Sei que não é o modo mais adequado para me apresentar, mas me chamo Lucas Garcia, sou alto, loiro de olhos azuis e com um sorriso que faz qualquer perua cair sobre meus pés e... Espere um pouco! Esse não sou eu, sou o nerd que usa um óculos fundo de garrafa e senta na primeira carteira encostada na parede, tenho um cabelo preto liso todo despenteado e os olhos castanhos escuros, nada muito extravagante. Tenho 16 anos, a idade em que a minha vida social foi parar no buraco.
Estava caminhando nas ruas frias daquela pequena cidade isolada, ouvia uma música lenta que parecia se mesclar com o sentia naquele momento. Mais um dia cinza e miserável na chata e monótona cidade em que moro, é estranho pois nem torço mais pela chegada das ferias. Benditas pessoas fechadas e solitárias, mal consigo andar ser saber de alguma noticia ruim que se espalha como fogo.
Lembro-me como se fosse ontem, do último suspiro em que minha mãe dera, as lagrimas pesadas sobre o carpete preto agora vermelho por conta das poças de sangue. Não há angústia maior que ver a mulher que te deu a vida sendo levada sem piedade pelas garras da morte. Espero nunca passar isso de novo, meus pesadelos me atormentam todos os dias, parece que estão cravados em meu travesseiro e gravados com brasas em meu coração. Que Deus tenha piedade das almas ruins, mas a alma dela era tão boa que Ele mesmo a quis por perto.
Chegando na casa de minha tia, escuto o ranger das dobradiças do velho portão enferrujado. As gotas de orvalho estavam sobre a grama esverdeada do jardim em que não era cortada faz um tempo. Subo os degraus da sacada e bato duas vezes na porta de madeira antes de entrar.
-Tia Lucia?! - Pergunto com a voz falhada por conta do frio.
Jogo minha mochila no chão ao lado da porta e penduro meu casaco no mancebo de madeira a minha direita.
-Estou aqui, querido. -Disse tia Lucia da sala em que estava sentada tricotando e assistindo novela.(sim, ela é um tanto careta) - Como foi o último dia de aula?
-Foi legal, nada de importante. -Disse entrando na cozinha.
A casa era pequena e tinha cheiro de madeira velha com pano mofado e um leve toque de incenso, mas pelo menos poderíamos chamar de "casa-da-tia", você geralmente dorme lá por não ter um lugar pra ficar.
-Tem chocolate quente na leiteira. -Disse ela olhando para mim com os óculos na ponta do nariz fino. -O que aconteceu no seu olho?
Puts, tinha me esquecido que tinha apanhado na escola hoje, uns meninos começaram a me encarar e vieram na saída me bater, acabei saindo com um olho roxo.
-Eeeer... Nada Tia... Eer... Eu bati o rosto num poste antes de chegar aqui. -Droga, sempre menti muito mal.
-Uhun, sei... Postes...
Peguei uma xícara de chocolate quente e um prato de biscoitos e subi para meu quarto. Ele ficava no "sótão improvisado", apenas tinha um colchão e uma escrivaninha com alguns livros, mal conseguia ficar de pé no cômodo.
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O último por do sol
RomanceMinha vida é um tédio. Sempre as mesmas pessoas, as mesmas lojas, os mesmos carros, os mesmos animais, as mesmas árvores... Nada mudou, moro com a minha tia Lucia em uma cidade muito afastada, só vim parar nesse buraco por conta da morte da minha mã...