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ENZO

Espanha, 25 de Março de 2024.

Suspiro.

Mais um dia cheio de compromissos.

Ao mesmo tempo que é cansativo, acho tudo que está acontecendo em minha vida, bastante gratificante.

De garoto invisível em Montevideo, para o "novo fenômeno global", como dizem algumas revistas e jornais.

O caminho até aqui não foi nada fácil, apenas minha família, alguns amigos mais próximos e eu sabíamos o quanto eu batalhei para chegar onde estou hoje. E serei eternamente grato a todos que me incentivaram a nunca desistir do meu maior sonho.

Entro em meu quarto de hotel e me deito exausto na cama.
Uma sensação estranha está rondando a minha mente desde a parte da tarde. Um incômodo, como se eu fosse receber alguma notícia importante.

Balanço a cabeça negativamente,  tentando espantar essa sensação, porém em vão.

Suspiro pesadamente indo em direção a varanda, enquanto acendo um cigarro.
Observo o céu estrelado dando mais um trago, e involuntariamente me lembro de Elisa me repreendendo por fumar.

"-Isso ainda vai te matar, Vogrincic.- ela sorria enquanto tirava o cigarro dos meus lábios e o levava delicadamente para os dela.

- Idem chiquita. - aperto a ponta do seu nariz. - sua avó te mata se te pega fumando.

- Eu não sou mais criança,  ainda não percebeu?- seu sorriso estampava seu rosto, enquanto apagava o cigarro em um dos cinzeiros que tenho espalhados pelo meu apartamento. "

Às vezes a saudade que sinto dela surge de maneira bem intensa, mas não tenho coragem de entrar em contato com ela.

Sinto meu celular vibrar no bolso da minha calça e isso me trás de volta a realidade.

Era minha irmã, Viviana:

- Boa noite, Vivi.- sorrio. - que milagre é esse me ligar? Sempre conversamos apenas por mensagens.

- Enzo, infelizmente não tenho uma notícia boa. - suspira pesadamente. - Talvez seja bom você vir para casa.

- É algo com mamãe, com papai?- pergunto preocupado. - Com você?

- Não, graças à Deus estamos todos bem.  É Margaret, infelizmente ela faleceu essa tarde.

Não consigo ouvir mais nenhuma palavra da minha irmã.

Margaret era uma das pessoas que mais   acreditaram em meu talento e sempre me incentivou a correr atrás dos meus sonhos.
Ela era diretora de teatro em Montevideo e seu pai foi fundador da companhia teatral Comédia Nacional, onde participei de diversas peças durante a minha adolescência até conseguir ingressar no casting de " A sociedade da Neve."

Eu precisar me despedir dela, mesmo sabendo que a sua neta não ficaria muito feliz ao me reencontrar.

Cinnamon GirlOnde histórias criam vida. Descubra agora