Capítulo Dois: Aquele Momento Em Que Natália Se Aborrece

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Natália posicionou a câmera no tripé e a deixou preparada antes de se aproximar do corpo miúdo no cenário sobre uma base de madeira maciça.

- Vamos esperar ansiosamente que ele não acorde.

Gentilmente, ela pegou uma escova macia na bolsa de cintura agarrada ao próprio quadril e se curvou, passando-a pelos fios finos do cabelo do nenê que dormia profundamente. Felizmente, ele não deu sinal algum de que estava incomodado, apenas alguns espasmos involuntários se faziam presentes.

- Em casa ele não fica assim. - Luísa, a mãe do pequeno João, comentou, completamente apaixonada. - Ai, eu estou tão ansiosa.

Natália sorriu, mas extremamente baixo. Qualquer movimento impensado ou estalo seria capaz de atrapalhar toda a sessão, que já tinha sido marcada com bastante antecedência e, somente por isso, Natália queria que fosse perfeito.

Ela guardou a escova no bolso e se afastou, voltando para o tripé somente para pegar a câmera e começar os primeiros cliques. De posições em posições, ela foi ajustando o bebê. Desde a fotos sentado numa pequena cadeirinha, até abraçado aos ursinhos de pelúcia.

- Uhm, que cheiro estranho. - Natália chiou, incomodada. - Uhm, já sei... Acho que temos uma supresa hoje.

Ela puxou a pequena coberta branca que cobria as costas do João e sorriu vendo uma mancha nada agradável sobre o tecido branco. Ela olhou para Luísa que se aproximou dela e mostrou a obra.

- Acho que a arte da fotografia inspirou o seu filho.

- Você pode fotografar? - A mãe indagou, divertida. - Eu vou querer mostrar isso pros amigos dele na época de adolescente revoltado.

- Pode deixar.

Ela riu internamente sabendo exatamente como o pobre João se sentiria no futuro sobre isso. Principalmente porque os amigos de Natália faziam o mesmo quando era sobre seus micos no passado. Aparentemente, a cena da maconha jamais seria esquecida.

Entre algumas brincadeiras, ela tirou as fotos e deixou que a mulher pegasse o bebê. Se ficasse mais um segundo daquele jeito, certamente o cheiro inundaria terrivelmente todo o espaço. Natália ficou supresa de como um ser tão pequeno era capaz de fazer algo tão desastroso.

O relógio na parede marcava dez da manhã e elas já estavam ali desde às oito. Conferindo o computador tempo depois, elas já tinham mais de trezentas fotos, o que era o máximo do pacote.

- Bom, chegamos ao fim. - Luísa concordou, terminando de vestir o nenê e o segurou entre os braços. - Você quer dar uma olhada nas fotos?

Luísa concordou rapidamente, sem pensar duas vezes. Natália ofereceu a cadeira para ela e deixou que as fotos passassem como em um slide. Elas conversaram durante alguns minutos, compartilhando opiniões e, como sempre, ao final da amostra, Natália foi muito bem elogiada.

Logo eles se preparavam para ir embora e, quando Luísa parou diante da porta, Natália resolveu perguntar:

- Eu gostaria de saber se posso ficar com alguma fotografia dele. Todos os anos eu faço uma exposição numa galeria e queria que me permitisse.

- Sério? Que legal!

- É pra uma ação beneficente. - Natália voltou a dizer. - Quero deixar claro para saber que não lucro com a imagem dos outros. Não necessariamente.

- Por mim, tudo bem. - Luísa sorriu para ela. - Obrigada pelas fotos. Espero poder te encontrar em breve.

Mais tarde, exatamente às onze e vinte da manhã, ela já estava cansada. E não tinha certeza se seria capaz de aguentar o próximo trabalho, esse já mais diferente. Ela limpou todo o estúdio, assim como a bagunça dos materiais e se ocupou com as edições das fotos até às uma da tarde, onde suspirou feliz ao enviá-las para Luísa. Felizmente tudo tinha dado certo e os seus três primeiros trabalhos do dia já tinham sido concluídos. Agora ela teria que voltar pra casa e arrumar algo para comer.

Aquele Momento do Depois • NarolOnde histórias criam vida. Descubra agora