Eldia

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┃❛ ─ A terra nada mais era do que um abrigo para nós, um recipiente extraordinário, e a destruímos com esta guerra. ❜

As palavras de alguém distante ainda rondava em minha cabeça, tão novo e sem entender nada, vi um mundo cheio de vida ser esmagado como uma simples formiga que estranhamente soou como algo crocante, como se em um instante os milhares de ossos e tudo de um ser humano tivessem sido esmagados. Separando seu corpo em pequenos fragmentos até virar pó, a vida quase perfeita que tinha se desmanchou naquele fatídico dia, em que minha tia gritou para nós em desespero dizendo para que fizéssemos uma nova brincadeira antes de terminar a que estávamos fazendo, nos esconder, algo que com grande falha tentava nos salvar do inimigo porta a fora.

A tristeza em seus olhos por este dia por fim ter chegado lhe abalou, as coisas que carregava em suas mãos caíram ao chão em instantes, quebrando tudo em vários estilhaços do que anteriormente era. Seu desespero gritando e coração palpitante, podia-se dizer que ele havia alcançado os limites que jamais tinha alcançado antes, até mesmo em seus momentos mais íntimos com alguém, ela sentia como se seu coração fosse explodir caso não subitamente parasse de bater. Pensava e repensava em rápidos instantes o que havia feito de errado para aquela cena toda estar acontecendo, percebendo os mínimos detalhes de sua vivência conosco, mas falhava em achar algo por conta do culpado nisso tudo não ter sido ela mas sim um de seus protegidos.

  Seu plano improvisado foi jogado ao lixo sem piedade alguma quando passos com botas de borracha firmemente caminharam até o lugar onde estávamos. O desespero em pouco tempo também me envolveu com rapidez e no golpe de realidade que tudo iria se desmanchar sob aquele simples momento de nossas vidas, fiz o inimaginável de minha parte acontecer ante aos olhos do inimigo e de meu irmão menor, com tão pouco tempo, consegui perfeitamente elaborar algo para que apenas eu não sobrevivesse ante aquele súbito ataque dentro de nossa própria casa, mostrei a todos daquele cômodo minhas habilidades e invenções que tanto cultivei.

Mas em pouco tempo meus pensamentos de estratégia mudaram quando vi a pior cena que uma pequena alma como a de uma criança pudesse ver e engoli o choro quando novamente passei pela sala de entrada, eu não seria o único a não sobreviver daquela estranha família composta por simples estranhos um para o outro. Ante toda a cena eu tinha de ser forte para aguentar o árduo castigo de ter visto o que não deveria e desobedecido às regras da velha e improvisada casa de madeira antiga. Ainda assim, não podia evitar de tentar conhecer o mundo a fora que tanto me privaram de conhecer e mesmo tendo os poucos bens materiais que tinha, alguns até faltantes, a curiosidade nunca me faltava sobre os mistérios que adultos sequer sabiam que existiam.

  Ingenuidade, a falha no qual todos nascemos com e nos separamos dela quando crescemos, ou quando simplesmente temos o terrível choque da realidade do nosso ao redor. Meu quarto era cheio da antiga ingenuidade, coisas e até mesmo roupas, a ingênua curiosidade e impulsos por vozes falando em minha cabeça, no qual cada uma delas falava: “faça-o e ninguém perceberá”, eu nada mais era do que um pequeno cientista ingênuo e ladrão que tentava proteger os pequenos dias de felicidade que tinha. Mas nada doía mais do que o baque da dura realidade que sempre sobressaiu sob meus interesses e toda a sociedade impura que vivíamos.

Roubando até mesmo a felicidade alheia, o fogo de toda aquela guerra pegou o resto que sobrava dos sem condições, devastando não só nossos olhos ou corpo, mas também a terra onde vivíamos nossas pequenas vidas sem tanta importância para governadores ou pessoas acima de nós. Se até mesmo o ar era vendido na época da primeira guerra, quem diria sobre soldados bem treinados ou os que nem sequer tinham idade para tal, como eu, quando ainda tinha os vividos sonhos que seríamos felizes juntos como uma verdadeira família.

「 ᴘʀɪɴᴄᴇ ᴏғ ᴛʜᴇ ᴜɴᴅᴇʀᴡᴏʀʟᴅ 」Onde histórias criam vida. Descubra agora