Agora com o gato, Charlotte já não reclamava muito da falta das fotos que esquecera de pegar quando saira de casa; estava concentrada no bichano que rapidamente se apegou a ela, por isso, a acompanhava a todo lugar:
– Que gato engraçado. Não é arisco como os outros. N'é Charlotte?
– É, e ele é muito fofo.
– Com toda certeza, mas ainda estou incerta se ele vai ser uma boa adição à viagem.
– Já disse que ele não deve comer muito.
– Não é isso, é que ele já deve ter algum dono.
– Ele estava na rua, ora essa. Quem seria o dono dele?
Então um velho observou a situação e gritou:
– Aonde vão com este gato?
– Minha nossa! – Respondemos no susto.O velho era um médico aposentado muito bem apessoado, se chamava Dimas e vivia acompanhado de um cuidador oriental chamado Ping. O velho estava a procura de um filhote de gato que havia fugido de sua casa naquela manhã, e por ironia do destino, o gato era o Bigodinho.
Fomos à casa do senhor, era um lugar espaçoso e bonito no seu interior. Próximo ao canto da sala de estar estava uma cama de gato vazia:
– Sabe, esse filhote é filho de uma outra gata que tive, Nina era seu nome.
– Senhô Dima, gostava di gata Nina. – Disse Ping.
– O que houve com ela? – Perguntou Charlotte com um olhar inocente.
– Nina vivia doente; após engravidar e dar luz, não suportou e veio a falecer a algumas semanas.
– Oh! – Charlotte se espantou, ela amava todos os animais, nunca conseguira suportar nem sequer a morte do Bigode, o gato do vizinho.
– É algo que acontece e não tem o que fazer... – Ponderou Dimas.
– Em China, quando Ping cliança, Ping tê gato, Miaô. Miaô moleu quando Ping fazê 16.
– Então o pobre Bigodinho é órfão?!
– Infelizmente sim. Teve sorte de ter conhecido a mãe por cerca de uns 2 dias.
– Isso é terrível! – Disse Charlotte.
– Sim é, e por não ter mãe não deixo o gato sair de casa, ele não tem a malícia necessária para que se cuide nesse mundo.
– Ora, ele precisa aprender alguma hora! – Disse eu, quebrando meu silêncio.
– Sim, mas não tenho tempo de lhe tomar conta quando sair de casa, nem sequer tenho aptidão física para isso.
– Então ele deve vir conosco! – Respondi.
– Sim! – Disse Charlotte, com entusiasmo.
O Dr. Dimas então pensou sobre a situação por alguns segundos; tomou um gole de café e disse:
– Vejo que ele gostou de vocês, quando eu cuidava dele, ele sequer tinha nome, acho que se levarem ele poderão cuidar melhor do que poderei cuidar nesses meus últimos anos...– Só me digam uma coisa, aonde pretendem ir?
– Bem... N...
– Vamos para Santos. De lá iremos para a Europa! – Disse Charlotte, me interrompendo.
– Pois bem então. Ping, providencie uma viagem para as duas em direção a Santos.
– Sim sinhô!
Ping saiu e retornou com duas passagens em um navio que iria para a Argentina, mas faria uma parada em Santos. Nos dirigimos ao porto onde estava ancorado o navio que nos levaria para nosso próximo destino. Nós estávamos surpresas, o velho Dr.Dimas não nos conhecia, era muita a sua empatia, foi um homem bom que nos ajudou no primeiro momento em que não tínhamos ideia do que fazer.
Antes de partirmos no dia seguinte, o Dr.Dimas chamou Charlotte e a entregou um envelope Cheio de dinheiro:
– Ora. Não podemos aceitar isso Dr.Dimas!
– Claro que podem, já tenho muito disso, trabalhei anos por isso, por isso faço o que bem entendo com isso, logo darei para vocês.
Charlotte então despediu-se do velho e entrou no barco, que saiu para Santos naquela tarde. Já no convés, podíamos ver Ping abanando o braço direito, como se estivesse se despedindo. Charlotte pegou Bigodinho e balançou sua pata como se ele estivesse despedindo-se de volta.
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Minha Prima Charlotte
Proză scurtăUma jovem moça envia uma carta para seu seu pai relatando sobre uma grande viagem que fez junto de sua prima Charlotte, no interior da Europa no periodo Pré-Primeira Guerra Mundial.