[1859 palavras]
OLGA
Eu estava de mau humor enquanto tentava, com muito esforço, não estrangular Otávio com minhas próprias mãos. Ele tinha suas razões para me questionar; afinal, fazia anos que não víamos o desembargador, e de repente, eu o arrastei para o casamento de nosso pai ausente. Agora, estávamos voltando, e meu irmão me irritava profundamente. No carro apertado, não havia espaço suficiente para nos afastarmos e eu conter minha raiva.
O céu refletia meu estado de espírito tempestuoso, e a força da tempestade nos obrigou a parar no acostamento. Um relâmpago iluminou o céu chuvoso, dissipando temporariamente minha vontade de cometer um fratricídio. Logo em seguida, um trovão ensurdecedor me fez pular no banco do motorista, no meio da forte tempestade.
— Olga, por que aceitou o pagamento do desembargador? — perguntou Otávio.
Otávio não sabia quão vil nosso progenitor era. O desgraçado nos ofereceu 15 mil reais para cada um de nós, caso não aceitássemos a proposta, ele iria contratar atores para se passarem por seus filhos. Sua atual esposa não nos conhecia e não saberia que os atores não eram realmente seus filhos. Permiti que fôssemos usados pelo desembargador porque o dinheiro seria usado para pagar a faculdade do meu irmão, já que minha conta no banco estava negativada.
Eu estava à beira da falência, pois Otávio decidira que ser clínico geral era pouco para um Freitas. Não o culpava. Antes de seguir seu rumo, ele me perguntou se o apoiaria na empreitada de se tornar neurocirurgião. Muitas vezes eu dizia não a ele. Mas, quando ele perguntou se o apoiaria para se tornar neurocirurgião, decidi que sim!
Quando aceitei a loucura de tornar meu irmão um médico neurocirurgião, minha conta bancária não conseguiu acompanhar. Mesmo com o desembargador sendo uma desgraça, Otávio valia a pena. Negociaria com o próprio rei do inferno para alcançar aquele objetivo. Ainda que fosse cansativo, era necessário.
— O dinheiro que aquele canalha nos deu é uma pequena porcentagem do que ele nos roubou — disse eu.
— Já te falei que podemos processá-lo para reivindicar a fortuna que é nossa por direito.
— Não tenho grana para bancar um advogado e manter sua faculdade. Confrontar o desembargador nos colocaria em evidência e nossas vidas em risco. Não precisamos ser vistos agora, e não tenho dinheiro para fazer algum advogado colocar a carreira em risco.
Os olhos azuis de meu irmão se estreitaram furiosos em minha direção.
— Você sabe que eu poderia trabalhar mais para ajudar...
A gargalhada irritada subiu por minha garganta e interrompeu a falácia do meu irmão. Ele me olhou surpreso.
— Claro que pode. Afinal, você é o Superman? Não, você é um vampiro que nunca dorme. Você está cursando uma especialização médica e ainda faz uma residência. Ainda quer trabalhar mais? Isso só daria certo se você jamais dormisse, tipo um vampiro! Adivinha, Otávio? Você não é um vampiro. Então cale a boca e pare de encher a minha paciência. — Disse, irritada. — Você sabe melhor do que ninguém que a herança de nossa mãe está manchada com o sangue dela. Por anos, fui suficiente. Mesmo que tenha que ralar por mais um tempo, não quero o desembargador perto de você e nem de mim. Entendeu?
Ele soltou um suspiro cansado e pesado, fazendo meus olhos castanhos pousarem nele. Impaciente, ele passou os dedos entre os cabelos castanhos, bagunçando-os.
— O desembargador não tem esse poder paternal sobre mim, não o reconheço como pai, Olga.
— Ótimo. Só mostra que fui fabulosa e criei um homem de respeito.
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SOB A NÉVOA
RomanceEm uma noite tempestuosa, ao retornar para a capital de São Paulo, Olga encontra um estranho quase morto em sua casa. Antes que possa reagir, a casa é invadida por homens mascarados, e ambos são sequestrados. Forçados a conviver, Olga e o estranho d...