorada. Nem mesmo disse tudo o que pensou antes de chegar ao lar.

_ Já pode ir! _ Ivy disse.

Pandora conhecia a irmã, e também conhecia sua vó. As duas iriam naquele clima o caminho todo. Se tinha uma pessoa curiosa, que não abria mão de descobrir toda a fofoca, esse alguém era a menina Ivy, de 16 anos.

_ Apertem os cintos, moças, teremos um longo caminho! _ Pandora acelerou o carro.

As meninas chegaram cedo ao espaço fisioterápico. Enquanto Pandora conversava com Edclécio, um velho amigo da faculdade e médico de sua vó, Ivy tentava uma aproximação bem madura.

_ Gostaria de uma pastilha? Vai precisar se andar beijando por aí foi a ideia... _ A menina tagarelou, sorrindo meio que de lado.

A senhora, bem sarcástica, aceitou a pastilha, e não deixaria aquilo passar. Tratou logo de responder.

_ Obrigada! As de menta são as melhores. Deixa um friozinho na boca na hora que os lábios se tocam... Aliás, eu já te disse quando troquei o primeiro beijo com o Inácio, seu avô? Nossas línguas...

Ivy, imediatamente, recusou a história.

_ Credo, Amália! Tem que parar de conviver com a internet. Olha deu linguajar... Comporte-se! _ Ivy repreendeu a vó.

Amália sorriu, queria a reação que recebeu. Se a neta queria uma história, ela daria uma história. Pena que não foi o enredo esperado pela menina, que deixou a vó em companhia de seu médico. Pandora já voltava para ficar ao lado de sua irmã. Verdade fosse dita: as duas estavam se roendo de curiosidade, mas ninguém queria levar toco de Amália, que não hesitaria em distribuir uns.

A senhora foi acompanhada pelo médico para sua sessão, enquanto as netas conversavam pelos corredores.

_ Não tinha marcação na foto? _ Questionou Dora, que era uma das mais curiosas com tudo.

Ivy debochou, afinal; foi a única capaz de dar um índice de que interrogaria a avó, coisa que Dora nem tentou fazer.

_ Ah, quer dizer que a madame já está querendo saber da vida alheia? Não foi isso que demonstrou no carro...

A menina estava bem chateada.

_ Ah, para, Ivy. Você achou mesmo que a Amália amaria ver a gente se metendo em sua vida? Ninguém gosta disso! Eu só quis parecer sensata, coisa que você nunca é. Mas é claro que tô querendo saber do date.

Pandora não era lá a pessoa mais ansiosa se tratando da vida alheia, mas não podia negar que estava bem interessada, assim como todos da família Dias, nos rolês envolvendo dona Amália, que sempre se mostrou uma pessoa tão reservada. Expor assim um provável acompanhante... É de se levantar muitas questões mesmo.

O namorado de Amália - Conto Onde histórias criam vida. Descubra agora